O Rio Grande do Sul enfrenta a maior tragédia climática de sua história. A recuperação será lenta e gradual, apesar dos esforços de todas as instâncias: públicas, privadas e governamentais. Será necessário se espelhar em cidades, capitais ou metrópoles que vivenciaram algo parecido em anos anteriores, nacional e mundialmente falando.
TSUNAMI NA INDONÉSIA
Há 20 anos, um abalo sísmico de 9,1 graus de magnitude desencadeou uma série de tsunamis em 14 países banhados pelo Oceano Índico, causando cerca de 230 mil mortes e inundando cidades inteiras. Um dos países mais afetados, a Indonésia teve prejuízos de mais de US$ 10 bilhões, de acordo com o governo da época. Mas a ajuda de cerca de € 7 bilhões foi primordial para a reconstrução não só das moradias, como também estradas, escolas e postos de saúde. O país, que recebeu cerca de 5 milhões de turistas no ano da tragédia, mais do que dobrou o número nos últimos anos. Em 2023, os números alcançaram mais de 11 milhões de pessoas. Com relação aos primeiros quatro meses do ano passado, as chegadas de estrangeiros cresceram quase 25%. Segundo o governo atual, há a expectativa de receber mais de 14 milhões de turistas ainda em 2024.
FURACÃO KATRINA
Quase um ano depois dos acontecimentos da Ásia, foi o continente americano que provou das forças da natureza. Alcançando categoria 3 na escala de furacões, o Katrina atingiu a região litorânea dos Estados Unidos, especialmente a região metropolitana de Nova Orleans no fim de agosto de 2005. Mais de um milhão de pessoas tiveram que abandonar suas casas. Lá, onde a cultura e a gastronomia são grandes potências, bares e restaurantes foram muito afetados. No mesmo ano, 40% desses estabelecimentos conseguiram reabrir nove meses depois da tempestade. Antes, havia mais de três mil restaurantes, que empregavam 54 mil pessoas. No ano do furacão, Nova Orleans recebeu por volta de 10 milhões de turistas. A cidade atingiu quase 20 milhões de turistas em 2019.
CHUVAS EM PETRÓPOLIS
Há dois anos, a região serrana do Rio de Janeiro foi fortemente abalada por chuvas, enchentes e deslizamentos. A segunda maior tempestade da história do município de Petrópolis deixou mais de 200 vítimas e um prejuízo de mais de R$ 78 milhões. Ainda em processo de recuperação, o governo municipal afirma a necessidade de realizar 192 obras de médio e grande porte na região, mesmo depois do aporte de mais de R$ 100 milhões investidos em obras de contenção por toda cidade. O governo do Estado também investiu milhões de reais em infraestrutura na região, que é uma das mais procuradas para o turismo no Brasil, segundo site de reservas de viagens.
OS PLANOS PARA PORTO ALEGRE
A boa notícia é que o Sebrae RS, parceiro dos micro e pequenos empreendedores, lançou o SebraeTec Supera, iniciativa que busca auxiliar donos de bares e restaurantes afetados pelas enchentes. Conversamos com o especialista no setor de alimentos e bebidas do Sebrae RS, Roger Klafke, sobre quais os próximos passos que a nossa Capital precisará adotar para retornar às suas atividades normais.
Quantos negócios de bares e restaurantes foram afetados nas cheias desse ano? Quais deles podem contar com o auxílio do Sebrae RS?
Acreditamos que mais de 600 mil empresas gaúchas foram impactadas. Dessas, 160 mil foram diretamente impactadas, por estarem localizadas em áreas de alagamento ou desmoronamento. Acredito que em torno de 10% deste número, mais ou menos 15 mil, sejam pequenos negócios como lancherias, bares, restaurantes e similares afetados diretamente. Entre esses, quem for MEI ou dono de micro e pequena empresa pode se cadastrar na iniciativa que o Sebrae RS lançou essa semana, o Sebraetec Supera, um projeto de adequação e recuperação de espaços físicos de empresas.
Como funciona o Sebraetec Supera?
É uma consultoria para avaliação do espaço físico e elaboração do plano de ação para reabertura do negócio o mais breve possível. No primeiro momento, um consultor do Sebrae RS faz uma avaliação do espaço físico das empresas. Após a consulta, um plano de ação para reabrir o negócio é apresentado, levando em consideração todos os reparos, serviços ou aquisições que a empresa precisa para voltar a funcionar. Assim, conseguimos direcionar apoio e reembolsar parte desses custos para a reabertura desses empreendimentos. O reembolso é elegível para os valores utilizados com serviços de reparo, manutenção ou reposição de equipamentos e mobiliários danificados pela enchente (MEI até R$ 3 mil, MEs até R$ 10 mil e EPPs até R$ 15 mil). O prazo médio para esse valor ser enviado é de até 45 dias.
Sabemos que será preciso um esforço de todas as esferas para reaver a grande maioria desses lugares. Como os empreendedores poderão contar com o Sebrae?
Além do Sebraetec Supera, temos um site que faz a curadoria de informações sobre as principais medidas de apoio para as empresas que é o Juntos pelo RS. As consultorias subsidiadas em até 100% para a recuperação dos negócios podem ser acessadas pela nossa plataforma Unio e atendem pontos importantes como Mapeamento de Processos, Gestão do Fluxo de Caixa e Capital de Giro, Layout Produtivo, Gestão de Compras e Estoques entre outras áreas. Além disso, somos parceiros de iniciativas de coletivos de empreendedores como os Produtores Gaúchos Unidos, Cozinhas de Recomeço e o CompreRS que também dão suporte e apoio a retomada das pequenas empresas do setor de alimentos e bebidas.
Qual a estimativa de tempo para que as coisas retomem a normalidade, ou o mais próximo disso?
O problema é complexo e empresas foram afetadas de diferentes formas em diferentes regiões. Os negócios de gastronomia, dependendo do perfil, dependem do fluxo de pessoas, dos trabalhadores e da normalidade das atividades econômicas e em muitas regiões esse fluxo ainda vai demorar para voltar ao normal.
Depois de desastres, vemos que os lugares entendem que o turismo é um grande aliado para reconquistar visitantes. O que Porto Alegre deve fazer para reestabelecer o seu turismo e a sua identidade a partir de agora?
A gastronomia, principalmente a que é realizada em pequena escala, priorizando insumos e a tradição local, tem a capacidade de atrair visitantes e apaixonados pela cultura e por diferentes formas de expressão. Porto Alegre é a grande vitrine do RS, tem capacidade de mostrar o que temos de melhor no nosso Estado. Somos um Estado influenciado por diferentes tradições e com pessoas talentosas à frente das cozinhas e de restaurantes que podem estar nas listas dos melhores do mundo. Temos serviço de qualidade, receitas fantásticas e insumos diferenciados oriundos da nossa terra que fazem a nossa oferta gastronômica única e de destaque no nosso continente. Valorizar e divulgar cada vez mais a cozinha gaúcha, os produtos de pequenos produtores rurais e o serviço da cozinha e salão dos nossos restaurantes vai ajudar a atrairmos visitantes que buscam hospitalidade, autenticidade e origem.