Foi com muita alegria que aceitei o convite da Sabrina, uma amiga querida, para ir jantar num restaurante que gosto muito e no qual não ia há muito tempo. Combinamos dia, horário e o tipo de menu que gostaríamos de ter. E lá fomos nós, curtir um saturday night live no Le Pré Catelan.
Pra quem não conhece, esse é um restaurante de alta gastronomia e fica no Hotel Sofitel Rio de Janeiro, em Copacabana. Já recebeu muitos prêmios das melhores mídias especializadas e acabou de entrar pro seleto grupo “estrelado” do recém chegado Guia Michelin no Brasil. Sua localização é privilegiada, com algumas mesas com vista para a Avenida Atlântica. Chegamos pontualmente na hora de sua abertura e já aproveitei para tirar uma foto desse salão, que tem um ambiente bem clássico e bonito e uma coisa que chama a atenção são seus cinco lustres de cristal, da famosa marca austríaca Swarovski.
Fotografar com flash é inaceitável e isso acaba prejudicando um pouco a resolução das fotos, mas ainda que a imagem esteja escura não posso deixar de mostrar o Bar. O balcão do bar é revestido com madrepérola importada das Filipinas e tem um efeito lindo, principalmente realçado por spots!
Bonito também o revestimento dessas paredes de efeito metalizado, no espaço que liga o bar à cozinha, onde fica a bela adega climatizada. E olha que espetáculo aquela cadeira branca ali. É uma La Chaise dos designers Charles e Ray Eames, cuja original foi projetada em 1948, baseada na escultura “Figura em Flutuação”, de Gastón Lachaise como uma cadeira de praia para um concurso promovido pelo MOMA em NY. Um ícone que dá mais charme ao ambiente.
O Le Pré Catelan, como o nome já indica, é um restaurante de gastronomia francesa comandado há quase 18 anos pelo simpático e talentoso chef francês Roland Villard. Roland criou um menu inovador, misturando receitas clássicas da culinária de seu país com produtos locais. Suas criações resultaram em sabores e aromas diferenciados e que fazem dele um profissional premiadíssimo e respeitado, sendo o único chef francês, na América Latina, membro da Academie Culinaire de France.
O chef assina diferentes tipos de menu, podendo ser o Pré Gourmand, o Menu Viagem Gastronômica à Amazônia e o Menu Villegagnon. Também existe a Table du Chef (para quatro clientes), a experiência de sentar à mesa dele (no escritório ao lado da cozinha) e degustar uma seqüência “ilimitada” de pratos preparados e apresentados por ele com harmonização de vinhos. Minha amiga aniversariante queria essa última opção, mas no dia não era possível, entretanto a proposta dele muito nos agradou. Começamos com um espumante de cortesia, servido pelo gentil Christiano (palmas para a equipe e serviço: impecáveis!).
Ainda que a casa tenha em sua adega excelentes vinhos do Velho e Novo Mundo, esse espumante nacional Chandon Réserve Brut não decepciona. Bem aromático, com espuma abundante que se mantém, perlage bem intenso e um frescor que agrada ao paladar.
O serviço de mesa é a coisa mais linda que existe, com passadores de linho sobre as mesas, belíssimos cristais para água, assim como porta velas. Brindar com esse visual tem ainda mais glamour. Salut! O couvert é bem francês, com pães e manteiga e também um delicioso azeite aromático.
A todo o momento o garçom traz uma bandeja com cinco tipos de pães, sempre quentinhos: levain, baguete, passas com nozes, ciabatta de tomate e integral. Não sei qual o melhor. Pena a foto não ter saído à altura da boulangerie francesa!
A primeira amuse bouche apresentada pelo chef foi um delicioso creme de tomates acompanhado de um sablé com panna cotta de rochefort e chutney de pinha (depois que provei, lembrei da foto). Muito bom!
Um jantar desses pede bebidas à altura e a carta de vinhos tem mais de 100 rótulos. Hora de seguir a recomendação do Sommelier Yann Girard, que harmonizou tudo pra gente! E começamos com o argentino Reserva Torrontés Terrazas de los Andes. Um branco leve, suave e que agradou muito a meu paladar.
O que veio a seguir foi um atum selado e empanado com gergelim, molho agridoce, e cannelloni de pimentões. Uma mistura bem interessante.
A cada prato servido Roland vem nos apresentar e explicar o prato e esse era simplesmente sensacional! Trilogia de Crustáceos. Nossa! Abaixo eu detalho cada um.
Bom, atenção para isso. Salada de camarão com pupunha grelhado, molho pesto de manjericão, encimado por caviar Mujol. De começar a rezar!
O segundo crustáceo foi lagosta ao molho de champagne e ervas frescas. Gente, vocês não imaginam o que é esse caldinho. France, je t’aime!
E encerrando com louvor, vieiras na chapa sobre lagostim e chutney de tomate seco. Melhor que uma trinca de ases!
A partir daqui o sommelier nos sugeriu um Pinot Noir. Pausa para esse visual lindo!
Interessante que Yann nos propôs um giro pelas vinícolas sul americanas, apresentando esse chileno da Viña Montes 2012 da região de Valle de Casablanca. O Sommelier vai dando as características dos vinhos e isso agrega mais conhecimento e nuances sobre a bebida.
O Menu Villegagnon foi desenvolvido por Rolland em homenagem ao famoso almirante que desembarcou no Brasil em 1555, para estabelecer aqui uma França Antártica. A criatividade do chef foi imaginar como teria sido o banquete da comitiva pesquisando muito sobre a mistura que teria havido entre os produtos locais disponíveis aqui à época com a técnica de haute cuisine française. E o cardápio que nosso chef recriou é sensacional! Um dos pratos é o filé de robalo com palmito caramelizado, e purê de banana da terra com emulsão de tucupi, E ainda vieram uns quadradinhos da mesma banana. Que espetáculo!
E compondo com esse prato, um granité de graviola com champagne. Villegagnon e sua comitiva iriam adorar esse banquete. Eu amei!
Mas o chef também preparou um dos pratos de seu Menu Viagem Gastronômica à Amazônia, que fez um tremendo sucesso quando de seu lançamento e por essa razão permanece até hoje. O prato conjuga toda a requintada técnica de preparo à francesa com os ingredientes típicos da região Norte do Brasil. Ele trabalha com os melhores produtos de nossa Amazônia, como esse carrê de Tambaqui com purê de batata baroa defumada e molho de aves com tomilho. Um prato de muita identidade.
E mais uma vez o acompanhamento do peixe foi outro Granité - caju. Além do sabor delicioso e marcante de nossa fruta, ainda limpa o paladar por ser geladinho como um sorbet. Preciso citar também o Sous-Chef Kaywa Hilton, braço direito de Roland.
Depois foi servida uma receita do Menu Pré Gourmand: codorna, peito assado e coxa confit, no seu molho, sobre royal de foie gras e chip de queijo parmesão. Sabor e delicadeza! Adoramos!
Hora de entrar um vinho mais encorpado. Merlot La Joya Gran Reserva 2013. Tinto de bom corpo e aromas que remetem à cereja preta, mocha e sabor cola. Confesso que me deixei orientar pelo sommelier e gostei de todas as harmonizações.
Ainda nesse menu, a pastilha de cordeiro: carré sobre massa phyllo recheada com a carne de cordeiro e especiarias, batata recheada de queijo de cabra, e picles. Nham, yumme, nhác!
O último vinho da noite foi o Cabernet Sauvignon Estate 2012 Chakana, de uma jovem vinícola de Mendoza, que tem uma história interessantíssima baseada nos ancestrais incas, que habitaram as montanhas andinas do Equador a Mendoza por 5000 anos.
E encerrando o maravilhoso jantar, mais um prato do Menu Villegagnon: javali confitado em crosta de caju, com ragu de feijão de corda com leite de coco. Wow, que combinação!
Mostrando de perto essa maravilha de feijão de corda! Viva nossa terra, de Tamoios e Tupinambás!
E para o ápice ser total, sinfonia de sobremesas, com nove tipos dos mais finos doces da pâtisserie francesa.
Aqui dois clássicos: macaron de pistache e mil folhas com chantilly, só que um detalhe diferente, em vez das camadas estarem dispostas na horizontal, elas foram montadas em pé.
Outro doce que é uma entidade francesa é a deliciosa torta opera. Queria mostrar outras de pertinho, mas tive que cortar, senão o post fica gigante! Só digo que havia sorvete de framboesa e cupuaçu, dacquoise, parfait de chocolat e outros doces sublimes!
Nossa! A essa altura nós já estávamos há mais de quatro horas nessa experiência fantástica! E pensa que acabou? Negativo! Chegou um casal amigo e foi pedido café, mas eu gostei mesmo foi das mignardises que o acompanham. Madeleines, bombom de chocolate amargo, guimauve crocantes (quadradinhos de marshmallow) e trufas.
Fomos os últimos a deixar o restaurante, felizes e encantadas com o belíssimo jantar de aniversário e com a culinária desse restaurante que usa ingredientes fresquíssimos, com produtos de alta qualidade, muita criatividade e esmero para agradar os clientes. Saímos do restaurante com presentinho. Uma caixinha contendo macarons. Um mimo!
O custo acabou sendo especial, pois os menus têm preços distintos, sendo o Pré Gourmand R$ 225, o Villegagnon e Amazônia R$ 290, fora as bebidas. Uma experiência gastronômica, histórica, geográfica e sensorial das melhores! Palmas!
destemperados
Uma experiência gastronômica e sensorial no Le Pré Catelan
Destemperados
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