Dias atrás, comentei sobre as novidades que surgem nos trajetos de rotina. São lugares que, logo de cara, saltam em meio à paisagem a que já estamos acostumados, como foi com o Botequim da Alcides. Há, no entanto, aqueles lugares que, se sumissem do caminho, fariam muita falta. Pontos que, embora não sejam mais novidade, nos fazem parar a correria do dia para apreciar aquela comida que já não traz mais surpresas, porque é sempre boa.
O Cachorro Quente do Forte tem esse significado para mim. Uma carrocinha na esquina da Avenida do Forte com a Avenida Brasília que, por anos, fez parte de um percurso que eu fazia diariamente. Todos os dias o aroma do molho de tomate caseiro me despertava a vontade de parar o carro e pedir um dog.
Muitas vezes eu parei. Outras passei apenas para pegar e comer em casa, já que o ambiente é para poucas pessoas. Esta semana refiz esse trajeto, mas dessa vez como destino final a carrocinha do Cachorro Quente do Forte.
O ponto é o mesmo desde 1993. O famoso molho de tomate segue a receita tradicional, cujo os segredos não são revelados. Os ingredientes continuam todos cortados em cubinhos, enfileirados em potes à vista do cliente. Alguns costumes também permaneceram os mesmos, como a clássica pergunta no começo do pedido: “o que vai no teu cachorro?”.
Cebola, tomate, ervilha, milho, salsinha, queijo ralado e batata palha. Bastante molho de tomate, além dos condimentos como mostarda, ketchup e maionese. Quando algum deles não é citado, a colher é virada para o lado oposto. Todo cuidado para que, na hora da montagem, não haja risco de se confundir.
Pedi o meu clássico, um Pinscher (R$ 19) com tudo que tenho direito. Os dogs de lá têm raça. Os mais brabos levam linguiça, como o Rottweiler (R$ 21) e o Pitbull (R$ 23). Quem quiser o melhor dos dois mundos, pode pedir um Guaipeca (R$ 22), que leva linguiça e salsicha.
Preciso dedicar um parágrafo apenas para falar do molho de tomate do Forte. Depois de definir tudo o que vai ou não vai no seu dog, o próximo passo é encharcá-lo de molho. Quando a tampa do recipiente é aberta, o cheiro do tomate e dos temperos tomam conta da carrocinha. Para mim, é o que torna o Cachorro do Forte incomparável.
O molho me remete aos cachorros-quentes feitos em festa de criança, com gostinho de infância. Ele é produzido de forma bem artesanal, com tomates de verdade. Esqueça os molhos prontos! Além de ser o grande destaque saboroso do dog, ao invés de maionese, como em outros locais.
O espaço não modificou em nada, de acordo com as minhas memórias de infância. A carrocinha, os potes, o colorido dos ingredientes na bancada e a seção dos molhos. Até mesmo o ambiente para comer. São apenas quatro cadeiras de praia ao lado da carroça. Eu diria que é um espaço exclusivo para poucos clientes.
Me traz memórias muito boas olhar para aquele ponto de comida de rua, na zona norte de Porto Alegre e pensar que, embora muitas coisas tenham mudado da minha infância até aqui, aquele segue sendo um ponto praticamente intacto. Do espaço físico ao aroma do molho, é como viajar no tempo sem sair do lugar.
Depois de comer meu dog enrolado no saquinho plástico, sentada na cadeira de praia, pensei: que bom que, depois de tantas novidades no trajeto, de estabelecimentos novos que vieram, de outros que se foram, esse permanece e resiste. Ao tempo, à gourmetização, à pandemia e às mudanças que surgem no caminho.
Se o Cachorro Quente do Forte não estiver na sua rota, inclua no GPS a parada. Vale a pena!
Cachorro Quente do Forte
Endereço: Avenida do Forte, 1230, no bairro Vila Ipiranga
Horário de funcionamento: De terça à domingo, das 19h às 23h.
Delivery pelo iFood
@cachorroquentedoforte