Entreguei essa coluna antes do 7 de setembro raiar no horizonte, mas já com as cenas dos apoiadores do presidente invadindo a Esplanada dos Ministérios e prometendo fechar o STF. Também se vive para ver coisas desse tipo. Fico pensando se fossem outros, quaisquer outros, a invadir uma área de segurança. Seria o Festival Nacional da Bala de Borracha no Olho. Já nas imagens de segunda à noite, a própria polícia facilitou a entrada da horda.
Vendo as senhoras de cabelo pintado de loiro reaça, definição do jornalista Reinaldo Azevedo que me fez rir alto, todas elas de verde e amarelo, agressivas como onças famintas, sempre me pergunto: de onde vem tanta raiva? Falta de leitura, excesso de amargura, vazio de cultura? Saudade da ditadura, dizem em coro, e sem ficar vermelhas.
Desculpe. Nossas porta-bandeiras jamais serão vermelhas.
Só queria entender por que tanta raiva acumulada. É muita gente com ódio no coraçãozinho. E muita gente mais velha, o que mostra que nem sempre a idade traz paz. Sabedoria, nem se fala. Independentemente de alguém ser de direita ou de esquerda, por que o ódio? Reclamam do quê essas pessoas que elegeram legitimamente um presidente – desastroso, mas legítimo –, e que têm a máquina na mão para (pobre Brasil) uma reeleição em 2022?
Torço para que não aconteça, e não é por mim, que chego a essa altura do campeonato ainda com emprego e inteira. Não posso dizer o mesmo de muitos amigos e de pessoas da minha família. Sou contra a reeleição pela saúde, pela educação, pela cultura, pela economia, pela história e para a comida voltar para a mesa dos milhões de brasileiros que não têm mais nem osso para comer. O quilo passou de nada, de sobra a ser doada, para R$ 17 nos açougues.
Se ao menos uma pessoa que eu admiro, uminha só, de qualquer área, estivesse ao lado dessa patacoada, ainda daria para considerar, bem, vamos ouvir os argumentos de uma voz ponderada e que consegue expressar um pensamento completo, inclusive se utilizando das belezas e sutilezas da língua, para justificar o injustificável. Mas quer saber? Ninguém que eu admiro apoia a república da violência. Do liberalismo burro. Da ignorância orgulhosa. Sortuda, eu.
Aqui no Rio, onde trabalho, anda muito difícil pegar um Uber. É que a gasolina a R$ 7 o litro acabou com a alternativa de quem havia virado motorista de aplicativo para sobreviver ao desemprego, ou para fazer um suado dinheirinho extra. Dia desses, revi o vídeo daquela tiazinha que, em 2015, fez a tresloucada em um posto de gasolina de Caxias do Sul, “não abasteçam os carros, se vocês não abastecerem, o preço vai baixar!”. Na época me pareceu engraçado. Agora achei trágico.
Sem falar que deu no que deu.
Voltando para o 7 de setembro. Se valeu a lógica do cão que ladra não morde, teremos chegado ao dia 8 sem maiores transtornos. Sem mortos e feridos que não no sentido figurado, com foco no que deveriam ser as tarefas de um governante: saúde, economia, educação, cultura, comida na mesa. É tanta coisa para fazer que não se entende como a prioridade zero de hoje pode ser a reeleição.
Quer dizer, se entende, sim. É preciso manter a imunidade parlamentar a qualquer preço. Mesmo que o preço seja acabar com o país.