Mais um gaúcho foi flagrado vagando largado e pelado por aí. Desta vez, trata-se do porto-alegrense Tiago Chagas, o Tito, que participa da segunda temporada do reality show de sobrevivência Largados e Pelados Brasil. A primeira edição, exibida em 2021, teve o bajeense Itamar Charlie como representante do Estado — à época, o gaúcho causou bastante confusão e deu o que falar entre os desnudos do programa.
A segunda edição de Largados e Pelados Brasil está disponível na plataforma de streaming Discovery+ desde o final do ano passado, mas nesse domingo (3) entrou na grade de programação do canal por assinatura Discovery, ampliando o alcance de audiência. A maior visibilidade é celebrada por Tito, que vê no programa uma oportunidade para transmitir uma mensagem de amor e respeito à natureza, além de "desmilitarizar a sobrevivência", uma de suas principais bandeiras.
— No streaming, a gente está escondido no aplicativo, somos uma bolinha bem pequenininha dentro da página inicial da plataforma. Mas quando o programa entra na grade do Discovery, o leque se abre e se torna um canhão — reflete o porto-alegrense.
No reality, Tito passou 21 dias sobrevivendo na selvagem Meta, na Colômbia, em meio a intempéries climáticas e presença de animais silvestres e peçonhentos. A região é um planalto tropical recortado por savanas secas nas partes altas e, nas porções mais baixas, preenchido por grandes áreas alagadas e florestas. O clima dificultou bastante a jornada, diz o gaúcho.
— Havia uma dificuldade de administrar a temperatura, porque se subíamos para a savana, fazia mais de 44°C; abaixo, às vezes chegava a 13°C. A gente sofreu bastante — lembra.
Mas se fosse só isso, seria fichinha. Durante os 21 dias de sobrevivência na região inóspita, o gaúcho esteve sem comida e água potável à disposição, sem abrigo para dormir ou se proteger da chuva e, é claro, sem roupas — o reality não se chama Largados e Pelados por acaso. Só o que ele tinha era a companhia diária da cuiabana Kamila, com quem formou dupla (na reta final, também encontrou as outras duplas da edição); um mapa e um conjunto de utensílios como facas e panelas, disponibilizados pela produção do programa.
Além disso, contou com dois itens que escolheu para levar ao desafio, conforme permitem as regas do programa. À moda bagual, Tito optou por levar um facão e uma pederneira (uma espécie de bastão com de magnésio que pode ser atritado para produzir faíscas, ajudando a fazer fogo).
— Tu consegues ganhar o mundo com esses dois itens — afirma o gaúcho. — Com o facão, eu construo, eu caço, eu faço de tudo. Com a pederneira, posso fazer fogo, que também é primordial para a segurança e para o aquecimento dentro da floresta — explica.
Escorpião, cobra e jacaré
Os itens, porém, não ajudaram tanto na missão de encontrar alimento. Tito explica que, ao perceberem a presença humana, os animais da região se esconderam, dificultando a missão de caçar. Por isso, ele e Kamila passaram praticamente a primeira semana inteira somente bebendo água e comendo algumas plantas, em uma dieta que girava em torno de 300 calorias por dia. A consequência foi vista na balança: o gaúcho perdeu 13 quilos em 21 dias de desafio.
Com tão pouca comida à disposição, tudo o que encontravam poderia virar alimento. Até mesmo escorpião e cobra, bichos que Tito comeu sem pestanejar. A cobra, aliás, foi celebrada por ele e sua dupla como um banquete.
— Essa cobra, apesar de pequena, foi a nossa única proteína em muitos dias. Foi um alimento substancial, nos ajudou muito, deu uma injeção de ânimo. Nós agradecemos bastante depois de encontrá-la — conta. — E tava bem boa, viu? Com um gostinho de bacon (risos). Assim, na verdade, ela fica com gosto de tudo, né? Porque você está caindo de fome.
Mas encontrar um animal nem sempre era motivo para agradecer. Ao menos não foi quando Tito ficou lado a lado com um jacaré de quase três metros de comprimento.
— Levei um susto! — lembra ele.
O réptil estava próximo a uma das armadilhas que Tito e Kamila haviam montado. Quando o gaúcho se aproximou do local, sem perceber a presença do jacaré, ele saltou de onde estava, mas por sorte acabou correndo para a água. O episódio foi como um alerta para que o gaúcho refletisse e buscasse encontrar novamente seu equilíbrio.
— Eu estava com tanta fome que fui direto conferir a armadilha, mas não podia ter feito isso sem primeiro observar o entorno. Depois que isso aconteceu, eu pensei: "Bom, preciso parar e respirar". Serviu para que eu me coordenasse e voltasse a prestar mais atenção no ambiente.
Outro ensinamento que Tito leva do Largados e Pelados diz respeito ao convívio e respeito às diferenças. O porto-alegrense confessa que não é nada fácil passar 21 dias acompanhado de uma pessoa totalmente desconhecida, sem roupas e tendo que lidar com as mais variadas adversidades, mas também enxerga na experiência uma oportunidade de crescimento.
— O Largados e Pelados está longe de ser um desafio só de sobrevivência — afirma. — Às vezes tu acabas discutindo por pouca coisa, porque, poxa, não é fácil estar ali. Ao mesmo tempo, tu precisas ajudar aquela pessoa e aquela pessoa precisa te ajudar. Ainda tinha o fato de a Kamila ser quase 20 anos mais nova que eu, mas a gente conseguiu contornar bem todas as situações. Ela se tornou uma irmã para mim.
Volta pra casa
A primeira coisa que Tito fez ao fim do desafio de sobrevivência, ao chegar no hotel, foi ligar para a esposa, Regina, e o filho, João Vitor, de 13 anos. Também chorou muito, "detonou um rango" e comemorou ter conseguido persistir durante os 21 dias, cumprindo a promessa que havia feito para a companheira.
— Quando saí de casa, a minha esposa disse: "Tu não me parece aqui antes dos 21 dias" (risos) — lembra Tito. — Ela me apoiou demais, pois sabia que era um grande sonho meu. Sou fã do Largados e Pelados há, sei lá, 10 anos — detalha o gaúcho, que também se inscreveu para a primeira temporada brasileira, mas não foi selecionado.
Apesar do apoio da família, a estratégia de Tito para conseguir chegar ao fim do desafio foi justamente não pensar na esposa e no filho. "Manteiga derretida", como se define, ele sabia que a sobrevivência ficaria ainda mais difícil se começasse a lembrar dos momentos com os familiares.
— Pisei lá como se eu fosse a única pessoa do mundo. Se eu pensasse neles, sentiria saudade e não conseguiria administrar esse sentimento — explica. — Nunca cogitei desistir, sempre pensei que fui para completar os 21 dias, sobreviver e mostrar que sou capaz. Mas a gente chora, a gente sorri, a gente fica bravo... O emocional vai de zero a cem, de cem a mil e de mil a -10 em questão de minutos. Só que tu não podes te deixar abalar.
Quando voltou para casa, a choradeira foi generalizada. Tito chorou de felicidade, tanto pelo reencontro com os familiares quanto por ter se dado conta de todos os privilégios que tem, após passar 21 dias sem privilégio algum.
O gaúcho diz que a experiência ensina a valorizar mais as coisas simples da vida:
— A gente vive em meio ao luxo e nem se dá conta. Quando eu cheguei lá, eu não tinha absolutamente nada; quando voltei para casa, eu vi que eu tinha tudo, inclusive o amor do meu filho e da minha esposa.
Tito, que é lutador e trabalhou quase a vida inteira como professor de artes marciais e de defesa pessoal, iniciou uma nova empreitada profissional após o Largados e Pelados. O porto-alegrense abriu uma escola de sobrevivência, a Tito Extreme Survivor, voltada a ensinar técnicas a quem deseja mergulhar no universo do sobrevivencialismo ou apenas aprender a se virar melhor na natureza — para acampar, por exemplo.
E caso seja chamado para uma nova temporada de Largados e Pelados, ou talvez um spin-off, o gaúcho diz estar mais do que disposto:
— Há versões do Largados e Pelados em que os participantes precisam sobreviver por 40, até 60 dias. Espero um dia ser chamado.