Alguém mais tomou um susto com o Imposto de Renda? Além de tudo o que fica retido na fonte, e que dá aquela dor quando a gente vê no contracheque, a cada ano aumenta o imposto a pagar. E isso que a renda só diminui, ainda mais com as novas leis trabalhistas em vigor. Agora, para manter seu emprego, a negociação é assim: quer, quer. Não quer, tem quem queira. E tem mesmo: já somos 13,1 milhões de desempregados. E contando.
Se o Imposto de Renda, o retido e o que ainda precisa ser pago depois de tudo o que foi retido, levasse mais qualidade para a vida das pessoas, a facada sangraria menos.
Não me entenda mal. Eu me importaria, mas não tanto, de pagar uma dinheirama (para os meus padrões, claro) sobre a minha renda, eu que ao menos tenho uma renda, se o que me subtraem fosse usado para alguma coisa útil. Se servisse para a saúde, uma dor no coração cada vez que a gente ouve a história de alguém ou vê as matérias nos corredores dos hospitais públicos. Aqui em Porto Alegre: pegar ficha para uma consulta nos postos faz os doentes passarem a noite na fila em pleno 2019, ano em que as facilidades da internet ou da telefonia, que seja, de nada servem para a marcação das consultas. É só ouvir os programas de rádio da madrugada que lá estarão os repórteres entrevistando quem desistiu de tentar uma ligação e foi com uma cadeira e suas mazelas para esperar na porta do posto. Pior que são poucas fichas. A maioria terá que voltar na noite seguinte, e na outra, até conseguir atendimento. Ou não.
Já que não é repassado para a saúde, se ao menos o imposto fosse destinado à educação haveria uma esperança de, quem sabe, dias melhores. Mais educação, mais oportunidades. Mais educação, menos criminalidade. Mais educação, menos obscurantismo. Aí que está. Deve ter alguém ganhando com esse obscurantismo que estamos vivendo. Com o corte de incentivos para a cultura e o sumiço de todo um mercado. Com o retrocesso de pensamento, de ações e de políticas públicas. A sociedade é que não é.
Se o Imposto de Renda, o retido e o que ainda precisa ser pago depois de tudo o que foi retido, levasse mais qualidade para a vida das pessoas, a facada sangraria menos. Mas está tudo tão inseguro, tão sem perspectiva, tão escuro. O Rio de Janeiro, então, é um caso à parte. Já que os governos não têm capacidade de garantir luz, gás, transporte e segurança para a população mais desassistida, a milícia assumiu esses "serviços". Cobra mais, mas entrega. Agora até prédios constrói nas comunidades, ainda que eles caiam. Mas quem se importa?
Enquanto isso, o coelhinho da Páscoa chega nessa metade de abril com ovos supervalorizados, quase setenta reais um de tamanho médio. Se ainda houvesse crianças pequenas na minha família, esse seria o ano em que elas descobririam que o coelho é uma alucinação com o objetivo de fazer os pais gastarem o dinheiro que não têm. Isso me leva de volta ao Imposto de Renda. Um filho que ainda divida a tal renda com os pais, mas que esteja acima da idade estipulada por critérios de outros carnavais, já não pode ser considerado dependente. Os comprovantes de estudo e despesas médicas, pode jogar no lixo reciclável. Isso em um país onde os com experiência não encontram trabalho, o que se dirá dos mais jovens. Sem falar que sobra mais para o verdadeiro dependente de todos nós, aquele que deveria ser nomeado assim nas nossas declarações: o governo.
E assim a terra vai girando, isso para quem ainda acredita que ela não é plana. Mas esse já é outro assunto.