Nada contra os youtubers, até tenho amigos que são. Brincadeirinha. Nada contra os youtubers, até porque basta não dar audiência para aqueles que não interessam e não acrescentam, independentemente de seus milhares, milhões de seguidores.
É direito assegurado ao mais anônimo dos mortais ser um youtuber. Basta criar um canal e, no mais das vezes, ter cara de pau suficiente para colocar seu conteúdo no ar. É assim que a internet está cheia de canais de todos os tipos e ênfases. Há os que debatem exaustivamente filmes, séries, futebol e política. Há os que ensinam a fazer pequenos consertos em casa e até um foguete espacial. Há os que passam receitas de comida, crochê, tricô, corte e costura, pintura, literatura, tudo pode ser ensinado em um canal no YouTube.
Uma senhorinha muito simpática quase matou seus seguidores ao divulgar uma fórmula emagrecedora que, segundo ela, fazia qualquer um perder 20 quilos em um dia. Imagine por onde esses 20 quilos saíam. As dicas para tirar manchas de alguns canais são realmente eficientes, misturas cáusticas que fazem a mancha desaparecer em segundos. E a roupa também. Tem youtuber exorcista, youtuber hipnotizador, youtuber tântrico, youtuber surubeiro, youtuber coach, youtuber consultor de tudo. E tem youtuber que reage a youtuber, como o Casimiro Miguel, grande sucesso desses nossos dias youtubers.
De todo esse interminável leque, o que mais me intriga são os youtubers que, do nada, viram expressões políticas por conta do que fazem em seus canais na internet. Em geral, tosquices que nem como piada serviriam.
O tal do Mamãe Falei, ridículo desde a alcunha pela qual ficou conhecido, ganhou fama por aparecer em eventos de universidades, escolas, exposições, lançamentos de livros e qualquer outra ocasião em que pudesse provocar os que não comungavam de sua filosofia tradição-família-propriedade.
Levou muito cascudo, pontapé e pescotapas, perfeitos para aumentar sua fama de defensor de... de... de que mesmo?
Ligado aos jovens de sapatênis do MBL, contra a Lei Rouanet, discussões de gênero etc, só podia se eleger o segundo deputado estadual mais votado de São Paulo nas eleições que fizeram o Brasil dar muitos passos para trás em tudo, na política, na economia, na educação, na saúde, na cultura. O Brasil que, de repente, passou a ter orgulho da truculência e da ignorância.
Então, na semana passada, já pré-candidato ao governo de São Paulo, o tal do Mamãe Falei viu sua imagem – construída na base de uma moralidade anos 1940 – se espatifar em mil pedacinhos, estilhaços tão pequenos que nem um youtuber especialista em colagem avançada conseguiria ajudá-lo a juntar os cacos.
Os áudios que ele mandou para um grupo de amigos (muy amigos) já são suficientemente conhecidos, nem precisa replicar. Fico só com a parte do “elas são fáceis porque são pobres”, ao se referir às refugiadas de guerra na Ucrânia, país que ele supostamente foi servir em sua missão humanitária de fazer coquetéis molotov e turismo sexual.
Depois do vazamento, o tal do Mamãe Falei já desembarcou no Brasil sem namorada, corrido do palanque do Moro, sem chances ao governo de São Paulo e com alguns milhares de seguidores a menos, todos decepcionados com a moral de cuecas de seu ídolo.
Imagino o ex-futuro governador e atual solteiro chegando na casa da família, depois do acontecido. Rabinho no meio das pernas, porque gente assim é muito valente quando se trata de atingir os mais vulneráveis. Ele atravessa o condomínio sob os olhares dos vizinhos, muitos ex-eleitores. Toca a campainha. Abre-se a porta. E ele:
— Mamãe, defequei.