Escolado em papéis cômicos, Nelson Freitas vem tentando mostrar sua versatilidade com personagens bem distintos dos que o apresentaram ao público. No cinema, encarou recentemente o desafio de viver um personagem real e complexo: Eike Batista. A história do empresário pode ser vista no filme Eike – Tudo ou Nada, que acaba de chegar ao catálogo da Netflix. No elenco, estão ainda Jonas Bloch, Juliana Alves e Carol Castro – intérprete de Luma de Oliveira, ex-mulher de Eike. Em bate-papo com Retratos da Fama, Nelson Freitas relata os desafios de interpretar alguém vivo e polêmico, conta sobre sua estreia recente no YouTube e analisa a situação atual da cultura no país.
Você interpreta Eike Batista no cinema. Como foi a composição desse personagem? Quais são as maiores dificuldades em interpretar alguém que existe, e ainda está vivo? Você chegou a entrar em contato com o próprio Eike antes de começar a gravar?
Foi um desafio e tanto, sobretudo porque ele não é uma criação aleatória, ele está aí… É uma interpretação de um personagem que nos é contemporâneo e não dá para inventar muito. É uma personalidade controversa e rica, não só pelo que acumulou financeiramente, mas peloque ele viveu. Minha posição é fio da navalha… Foram 2 meses de preparação e me debrucei em uma quantidade imensa de vídeos e entrevistas que tínhamos à disposição. Procuramos fugir do estereótipo da imitação ou qualquer coisa que transparecesse isso.
Com tantos projetos no cinema e no streaming, tem algo em vista na TV?
Na TV aberta, não tenho nenhum projeto em vista, pelo menos até agora. Apesar de ter recebidos alguns convites, nenhum foi atrativo a ponto de desviar da rota.
Você completou 60 anos recentemente. Acha que há menos oportunidades de trabalho nessa faixa etária?
Pelo contrário, cada vez mais se faz necessário a experiência e o expertise. Mas é evidente que o funil aperta, porém as oportunidades são inúmeras nesse momento de plena transformação que passa o áudio visual e da maneira que se consome os conteúdos.
No YouTube, teu trabalho é bem diversificado. Como foi entrar nessa plataforma, você planejou e pesquisou que tipo de conteúdo se adequaria, voltado para que público? Costuma responder aos comentários, interagir com os internautas?
Tenho feito um grande esforço para responder e prestigiar as pessoas que não só escolheram se inscrever, mas sobretudo as que me dão a honra de comentar no canal. Nosso público é bem específico, pois os assuntos que decidimos levar são de alguma forma para inspirar, pautas que achamos relevantes, e mesmo guardando o tempo do vídeo, procuramos ser um pouco mais profundos e atrativos
Como avalia a atual situação cultural no Brasil, agora que já podemos falar em um período "pós-pandemia"?
Eu penso que enquanto não tivermos uma transformação retumbante na estrutura da base da educação, na valorização dos professores do ensino fundamental, que possa varrer como uma onda todo o território nacional, para que uma única geração possa ter algum pensamento crítico mais apurado, vamos continuar trocando alhos por bugalhos… Nossa cultura vem sendo, ao longo dos anos, nivelada por baixo. Cada vez menos espaços para os clássicos ou temas relevantes que possam fazer da nossa arte sua verdadeira função como ferramenta de transformação. Me lembro de na juventude ter tido acesso à literatura de qualidade, onde mesmo nas escolas tínhamos que ler livros fora do currículo escolar que nos iluminava a alma e o intelecto. Hoje, a mediocridade tomou conta das telas dos celulares, dos conteúdos de massa, e dentro do ambiente da escola pública, estamos caminhando para trás, pensando apenas em agendas universitárias, onde o indivíduo já chega com saldo devedor, formando uma massa de incapacitados, que mal sabem ler ou escrever… É uma tragédia para um país gigante como o nosso, uma potência que poderia estar figurando entre os melhores do mundo.