A enchente que atingiu quase todo o Rio Grande do Sul causou danos não só para a cadeia produtiva da carne como também para a produção de dezenas de insumos, produtos, lugares e profissionais que fazem parte dessa experiência sagrada que é o churrasco.
É impossível dimensionar o tamanho do impacto que teremos do campo à mesa, mas uma coisa é certa: o engajamento e a união de todas as pontas é a única solução capaz de atenuar os desafios – a curto, médio e longo prazo – para a reconstrução do Estado.
Enquanto o setor começa a tomar pé de todas as perdas e as necessidades pontuais dos seus próprios negócios, uma voz muito mais urgente e forte começou a tomar conta da cadeia produtiva. A maioria dos produtores de alimentos – não só da carne – conseguiu mobilizar parceiros e empresas de todo o setor no Brasil para doações significativas, buscando amenizar o impacto desta primeira etapa, onde salvar vidas, dar comida e acolhimento foi o principal foco.
São toneladas de alimentos que chegam às pessoas que precisam de ajuda, transformadas em refeições por dezenas de cozinhas e churrasqueiras solidárias. Mas não é somente para a distribuição de alimentos que o setor se mobilizou, e quero citar alguns exemplos.
A Federarroz conseguiu sensibilizar a sociedade civil de diversas partes do país para doações de colchões, produtos de higiene, limpeza e água potável, além de dezenas de toneladas de carne e arroz. O Instituto Desenvolve Pecuária, que trabalha para a valorização da carne gaúcha, além de alavancar doações de proteína animal, para atender esta primeira etapa, está realizando uma série de leilões onde todo o lucro será destinado à próxima etapa, que é de reconstruir o RS.
São inúmeras iniciativas maravilhosas que nasceram a partir das demandas identificadas pela enchente e outras tantas que já existiam e que comprovaram a importância da generosidade para atender um grupo muito maior, por um longo espaço de tempo. Para mim, o trabalho realizado pelo amigo Julio Ritta e equipe, no projeto Cozinheiros do Bem, é um exemplo que já existia e que, após a enchente, conseguiu articular mais doações e voluntários para atender um número bem maior de necessitados.
Porém, a preocupação geral de todos os setores é a continuidade das doações, que ao longo do tempo estão ficando mais escassas. E é natural que ao longo do tempo também diminua o trabalho dos voluntários, pois é necessário retornar aos seus próprios desafios. Mas não podemos nos dar ao luxo de parar.
Outra preocupação geral que também chega com as próximas etapas de reconstrução é o apoio a pequenas e médias empresas, empreendedores autônomos, lojas e restaurantes. Por isso, é fundamental que quem puder continue consumindo e prestigiando, como nunca, empresas, profissionais e produtos locais.
Será preciso utilizar a nossa voz em todas as etapas para reconstruir o Rio Grande do Sul, com um projeto de planejamento, coordenação e muita transparência. E o setor de alimentação tem um papel fundamental, pois é um dos pilares da economia do Estado.
Reconstrução é a palavra de ordem neste momento. Agora, não é somente sobre garantir nosso sagrado churrasco, mas garantir que o Rio Grande do Sul seja reerguido com a colaboração de todos em TODAS as etapas.