O Brasil se apresenta ao mundo como um país moderno: não é. Nossa imagem lá fora se reduz a algumas mulatas de peito de fora sambando no Carnaval, símbolo de uma “irreverência” para gringo ver. Ora, nem o topless pegou nesse Brasil com 8 mil quilômetros de orla. Se uma mulher tirar a parte de cima do biquíni na praia, vão dizer que é coisa de comunista.
Tudo que sai do quadrado é coisa de comunista. Amamentar em público, adoção de crianças por casais homoafetivos, debater as mudanças climáticas, exposições sem censura, lutar pelos benefícios dos trabalhadores, oportunizar aos negros as chances de ascensão que não tiveram, respeitar a sexualidade de cada indivíduo. Tudo que alinharia nosso país com os mais avançados, aqui é visto como coisa de comunista por quem acredita que só se evolui por meio da economia.
Precisamos de uma economia forte, gerar empregos e combater a corrupção: quanto a isso, estamos de acordo. Divergimos é na visão social, quando fica evidente nosso subdesenvolvimento. O exemplo está aí, nas declarações da futura ministra dos Direitos Humanos, que tenta nos alinhar com o que há de mais retrógrado.
É muito difícil mudar a mentalidade de um país. Fomos criados achando que existem cidadãos bem nascidos, tementes a Deus – e o resto. Achando que uma pessoa que ama alguém do mesmo sexo é uma aberração, e que se alguém não se sente feliz dentro do próprio corpo é por falta de laço. Achando graça quando um homem diz que não sabe por que está batendo, mas a mulher sabe por que está apanhando. Achando que se gays forem vistos se beijando numa festa nossos filhos vão “querer” ser gays também.
Sabe o que aconteceu nos últimos anos? Avançamos muito. Não é fácil assimilar novos padrões de comportamento, mas eles se impõem. Não fosse assim, as mulheres ainda estariam casando virgens e aprendendo bordado em vez de fazerem faculdade. Já tivemos a revolução industrial, a revolução feminista e estamos em plena revolução tecnológica – não há como deter o futuro. No máximo, atrasar sua chegada. É o que acabamos de fazer: demos poder a quem despreza a evolução dos costumes, e lá vamos nós para o fim da fila, perder um pouco mais de tempo.
Chovendo no molhado: ninguém precisa ser gay, ninguém tem que assistir a uma exposição que lhe choca, ninguém tem que abrir mão da sua religião, ninguém é obrigado a fazer aborto. Você é livre para ser quem é, e, se for uma pessoa justa, vai colaborar para que os outros também sejam, reduzindo os conflitos. O Brasil gosta de se apresentar como um país feliz, então vale lembrar que a felicidade é leve, arejada e expandida. Ninguém é feliz sendo repressor e reprimido. Não vejo nenhum caminho de progresso para o Brasil se seguirmos agindo como bobalhões infantilizados que se recusam a amadurecer.
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