Minha profissão traz poucas inconveniências e muitos prazeres, o que torna o saldo altamente positivo. Uma das coisas a celebrar é o contato que tenho com pessoas que, mesmo desconhecidas, estabelecem comigo uma intimidade enriquecedora. Foi o caso de uma garota (acho que ainda posso chamar uma socióloga de 45 anos de garota) com quem tive uma adorável conversa dias atrás, no Rio de Janeiro. Ela me contou sobre seu primeiro casamento e sua primeira separação, do quanto ficou abalada, de como fez para se reerguer, de como foi o processo todo. Fez um relato comovente de tudo o que aconteceu, mas não pude deixar de ajustar o foco num detalhe rápido que ela mencionou, daqueles que a gente costuma deixar passar batido. Em meio ao turbilhão de emoções que ela narrava, me disse: "Depois do fim, eu já nem sabia direito quem era, nunca usei sutiã e de repente comecei a usar".
Encontramos metáforas onde menos se espera.
Separação: tem desamparo maior? Uma aposta que parecia estar dando certo de repente começa a fazer água, alguém que para você era a pessoa mais importante do mundo perde o protagonismo, a vida estruturada se dissolve, o amor dá lugar à mágoa, e mesmo quando não há mágoa ainda assim existe um abismo para se atravessar antes de chegar ao outro lado. Você precisa reconstruir sua identidade, não é mais a esposa de, o marido de, o amor da vida de alguém. As declarações não se sustentaram, as promessas não vingaram, o destino foi mais forte que a idealização: fez cada um seguir carreira solo. Depois de tanta luta, tanta negociação, tantas tentativas de manter o acordo, chega a hora em que é preciso entregar os pontos, não há mais o que fazer a não ser partir e tentar de novo com outro alguém, quando as forças voltarem.
Mas, até que elas voltem, quanto medo. Da solidão, da saudade, do rumo desconhecido. Você agora é um, não dois. Já não tem quem segure sua mão. Está solto. E essa soltura assusta. E se eu cair?
Um sutiã pode ter um significado oculto. Funcionar como um abraço apertado. Uma amarração. Não usá-lo sempre foi uma atitude libertária, até que, um belo dia, você descobre que a liberdade virou um bicho-papão e você voltou a ser uma menininha assustada. O que mais deseja é se sentir presa, segura, acolhida.
O desafio das separações é fazer com que voltemos a nos sentir confortáveis com a soltura dos dias, confortáveis diante da incógnita do futuro. Não sei no que os homens se seguram quando se separam (minto: sei, sim), mas grande parte das mulheres recomeça a vida emocional se segurando nelas mesmas. Só então, aos poucos, iniciam outra revolução, uma nova queima de sutiãs, a fim de formar uma identidade mais firme que a anterior.