Viagem com o filho de uns cinco anos. Na hora em que a comissária avisou que “máscaras de oxigênio cairão automaticamente, coloque a sua antes de ajudar crianças ou pessoas com necessidades”, ele me disse:
— Não mesmo, né? Coloca primeiro em mim.
Além de me fazer rir, aquilo também me comoveu. Coloca primeiro em mim. Eu sou pequeno, não me deixa correr nenhum risco, passa logo essa máscara de oxigênio que eu tenho muita coisa para viver.
Quando eu me vacinei antes do meu filho – por óbvio –, lembrei dessa cena. Queria que o primeiro a se vacinar fosse ele, que tem tanta coisa para viver. Não que eu não tenha, não me entenda mal. Mas em caso de despressurização, preferia vê-lo salvo antes.
A pandemia já foi comparada a aviões caindo, uma quantidade enorme deles por dia. Ainda hoje, quase dois anos depois, seguem caindo um ou dois aviões a cada 24 horas – e esse número, que ainda é tão grande, só diminuiu por causa da vacinação. Que agora chegou, enfim, aos pequenos.
Minhas sobrinhas de 14, 15 e 16 anos estão vacinadas, viva. Amigas e amigos postam as fotos de suas filhas e seus filhos sorrindo sob a máscara na hora da picada, situação bem diferente da de quando eram levados aos postos de saúde para as vacinas obrigatórias da infância. Lembra a sinfonia? Parecia que o choro de um contaminava o outro. Quando a gente via, estavam todos chorando, mesmo os que nem tinham sido vacinados ainda. Fora os que choravam até para tomar a gotinha.
Adorava ver as fotos dos avós e pais alheios se vacinando, adoro ver as fotos dos adolescentes e crianças sendo imunizados. Traz a esperança de que o mundo, aos poucos, fique mais ou menos parecido com o que a gente conheceu um dia, e a certeza de que essa geração acredita muito mais na ciência do que em kits inócuos ou placebos para gado dormir. O que deve tornar menos doloroso o enfrentamento de uma nova pandemia (bate na madeira), no infeliz caso de uma delas atravessar novamente o nosso caminho.
Anticorpos contra o negacionismo ativados. Enfim, uma boa notícia.
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Outra boa notícia vem de Canoas: a Feira do Livro, que costuma levar grandes autores para a Praça da Bandeira, também vai ter atividades presenciais neste 2021 da vacina. Misturando o formato ao vivo com o online, a Feira, que acontece de 1º a 12 de outubro, tem confirmados nomes como os de Anna Mariano, Caetano Galindo, Eucanaã Ferraz, Eduardo Bueno, Heloísa Buarque, Isabela Figueiredo, Jeferson Tenório, José Falero, Luís Augusto Fischer, Nilson Souza, Paula Taitelbaum, Paulo Scott e muitos mais. Mário e Diana Corso são os escritores homenageados, e a patrona é Lilian Rocha, tudo com a curadoria de Luciano Alabarse. Para saber mais e participar: canoas.rs.gov.br.
Também a Feira do Livro de Porto Alegre terá programação ao vivo na edição que vai de 29 de outubro a 15 de novembro. E já que o ano é de retomada, nada como um patrono pop e esfuziante para garantir a alegria. Parabéns, Fabrício Carpinejar. A praça é tua.