Hoje é um novo dia/ De um novo tempo que começou.
É o que diz a música que nos acostumamos a ouvir a cada final de ano. Mas agora já é janeiro e a danada continua na cabeça, invasora de cérebros que é. O problema é que a gente abre o jornal e nada parece novo. As notícias sobre a pandemia seguem deixando o café da manhã indigesto. Isso que nós, os que tomamos café da manhã, nem podemos reclamar muito.
Nesses novos dias, as alegrias/ Serão de todos/ É só querer.
Querer, a gente quer. Só que está meio difícil de encontrar alegria no meio de algumas cenas. Milhares de pessoas nas praias, sem máscara, em grupos que não estão nem aí para o distanciamento. O pagode e o sertanojo universitário a todo volume na areia e nas pousadas onde as turmas se aglomeram.
Ninguém me contou, estive em uma casa retirada na Ferrugem e vi eu mesma a situação – que de alegre não tem nada. A coisa está feia em Santa Catarina, mas quem se importa? Esse verão tem tudo para ser a primeira Covid Fest Brasil.
Todos os nossos sonhos serão verdade.
Bem, o nosso maior sonho, atualmente, é a vacina. A gente acredita que vai se transformar em verdade, mas não a curto prazo. Para quem prefere virar jacaré a continuar refém, as perspectivas não chegam a ser animadoras. O Brasil está lá atrás na fila dos países para comprar a vacina. 120 milhões de brasileiros, eu entre eles, formam o imenso grupo não prioritário, na rabeira para receber a agulhada. O que significa continuar com todos os cuidados para não botar tudo a perder antes da sua vez chegar.
O futuro já começou.
Há controvérsias. Parece mais que o passado voltou, com os atuais índices de fome, de saúde, de educação, de inflação. O jeito é cantar a musiquinha pulando essa parte.
Hoje a festa é sua/ Hoje a festa é nossa/ É de quem quiser/ Quem vier.
Negativo. Hoje não tem festa. O jeito é entrar no Spotify e dançar sozinho, ou com a mãe, na sala mesmo. Ou então fazer um luauzinho familiar na sacada. Também é de bom tom quem vier, se vier, apresentar o PCR na entrada.Só para todo mundo ficar tranquilo.
Graças à deusa que, daqui a pouco, as propagandas de um novo ano param de passar, e a música fica esquecida até o próximo dezembro.
Dezembro de 2021.
Tudo indica que não vai ser fácil. Mas a gente chega lá.
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Para quem vai ficar em casa embaixo de uma lâmpada para lembrar o sol de Tramandaí, ventilador ligado no máximo para simular o Nordestão, duas sugestões de leitura. E Fomos Ser Gauche na Vida, da jornalista Lelei Teixeira, é uma bela reflexão sobre nanismo, acessibilidade e inclusão. O livro era um projeto de Lelei com sua irmã e parceira de vida, Marlene, falecida em 2015, e foi lançado agora pela Pubblicato Editora. Já a cantora, atriz, performer, ativista e muito mais Valéria Barcellos lançou Transradioativa: Você me Conhece Porque Tem Medo ou Tem Medo Porque me Conhece? A partir da descoberta e do tratamento de um câncer, Valéria decidiu contar suas memórias e vivências. É a história de uma grande vitória sobre a doença, mas também o relato de quem precisa sobreviver todos os dias à violência contra as pessoas pretas e trans. Pedidos: arolecultural.com.br