Negrinho do Pastoreio. Salamanca do Jarau. Sepé Tiaraju. Não foi nesta segunda temporada de Cidade Invisível que as famosas lendas do folclore do Rio Grande do Sul apareceram na série da Netflix. Porém, elas podem dar as caras nos próximos anos da atração. E isto quem diz é o criador do programa, o cineasta carioca Carlos Saldanha.
— Pensamos em todos os cantos do Brasil. Isso está sempre na sala de criação. A gente tem um mapa de todas as entidades, de todas as histórias. São mais de 350 lendas. Mas pensamos muito aí (no Rio Grande do Sul). Tem muito espaço aí. Se Deus quiser, claro, se a segunda temporada fizer sucesso, a gente faz uma terceira — afirmou.
Mesmo que as mais badaladas estrelas do folclore gaúcho não tenham sido apresentadas para o grande público, uma lenda de origem árabe e popular pelo interior do Estado foi adaptada e inserida na realidade do Pará, onde a série se passa neste segundo ano: os zaoris, que são homens com olhos brilhantes e que conseguem enxergar tesouros escondidos.
— A lenda dos zaoris veio com a imigração e se transformou dentro do contexto do Brasil, mas é mais forte no Sul do que no Norte. A gente trouxe para o Norte porque o zaori é a entidade que vê o ouro, então a gente trouxe para esses lados — explica Saldanha, detalhando que o personagem é importante para a trama da atração.
Passando-se dois anos após os eventos da primeira temporada, os novos episódios de Cidade Invisível, agora, deixam o Rio de Janeiro e se passam no Pará, onde as lendas locais serão exploradas e o universo da série, que foi lançada em 2021, será expandido.
Ao mesmo tempo em que o folclore, ou seja, histórias de muitos anos atrás, ganham protagonismo, temas atuais dividem o tempo de tela. São retratados assuntos como garimpo ilegal, dizimação dos povos originários e violência doméstica. E tudo isso dando mais destaque para os indígenas, um ponto falho e que foi uma das principais reclamações do público sobre o primeiro ano da atração.
— Aprendemos muito com a primeira temporada. E a premissa de Cidade Invisível sempre foi tratar o folclore e as entidades como reais. E se eles estão entre nós, quem são eles? Então, é humanizar essas entidades e trazer problemas reais, do dia a dia, que não são problemas fantásticos — detalha o criador do programa.
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Um dos personagens que surgem neste segundo ano é a bruxa Matinta Perera, interpretada por Letícia Spiller. Ela tem papel importante nos três primeiros episódios da série ao qual a reportagem teve acesso — no total, são cinco nesta nova temporada, que estreia nesta quarta-feira (22). Outras lendas também percorrem a tela, como o lobisomem e a mula sem cabeça, com relevância para a trama e contando com a ajuda de maquiagem e efeitos especiais de ponta para que a história seja contada da melhor maneira possível.
Voltando para os seus postos, estão Marco Pigossi, que vive o protagonista Eric, Manu Dieguez, que interpreta a sua filha Luna, e Alessandra Negrini, a Cuca. E, separado, o trio precisa se reencontrar, após o final de Eric na primeira temporada, sendo levado embora pelas entidades — e o próprio, inclusive, descobre ser uma. Agora, ele faz partes do mundo dos seres fantásticos.
— Pela primeira vez, o Eric está mergulhado nesse universo do mágico, do poderoso. Então, ele está tendo que lidar com essa força externa que ele não tinha na primeira temporada. Para mim, esse foi o grande desafio. Como ator, é muito mais rico e muito mais interessante brincar com isso. Eu lembro que, na primeira temporada, todos os personagens eram incríveis, cheios de bandeiras. E eu falava: "Também quero um poder"— diz Pigossi, aos risos.
O astro explica ainda que, apesar de agora estar entre as entidades, o fio condutor da jornada de Eric segue sendo o instinto paternal de proteger Luna, que agora é uma adolescente, mudando física e psicologicamente, durante os dois anos em que o pai esteve sumido. E este reencontro foi emocionante para Pigossi e Manu, que não se viram durante dois anos, devido a pandemia.
— Eu estava morrendo de saudade do Marco — conta Manu.
Já o ator explica que ambos, ao se reencontrarem, tentaram levar aquele sentimento para a cena, imaginando o sentimento de pai e filha após anos afastados:
— Como é que esse pai encontra essa filha, que cresceu tanto? E o tempo que ele perdeu, que ele poderia ter curtido, vivido e estado com ela? Então, isso foi uma coisa que a gente tentou imediatamente trazer para os ensaios, para a cena, para entender como seria esse reencontro deles.
Outra novidade em Cidade Invisível é Graciela Guarani, que faz parte do time de diretores da série e tem origem indígena. E, com o seu olhar conectado com o universo da atração, ela conta que teve muito cuidado para levar a série ao público, tendo como desafio dar atenção aos detalhes, preocupada até com os sotaques de uma região para outra do Pará. Ela acredita que valorizando a cultura do país, com o produto sendo bem aceito dentro de casa, o sucesso fica mais fácil:
— Se reverbera de uma maneira positiva aqui, dificilmente, quando vai para fora, terá outro sentido.
Não por menos, Cidade Invisível é uma das grandes apostas nacionais da Netflix e, em sua primeira temporada, esteve entre as séries mais populares da plataforma de streaming em mais de 40 países. Um sucesso.