A nova produção da Netflix O Mundo Depois de Nós (2023), estrelada por nomes como Julia Roberts, Ethan Hawke, Mahershala Ali e Kevin Bacon, já figura entre os conteúdos mais assistidos da plataforma e tem gerado debates nas redes sociais. Disponível no serviço de streaming desde sexta-feira (8), o filme mostra o mundo em um cenário apocalíptico, levantando uma série de questionamentos e reflexões sobre tensões contemporâneas.
Na trama, os Estados Unidos sofrem uma queda repentina de energia que devasta o país, impossibilitando o acesso à TV e à internet, assim como a checagem de informações sobre o que estaria acontecendo. O desfecho do filme tem gerado reações do público, as quais indicam uma série de críticas sociais — como a dependência da humanidade nas tecnologias, o individualismo e o racismo — e também causando discórdia entre aqueles que não entenderam o final da história.
Estrelas no elenco
O que também chama atenção é o elenco repleto de estrelas, entre elas, Julia Roberts, Mahershala Ali, Ethan Hawke, Myha’la Herrold e Kevin Bacon.
Além disso, outro destaque da obra é o envolvimento do ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama e sua esposa, Michelle Obama. Os dois atuaram como produtores executivos.
A trama
Alerta! O texto a seguir contém spoilers do filme O Mundo Depois de Nós
Inspirado no livro homônimo do escritor norte-americano Rumaan Alam, de 2020, O Mundo Depois de Nós conta a história de duas famílias que precisam lidar com fenômenos estranhos que começam a se manifestar em meio a um apagão de energia inexplicável. Enquanto a tecnologia está ruindo, um cenário apocalíptico começa a se formar.
Amanda (Julia Roberts) e Clay (Ethan Hawke) alugam uma casa para passar um período de descanso com os filhos. Entretanto, no meio da noite, a família se depara com um casal assustado batendo à porta. São Ruth (Myha'la Herrold) e G. H. (Mahershala Ali), que afirmam ser os proprietários da residência. Eles alegam que uma queda repentina de energia devastou a cidade e, sem outro lugar para ir, decidiram rumar para a casa de veraneio em busca de abrigo.
A partir disso, as famílias precisam dividir o imóvel e lidar com preconceitos enraizados, principalmente relacionados à classe social e raça. Em meio a uma distopia cibernética, todos tentam salvar suas vidas enquanto o mundo entra em colapso: animais mudam seus comportamentos, navios de carga derivam sem rumo em direção à terra, aviões caem do céu, um barulho estridente misterioso perfura o ar, e também carros da marca Tesla, de Elon Musk, colidem uns com os outros.
Final em aberto - "não saber é assustador"
Apesar de todos esses acontecimentos, o filme encerra com um final em aberto, sem dar uma resposta sobre quem estaria por trás do apagão e sem deixar explícito o motivo pelo qual o país teria sido desconectado.
Por outro lado, espectadores têm apontado possíveis significados nas entrelinhas do desfecho. Na interpretação de parte do público, o individualismo, o preconceito, a dependência tecnológica e o sentimento de superioridade estadunidense descritos na narrativa seriam os possíveis motivadores do apocalipse e reflexão proposta pela obra.
Em entrevista à Variety, o autor do livro, Rumaan Alam, explicou que deixar o final em aberto foi uma escolha consciente:
— Seria um ataque cibernético, um ato de guerra ou um desastre ambiental que causou o colapso da civilização? Por isso é tão assustador, não saber é assustador.
Ao Tudum, evento da Netflix, o diretor Sam Esmail disse que o impacto da tecnologia na sociedade sempre foi algo lhe fascinou, porque considera que a forma como as pessoas interagem entre si mudou completamente desde o seu advento. Dessa forma, ele afirmou que cultivou o interesse por desenvolver o longa.
— Já fazia algum tempo que eu estava interessado em fazer um filme-catástrofe e queria especificamente fazer um sobre um ataque cibernético, porque não acho que muitas pessoas tenham uma ideia concreta de como seria ou quão prejudicial seria, não apenas na América, mas globalmente — afirmou.
O que diz a crítica especializada
Parte da crítica especializada classificou o filme como ruim. Outros o comparam a um episódio genérico da série Black Mirror, conhecida por suscitar temas a respeito das consequências imprevistas das novas tecnologias na humanidade.
"Por vezes, O Mundo Depois de Nós parece um episódio estendido — e genérico — de Black Mirror. Em outras, remete ao cinema de M. Night Shyamalan, diretor especializado em propor uma abordagem mais intimista do fim do mundo (vide o já clássico Sinais, vide o recente Batem à Porta, vide também Tempo, que acaba de entrar no menu da Netflix). E volta e meia resvala para convenções dos filmes apocalípticos, a despeito de uma sequência realmente criativa, impactante e — o pior — plausível que ocorre em uma estrada", refletiu Ticiano Osório em sua coluna de GZH em 11 de dezembro.
"A tensão racial entre as duas famílias é um dos únicos temas devidamente explorados nas quase 2h30min de filme. De resto, a produção não parece ter uma direção clara sobre o que se propõe: é uma visão específica de como as pessoas enfrentam o fim do mundo que conhecemos ou uma crítica à dependência da tecnologia? Paranoia americana, teorias da conspiração, catástrofes da natureza e racismo se enfileiram nos temas do filme menos como um pensamento organizado e mais como sintomas de um desarranjo social que Esmail nota e traz para o filme a título de interrogação", escreveu Flávio Pinto, crítico do Omelete, no dia 8 de dezembro .
"É uma visão bem americana do mundo, equilibrada num eterno fio de navalha entre a confiança cega numa superioridade absoluta e uma paranoia alimentada por inimigos reais e imaginários", opinou Beatriz Izumino em crítica no jornal Folha de S. Paulo.
"O final do filme parece uma piada. Está fortemente implícito que o que sobreviverá ao apocalipse não será a humanidade, a beleza, a boa vizinhança ou mesmo a civilização, mas a mídia física, os DVDs que ainda funcionarão quando a Internet e os streamers caírem", apontou a crítica de cinema Alissa Wilkinson no The New York Times.
Já o crítico de mídia Brian Lowry, da CNN, concluiu que o filme é genuinamente inteligente, diretamente relacionado com a realidade. "O que quer que se tire disso, O Mundo Depois de Nós deve desencadear conversas além de clicar no botão “curtir”. Por essa medida, dê crédito a Esmail por um filme que para cima, para baixo ou para os lados torna difícil desviar o olhar", opina.