Enquanto documentários, séries e podcasts sobre true crimes correm livres por aí, fazendo sucesso e gerando horas e mais horas de entretenimento para o público brasileiro, um jovem senhor está sentado em sua cadeira, olhando de longe, orgulhoso por ter pavimentado a estrada por onde estas produções desfilam. Ele, porém, sente falta de estar com a sua audiência, que até hoje se lembra com carinho — e um pouquinho de medo — daquelas noites em que crimes eram expostos para todo o país, que muitas vezes era convidado a ajudar na busca pelos suspeitos.
Este jovem senhor é o Linha Direta e, agora, 16 anos depois de ir ao ar pela última vez, retorna ao ar nesta quinta-feira (4), na tela da RBS TV, a partir das 23h, trazendo a essência que o tornou um sucesso inesquecível para os brasileiros. A apresentação, desta vez, será de Pedro Bial, enquanto a direção-geral do programa ficará sob responsabilidade de Gian Carlo Bellotti — eles, inclusive, já trabalham lado a lado há sete anos em produções como Conversa com Bial e Em Nome de Deus, série documental sobre os casos de abuso praticados pelo médium João de Deus.
Ou seja, a dupla tem experiência em crimes reais e, principalmente, em entrevistas, algo que vai ser um dos diferenciais deste novo Linha Direta: além das reconstituições dos casos, também haverá uma parte em que Bial conversará com pessoas envolvidas nas histórias abordadas pelo programa. O apresentador é um dos trunfos da atração, na opinião de Bellotti, pois tem vasta experiência em se comunicar com o público e, ainda, conta com a expertise do jornalismo — o comunicador assina a redação final da atração.
O diretor-geral do Linha Direta enxerga que essa volta conversa com o atual momento da sociedade, que está fascinada com as produções que resgatam crimes reais. Para Bellotti, é a curiosidade das pessoas, em paralelo com a violência dos dias atuais, que desperta tal interesse do público — e, mesmo com o programa tendo a experiência de ser um dos pioneiros do formato no Brasil, exibido entre os anos 1990 e 2000, esta nova versão ainda buscará se encaixar no gosto dos atuais consumidores, sendo multiplataforma.
Assim, além da parte documental, o programa terá uma expansão em áudio, o Linha Direta Podcast, que entregará conteúdo extra, com impressões de Bial e depoimentos de bastidores vivenciados por roteiristas, pesquisadores e pela produção do programa. Além disso, terá versão estendida dos casos e mergulhará no círculo familiar de pessoas que tiveram ligação com as vítimas. O podcast será publicado sempre no dia seguinte ao programa da televisão — ou seja, nesta sexta-feira (5), estará disponível nas plataformas de áudio.
— Lá atrás, o Linha Direta já era um projeto inovador, contando com a participação do público, e teve a função social de ajudar a prender mais de 400 foragidos. A gente agora conta com alguns elementos bastante distintos, como o uso da tecnologia. Antes, havia cem pessoas atendendo telefone dentro da Globo para receber as respostas do público. Hoje, a gente conta com uma infinidade de câmeras de segurança, imagens de celular e também uma turma especializada em investigações digitais — explica Bellotti.
A linguagem, mais voltada para contar a história de uma forma diferente, também é um dos elementos que devem ajudar a fisgar o público para esta versão repaginada do icônico programa. A ideia é destrinchar os casos abordados, ajudando a analisar os crimes e entender as camadas que envolvem a história — incluindo a adição de laudos de perícia em 3D.
Tempo
Esta primeira temporada de Linha Direta conta com 10 episódios, que terão apresentação, reportagem, entrevistas e simulações de crimes que ganharam destaque na sociedade brasileira nos últimos 15 anos. O primeiro a ser abordado é o caso de Eloá que, em 2008, foi sequestrada e assassinada pelo seu ex-namorado, Lindemberg Alves. Ele invadiu o apartamento da jovem de 15 anos em Santo André, no ABC Paulista.
— O distanciamento de tempo é bastante importante. É diferente de uma notícia televisiva, de uma matéria de jornal factual. A gente, agora, tem a possibilidade de analisar o crime, a situação, olhar com outros olhos. Podemos analisar, inclusive, os erros da imprensa, da polícia — detalha o diretor-geral. — Apesar de a gente achar que já viu muita coisa sobre o caso, quando começamos a mergulhar dentro dos arquivos, vendo de forma cronológica, percebemos que era surreal. Alguns dos casos, inclusive, parecem ficção, de tão surpreendentes.
A nova leva de episódios do Linha Direta, apesar de trazer elementos distintos, deve também manter outros, que faziam parte da aura do programa — incluindo um dos traumas de infância de toda uma geração: o medo que ele despertava, principalmente ao mostrar, no final, que o autor do crime retratado seguia à solta.
— A gente curte muito a atmosfera investigativa. Eu acho que temos episódios com histórias pesadas. A gente tenta entregar uma roupagem mais elegante, não temos vontade de fazer um espetáculo do crime, queremos discutir aquela história, mas o medo está presente. Está dentro do DNA do programa. E a gente tem o trabalho social, que eu acho bem forte, de terminar com uma foto estampada de um foragido da justiça. Então, é assustador — finaliza Bellotti.