Largado, pelado, sem chimarrão e sem churrasco. Itamar Charlie, 46 anos, gaúcho natural de Bagé que participou da versão brasileira do reality de sobrevivência Largados e Pelados, do Discovery+, contou detalhes da experiência vivenciada no programa — passar 21 dias em uma região selvagem da Colômbia, em meio a intempéries e presença de animais silvestres, sem comida à disposição, água, abrigo ou roupas.
Casado, pai de dois filhos e militar da reserva, o representante do Rio Grande do Sul atua como instrutor de sobrevivência e já tinha experiência neste tipo de desafio. E foi justamente o desejo de "provar que o gaúcho também pode" que o levou a se inscrever para participar do reality, que não oferece nenhum tipo de prêmio em dinheiro ao final.
— Sempre que surgiram heróis, foi porque eles foram desafiados a fazer alguma coisa. Eu não sou um herói, mas sou uma pessoa que está querendo fazer alguma coisa e se destacar em relação a outros que também já fizeram. Se outra pessoa sobreviveu por 500 horas, por 21 dias, porque o gaúcho não pode? — disse Itamar em entrevista ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha, nesta sexta (12).
Para encarar o desafio, o gaúcho tinha o direito de levar até dois itens de sobrevivência a sua escolha. Ele optou por um mosqueteiro e uma cambona — espécie de bule usado na região da Campanha para fazer café ou esquentar água para o chimarrão, mas que também pode ser usado como uma panela. O objeto campeiro característico do Sul, porém, não foi aceito pela produção do programa.
— Cheguei lá e minha cambona foi reprovada, porque eles não conhecem a cultura do gaúcho de usar cambona. Eles disseram: "Pra que tu quer uma caneca grande?". E eu disse: "Não, isso é uma cambona". Aonde eu fui eu sempre levei minha cambona — contou, revelando já ter levado o item para desafios de sobrevivência que participou no Pantanal e na Amazônia, sem nenhum problema. — Cheguei lá e os gringos não gostaram da cambona do gaúcho — acrescentou.
Além da frustração pela separação forçada de sua fiel companheira, Itamar precisou conviver com uma vizinhança pouco amigável: grandes felinos como pumas e onças, sucuris em seu habitat natural e o crocodilo do Orinoco, maior predador da América Latina, além de aranhas e insetos peçonhentos. Ainda assim, o mais difícil para ele foi a alimentação — sem carne disponível, a não ser que caçasse animais, o jeito foi trocar o amado churrasco por plantas que encontrava na natureza.
— Com a alimentação por vegetais eu tive dificuldade porque eram bem ruins os vegetais. Nos primeiros episódios, já está aí a cara feia do gaúcho comendo coisa que não é carne — brincou o bajeense, que emagreceu 13 quilos durante o programa.
— Eu não consegui pegar muitos animais porque no meio deles é difícil de caçar. E, quanto mais cansado, quanto mais tempo eu ficava na sobrevivência, menos energia eu tinha, menos força para montar uma armadilha eu tinha — relatou ainda.
No dia em que conseguiu improvisar um "churras", teve mais gente querendo tirar uma lasquinha:
— A gente caçou e o nosso churrasco atiçou os pumas. Os pumas queriam pegar o nosso churrasco. Mas isso eu vou deixar para o pessoal ver...
Até o momento, apenas os dois primeiros episódios do Largados e Pelados Brasil foram disponibilizados no Discovery+ — os demais serão lançados semanalmente na plataforma de streaming, sempre às quartas. Itamar, porém, adiantou que conseguiu completar os 21 dias sem desistir e que tirou lições que levará para a vida.
— Hoje a gente dá valor até para uma cadeira que a gente senta — refletiu.