Em vez das escolas nos sambódromos, o desfile de blindados. Lá se foi mais um Carnaval com toques de pandemia e, neste ano, com o tristemente esperado evento de uma guerra, para tirar toda e qualquer fantasia dos noticiários. No lugar dos foliões na rua, milhares de refugiados.
A melhor definição sobre a guerra é a da ilustradora espanhola Laura Árbol, que desenhou, de um lado, A Origem do Mundo, o quadro clássico em que Gustave Courbet escancarou o sexo de sua modelo na cara dos puritanos da época. Do outro lado, Laura desenhou um pinto mole com a legenda: A Origem da Guerra. Vale a pena ver no Instagram dela, @laura.arbol.
Da breve paz promovida – coincidentemente ou não – pelo presidente, com direito a um telefonema de duas horas que não houve, até as análises que pipocam no WhatsApp da gente a todo instante, uma certeza: vivemos a era dos especialistas em leste europeu. Sem querer fazer injustiça, a maioria não exatamente sabia onde ficava a Ucrânia, até o começo dessa desgraça. Mas agora discorre com o tom de professora das antigas de uma Eliane Cantanhêde sobre a situação geopolítica daquele parte do planeta.
Para não incorrer na mesma inconveniência, e apesar da tentação, essa humilde coluna fica em assuntos mais terrenos. Por exemplo, algumas observações sobre a praia, depois de dois anos pandêmicos sem botar o pé em uma.
A praia é o território dos descuidos, alguns inofensivos. Certas roupas de banho, depois do mar, viram um quadro ao vivo de Gustave Courbet. Deve ser por isso que algumas sungas brancas vêm com estampas estratégicas na frente, e a melhor de todas vi nessa temporada: "Ame-o ou Deixe-o", e ainda com glitter na estampa. Impossível não olhar uma vez. Duas vezes. Três vezes. Para ser sincera, estou olhando até agora.
Descuido com a natureza: bitucas de cigarro, espigas de milho, canudos de plástico, latas, copos, papel de picolé, até fralda descartável. No final do dia, um tapete de sobras sobre a areia. O que esperar do porcalhão que não se digna a colocar seus restos no lixo?
No capítulo das imprudências, segue o hábito de ir até as rochas que parecem tão pertinho, logo ali, no mar. Vai a turma toda, tomando caldo das ondas mais fortes, e fica se divertindo nas pedras, lagarteando no sol, dona da imensidão. Na hora de voltar, a praia parece bem mais longe e o fundo do mar, bem mais fundo. Haja sangue frio – e a ajuda dos salva-vidas – para sair da enrascada.
E as pessoas perdidas? Parece que esse foi o verão em que mais adultos se perderam nas praias. Deve ser efeito do confinamento, tanto espaço deu um nó na cabeça do povo.
Até onde se sabe, todos reencontraram as famílias. Mas não se descarta que, daqui a alguns anos, o pai bata na porta dizendo que entrou no mar em Mariluz, saiu em Paraíso e levou aquele tempo todo tentando achar o caminho de casa. Uma versão atualizada do foi comprar Hollywood e só tinha Minister.
Caixas de som. Viu o caso do sujeito que chegou no Leblon com uma enorme caixa de som e botou um tum-tum-tum para tocar na areia? Acabou em pancadaria. Sou contra todos os conflitos, no leste europeu e onde for, mas essa briga tem meu apoio. Qual artigo da Declaração dos Direitos Humanos permite que alguém ouça pé na areia/a caipirinha/água de côco/a cervejinha em looping, o dia inteiro, no volume máximo, independentemente dos ouvidos dos outros? Todos os homens são iguais (arrã), mas alguns têm caixas de som do tamanho de uma geladeira. Azar de quem pegar praia ao lado deles.
E, assim, entre as picuinhas de sempre e uma guerra que não dá mostras de terminar tão cedo, lá se vai mais um verão.