• Talvez, o certo seria me declarar impedido de escrever este texto em função da quantidade de horas/mesa que tenho por lá. É bem provável que o Restaurante Mirador seja o lugar que mais frequentei ao longo da minha vida. E, junto de vocês, vou tentar entender os motivos.
• Ajuda muito o fato de, infelizmente, Torres não ter uma abundância de bons restaurantes, e a grande maioria dos que estão lá fazerem aquela linha “fritos do mar”, cardápio na pastinha de couro melado de maresia, cadeira de plástico e música ao vivo. Tudo junto e ao mesmo tempo.
• Até faz sentido ir a um desses lugares em determinadas vezes, mas, estou ficando velho e me apego em outros detalhes na hora de escolher um lugar legal para jantar. Que pelo menos seja confortável, silencioso, com ar-condicionado e guardanapo de pano.
• Entendo que manter um lugar com essas características no litoral deva ser uma gincana, porque é complicado fechar os custos. Só mesmo tendo a estrutura de um hotel na volta, que gera um movimento durante todo o ano, faz sentido financeiramente.
• Almocei e jantei na mesma proporção no Mirador, desde que me conheço por gente. Lembro que aprendi a nadar sem boia na piscina do hotel, para terem uma ideia do tamanho da minha viagem no tempo e do quanto já dura essa minha relação. E não existiu sequer uma vez em que as coisas não tenham vindo absolutamente perfeitas e iguais.
• Nunca erraram pedido, atrasaram, trouxeram diferente, fora do padrão ou algo assim. Nunquinha. Principalmente a casquinha de siri. Sou sommelier da receita, e na minha escala Robert Parker, essa atinge pontuação máxima. Não só essa como todas as mais de mil que devo ter comido no Mirador. Todas. Exatamente iguais.
• Casquinha de siri é um negócio engraçado, já percebi uma característica que diferencia as boas das ruins. As boas não vêm em uma casca de siri propriamente dita mas em uma concha. As ruins, sem exceção, vêm em cascas de siri. Ironia do destino.
• O couvert também é bem engraçado, porque azeitona, maionese e bisnaguinha torrada é de uma simplicidade tão grande que quase daria para chamar de afronta, mas quando tudo está bem, nada está mal.
• Aproveito que estou na praia para mudar um pouco meus hábitos e peço filé de peixe. Costumo variar entre o À Florentina (R$ 93), com colchão de espinafre, molho bechamel e batata no vapor, e o eleito da noite, que foi o À Belle Meuniére (R$ 109), com camarão, aspargos, champignon, alcaparras e batata sauté.
• É sempre absolutamente igual e perfeito, as mesmas travessas de alumínio, os mesmos garçons, a mesma decoração, a mesma chef desde os tempos do Hotel Alfred, a mesma piscina e a mesma vista para o mar da mais bela praia gaúcha.
Torres é demais!
O Hotel Dunas fica na Rua Marechal Deodoro, 48, em Praia Grande, em Torres.
Fone: (51) 3664.1011