Quando The Idol foi exibida no festival de Cannes, em maio, o criador Sam Levinson respondeu à onda de críticas negativas à série afirmando que tudo isso indicava que "vamos ter o maior programa da temporada". Não foi bem assim. A produção da HBO chegou ao fim no último domingo (2) da mesma forma que começou, cinco semanas atrás: causando confusão e revolta tanto na crítica especializada quanto no público geral.
Atenção! O trecho a seguir contém spoilers.
A trama da estrela pop Jocelyn (Lily-Rose Depp) e de seu namorado/guru Tedros (The Weeknd) teve um plot-twist em seu quinto e último episódio. A mocinha, que apareceu em inúmeras cenas sofrendo nas mãos de Tedros e de sua mãe, no passado, se revelou a grande vilã da história.
No fim das contas, Jocelyn mentiu sobre estar em relações abusivas para ganhar a simpatia do público e da sua equipe. É ela quem manipulou Tedros o tempo todo, usando ele para conseguir inspiração para suas músicas.
— Ao longo da temporada, Jocelyn buscou inspiração. Ela está procurando ir para um lugar desconfortável, e está apenas procurando a próxima música, o próximo álbum. Tedros se torna o canal para esse desbloqueio criativo — descreveu Levinson, em entrevista ao Deadline. — (Jocelyn) precisa devorar as pessoas ao seu redor para sentir que tem algo a dizer.
Também fica implícito que a cantora articulou para que seu ex-namorado, Rob (Karl Glusman), fosse acusado falsamente de estupro e que sua ex-amiga e dançarina, Dyanne (Jeannie), acabasse sem conseguir lançar uma carreira musical. Enquanto isso, Jocelyn conseguiu o que queria. Em uma última cena chocante, ela sobe ao palco de sua nova turnê e chama Tedros se referindo a ele como o "o amor de sua vida".
Repercussão de The Idol
Com o público, a virada pegou mal. Na manhã desta segunda-feira (3), críticas se acumulavam nas redes sociais, com reações negativas em razão dos rumos da trama e de revolta por Jocelyn ter ido de vítima de abuso a grande vilã. No agregador Rotten Tomatoes, The Idol contém 41% de aprovação do público e 22% da crítica.
Alguns comentários apontam que a trama descredibilizou relatos de estupro e abuso vindos de celebridades. "Ao incluir essa falsa narrativa de estupro, o criador Sam Levinson empoderou todos os poderosos de Hollywood que negam as alegações das vítimas. Ele deu poder aos abusadores", apontou o jornal Daily Beast.
O portal Vulture frisou que essa mensagem é passada justamente pela atriz Lily-Rose Depp, filha de Johnny Depp — que recentemente se envolveu em um escândalo de violência doméstica com sua ex-namorada, Amber Heard. "Outra parábola que é um pouco decepcionante é que ela (Jocelyn) teve que passar por isso (abusos) por sua arte. (...) Direto para uma bonança de dinheiro", debochou a publicação.
Além disso, o público criticou o roteiro. Para a Variety, o final de The Idol "conseguiu desapontar, não oferecendo reviravoltas chocantes nem catarse eficaz". Apesar de tentar abordar a indústria musical e a fama de forma crítica, a série "não foi tão ofensiva quanto seus detratores alegavam nem tão 'revolucionária' quanto Sam Levinson acreditava", passando "clichês redutores como transgressão radical".