Nada mais redundante do que dizer que se é fã de Gustavo Kuerten. Quem não é? Um garoto catarinense, até então desconhecido, foi a Paris e venceu três vezes um dos maiores torneios internacionais de tênis, o Roland Garros, isso aos 20 e poucos anos. Em vez de retornar com o peito inflado por ser o novo herói nacional, tratou tudo como se fosse uma inesperada aventura – sem jamais esquecer de agradecer a seu treinador e sua família.
A partir daí, intensificou sua responsabilidade social, promovendo o esporte entre crianças e adolescentes. Deveria ser regra, mas até hoje esse comportamento é tratado como exceção.
Guga é um campeão nato: já começou dando certo por sua maneira de encarar a vida. Claro que teve que ralar muito até chegar aonde chegou, nada foi de mão beijada, nunca é. Mas não se tornou um obcecado.
Ele tem dito, em entrevistas, que não tinha noção da grandiosidade de Roland Garros quando derrotou os maiores do mundo.
Sorte dele. A ausência de deslumbramento e a manutenção do foco costumam ser o segredo de gente vencedora.
Impossível não recordar de um vídeo que tem circulado nas redes sociais, a de um técnico de basquete da Lituânia que dispensou uma das estrelas do seu time para que fosse assistir ao parto da esposa, mesmo estando em meio às eliminatórias de um campeonato. Quando um jornalista, durante uma coletiva, questionou a atitude do técnico, recebeu uma situada: títulos não são tão importantes, não diante de algo muito maior, como o nascimento de um filho.
No fim das contas, a gente mete os pés pelas mãos por não conseguir dimensionar o que é valioso de verdade. Dinheiro, poder e status: de tanto colocarmos essa tríade acima de tudo, nossa história de vida se torna miúda, mesquinha, com uma pseudomagnitude, porém pobre em afetividade, decência, alegria, humanismo, diversão. Vejo esses bandidos engravatados que não saem das primeiras páginas dos jornais, passando vergonha pública, e me pergunto do que adiantou tanta ganância e soberba, qual o orgulho que restou agora que estão sendo desprezados por uma nação inteira e tratados como os ladrões que de fato são.
Os 20 anos da primeira vitória de Guga em Roland Garros têm mesmo que ser celebrados e trazê-lo de volta para os holofotes, a fim de lembrar a todos nós um cálculo que não envolve milhões nem bilhões: competência + gratidão + consciência do papel que representa = admiração plena de todos os brasileiros. Essa é a conta que fecha.