O ator Luciano Mallmann se prepara para dar adeus a Carlinhos, seu personagem em Elas por Elas, que chega ao fim dia 12. Em seu primeiro papel de destaque na telinha, ele celebra a oportunidade de mostrar seu talento para além de sua condição de pessoa com deficiência. Em entrevista, ele conta como as ações de acessibilidade na TV Globo e destaca a importância da representatividade no audiovisual.
Houve adaptações importantes no set de gravações para facilitar tua mobilidade em cena?
A estrutura da Globo possui muita acessibilidade. Os estúdios, o ponto de apoio de produção ao lado da cidade cenográfica e os sets de filmagem são todos acessíveis, com rampas e banheiros adaptados. Dentro dos Estúdios Globo (antigo PROJAC) o meio de transporte utilizado para locomoção são os carrinhos elétricos. Alguns deles são acessíveis para cadeirante e a produção da novela, para facilitar, já deixou um fixo, reservado para me levar para o estúdio ou cidade cenográfica no dia em que vou gravar. Quando é uma externa (gravação fora da Globo) é utilizado um ônibus camarim de apoio no set , que é acessível, com elevador.
Uma das coisas principais para garantir a nossa acessibilidade é nos perguntar o que precisamos, se tudo o que está sendo oferecido está de acordo com nossas necessidades. E isto aconteceu desde o início do trabalho. Todo mundo sempre foi muito atencioso e cuidadoso para que eu tivesse as melhores condições de trabalho durante todo o processo.
Carlinhos é cadeirante, mas a história dele não gira em torno disso. Acha importante interpretar um personagem que tenha outras questões que vão além da deficiência?
Nós, que temos algum tipo de deficiência, não somos definidos exclusivamente por ela. A deficiência é apenas uma de nossas características dentre tantas outras que possuímos. Até na nomenclatura, o correto é utilizar "pessoa com deficiência", para enfatizar que a pessoa sempre está à frente da deficiência que ela possui. Este entendimento é adquirido principalmente com a convivência, nem todo mundo conhece ou tem a oportunidade de conviver com uma pessoa com deficiência.
O Carlinhos, personagem que interpreto, é cadeirante como eu e isso não é o que justifica a sua existência na história: ele trabalha, se relaciona, se apaixona como qualquer outra pessoa. O Carlinhos abordou o assunto da sua deficiência só lá pelo meio da novela. Até então a sua simples presença já era de grande importância neste processo de naturalização, que acaba tendo muita força já que atinge muita gente através do alcance e poder de impacto de uma novela.
Nos últimos anos, temos notado um movimento importante de inclusão de PCDs no audiovisual, mas ainda há muito o que avançar. Na tua opinião, o que ainda falta ser feito para incluir cada vez mais, sem distinções?
Estamos melhorando a passos lentos, mas conquistando aos poucos cada vez mais espaço. É fundamental o entendimento dos autores, diretores e produtores de que o processo de inclusão e superação é coletivo e que eles fazem parte disso. Quanto mais personagens com deficiência estiverem presentes na dramaturgia, com os diferentes tipos de deficiência sendo retratados nas histórias de forma real (como é na vida) e sempre sendo interpretados por artistas com deficiência, melhor vai ser para que nossa presença seja constante e não apenas pontual.
Por outro lado, nós, artistas com deficiência devemos continuar sempre nos aprimorando para que estejamos cada vez mais preparados para quando surgirem oportunidades de trabalho.