Chiaroscuro é uma palavra de origem italiana que significa, e essa até que é fácil, claro-escuro. Ou luz e sombra. É o nome de uma técnica de pintura surgida na Renascença, no distante século 15, ensinaram as aulas de arte de algum tempo perdido. Leonardo da Vinci foi mestre no chiaroscuro, Caravaggio também. E Rembrandt, para citar os muito famosos. Para mais que isso eu precisaria da ajuda da minha professora de artes.
O horror que alguns têm ao cinema, ao teatro, à arte em geral, aplaudindo o desmonte em curso no país: escuridão total
O que caracteriza o chiaroscuro é o contraste dramático entre a luz e a sombra, tão marcado que às vezes chega a parecer que a pintura é 3D. Mas não esse 3D dos filmes de nave espacial e outras geringonças que atacam as pessoas nas salas de cinema, ainda por cima com um som atordoante de bombas e disparos que pretende arrastar o espectador para dentro das batalhas. A impressão de tridimensionalidade do chiaroscuro é suave, delicada, até gentil. O sujeito pode esquecer de tudo tentando entender como o artista conseguiu aquele efeito sem usar o Photoshop. Alguns não acreditam que é apenas talento e técnica, como um jovem casal brasileiro diante de um Caravaggio, cena testemunhada em um museu pelo mundo. Na cara que isso aí é computador, disse ela, cheia de razão. Pensam que a gente é mané, completou ele, levando seu desdém para a próxima obra.
Chiaroscuro é uma técnica de pintura, mas também define alguns acontecimentos da vida, quando não a própria vida. Por exemplo, esses desmandos todos no Ministério da Educação e o quanto isso pode influenciar no surgimento de novos jovens casais que duvidam de qualquer coisa acontecida antes deles existirem: escuro. A professora que ensina robótica em uma escola municipal de São Paulo e ficou ali-ali para ganhar o prêmio de melhor profe do mundo: claro.
O corte nos programas e bolsas de ciências: escuro. A menina de Osório que, aos 18 anos, já ganhou onze prêmios com suas pesquisas e foi selecionada para assistir à premiação do Nobel 2019: claríssimo.
O horror que alguns têm ao cinema, ao teatro, à arte em geral, aplaudindo o desmonte em curso no país: escuridão total. O último corte - sempre pode ter havido mais depois do fechamento desta edição - atingiu o Porto Alegre em Cena, a Mostra de Cinema de São Paulo, o Festival do Rio, o Festival de Brasília, o Anima Mundi, a Sessão Vitrine e vários outros eventos que levam cultura a preços acessíveis para plateias de todo o Brasil. A insistência desses eventos em seguirem vivos: claro.
A crise que se abateu sobre as editoras com o calote das grandes redes - e com toda a situação da economia: escuro. Uma iniciativa como a PocketStore da L&PM, a linda livraria aberta também a vender livros de outros selos: claro. Fica ali na Félix da Cunha e vale muito a pena conhecer.
Falando em livro e particularizando porque, a bem da verdade, o homem é um egoísta nato, estar com a corda no pescoço para entregar os seus originais sob pena de perder essa raridade chamada editor: escuro. Ver em uma entrevista que o Luis Fernando Verissimo (também conhecido como O Melhor de Todos) lê o que você escreve: claro. Muito claro.
Não é que, quando menos se espera, alguma coisa alumia?