Na semana passada participei de um encontro com os alunos do Colégio Estadual Francisco Antônio Vieira Caldas Júnior, que fica em Porto Alegre, no bairro Partenon. Não sou muito de encontros virtuais. Com tão pouco a dizer nesses dias de reclusão, e um tanto monotemática se tenho espaço – desgoverno e pandemia como assuntos principais –, não me sinto interessante a ponto de merecer uma plateia. Fujo das lives com a eficiência de um Weintraub escapulindo do país. Mas quando o convite é de uma escola,a coisa é diferente.
O professor Vinícius Dill Soares propôs uma conversa com duas turmas de terceiro ano, mais as professoras de Português e Literatura e a diretora da Caldas Júnior. Palavras dele: “Desde o início da quarentena, estamos nos reinventando e descobrindo, quase que às cegas, os melhores caminhos para dar conta das aulas remotas. Temos mil alunos, do primeiro ano do Fundamental ao Ensino Médio, e um público bem heterogêneo. Já distribuímos cestas básicas para as famílias carentes duas vezes, fazemos plantão na escola para atender quem não tem acesso à internet, nos comunicamos com a comunidade pela nossa página no Facebook, até live da equipe diretiva chegamos a fazer por lá, e estamos em contato direto com o nosso grupo de professores”.
Pensei que a gente não teria muito quórum. Manhã de sexta-feira da quarentena, no fim das contas, é quase final de semana. Tem muito marmanjo que grita “sextou!” na quinta à tarde. Pois a turma estava lá, acordada e animada. O papo só durou uma hora porque eu, no melhor estilo assalariada que não pode perder o trabalho de jeito nenhum, precisei sair para cumprir as entregas do dia.
O que achei mais comovente foi ver as carinhas todas na mesma tela, alunas, alunos, professoras, profe Vini, diretora. A pandemia, se não acabou com a hieraquia, criou outro tipo de relação entre quem ensina e quem aprende. Até o mais sabichão virou aprendiz, nesses nossos dias. E, se achar que não, vai ficar para trás quando tudo isso terminar. Na esperança de que um dia tudo isso termine.
A exemplo de tantos colégios públicos que enfrentam a falta de verbas e de materiais, uma rotina escolar segue firme e forte por lá
Muito mais que fazer perguntas sobre o livro que haviam lido, e que nem todos tinham curtido, as gurias e guris da Caldas Júnior conversaram sobre a vida. A exemplo de tantos colégios públicos que enfrentam a falta de verbas e de materiais, isso para não falar dos professores com salários defasados e parcelados, uma rotina escolar segue firme e forte por lá. Com a palavra, o professor Vini: “Nossa escola sempre foi reconhecida como uma das melhores escolas públicas da Zona Leste e, meio que na teimosia, a gente tenta manter esse reconhecimento, apesar de tudo. Apesar de tudo, os professores são dedicados, colaborativos e abertos a todas essas mudanças. Muito antes do governo sugerir a realização de aulas síncronas (com interação em tempo real), já vínhamos realizando para tentar manter o vínculo com os estudantes, que sempre foi tão importante e fez tanta diferença aqui”.
A Aline Reginato, diretora, disse que eles não desistem, e não vão desistir. Acho que é um bom resumo de tudo o que os professores têm feito pela educação – aí incluídos os que lecionam em colégios particulares, e que estão enfrentando tantas dificuldades quanto os colegas do Estado e do município.
A todos que forem convidados para conversar com estudantes em tempos de isolamento, uma dica: aceitem. Escritores, jornalistas, pessoal do cinema, das artes, das ciências, da política, da medicina, da arquitetura, da advocacia, da engenharia, da gastronomia, da publicidade, de humanidades e de números: aceitem. Alunas e alunos, com certeza, aproveitam a experiência. Mas quem sai da sessão com mais fé e energia, podem acreditar: é a gente.