Independentemente do rincão, quando uma mesa é posta por volta do meio-dia no Estado, a televisão está sintonizada no Jornal do Almoço. É como se fosse um prato indispensável na refeição dos gaúchos. Tendo estreado no dia 6 de março de 1972, na então TV Gaúcha, o telejornal tornou-se um hábito para a população, como tomar chimarrão ou comer bergamota lagarteando no sol.
Para celebrar seus 50 anos, o Jornal do Almoço deste sábado (5), às 11h45min, na RBS TV, será especial. O telejornal será transmitido fora do estúdio, em uma locação descrita como impressionante. O JA vai trazer um documentário dividido em quatro partes contando a história do programa — o que inclui personagens, momentos marcantes, relatos de bastidores e curiosidades.
A partir de segunda-feira (7), o telejornal irá exibir uma série de reportagens especiais chamada 50 Anos de JA. O quadro abordará mudanças de comportamento, avanços tecnológicos, grandes coberturas e personalidades que passaram pelo programa. Também haverá um episódio sobre os fãs do telejornal. São oito reportagens, sendo duas por semana ao longo de março.
Coube ao repórter Cristiano Dalcin a missão de ouvir entrevistados e reunir o material, contando com a edição de Adriane d’Avila e Robson Stefani. A história começa com Clóvis Prates, criador do Jornal do Almoço.
Quando foi ao ar pela primeira vez, o JA estreou em um horário então desacreditado. Por ser exibido na mesma faixa de horário nobre do rádio, o projeto era considerado ousado. Hoje é um dos programas mais antigos entre todos os apresentados pela Globo ou por suas emissoras afiliadas.
— Naquele início, a equipe comemorava cada mês no ar, fosse um ou dois. Ninguém sabia quanto iria durar. A história mostrou que todo mundo estava enganado — diz Dalcin.
Os primeiros apresentadores foram Cláudio Andara e Wilson Rivoire na parte de notícias, enquanto Tânia Carvalho era a responsável pela parte de variedades. Aliás, Tânia é uma das personagens do documentário. Para ela, o Jornal do Almoço já trazia desde sempre um frescor e informalidade:
— As pessoas que estão à frente do programa, como a Cristina Ranzolin, são extremamente carismáticas. É alegre e descontraído, sempre muito atual.
Além de Tânia, o documentário também aborda outras personalidades que integraram o JA nesses 50 anos, como Maria do Carmo e Lauro Quadros. Há um tributo a Paulo Sant’Ana, relembrando algumas de suas proezas — como quando se vestiu de baiana após o Bahia derrotar o Inter na final do Brasileirão, em 1989, ou quando simulou um desmaio com o título do mesmo campeonato conquistado pelo Grêmio em 1981.
Há espaço até para um integrante "não humano": no começo dos anos 1990, o programa contava com o cachorro-boneco Látila, que realizava reportagens.
Entre os momentos relembrados está o incêndio que destruiu parte das instalações da TV Gaúcha, no Morro Santa Tereza, em 1972. Na ocasião, o JA passou a ser apresentado dentro de um galpão até o estúdio ser reconstruído. Também é lembrada a vez em que Os Menudos foram ao programa, nos anos 1980 — a produção chegou a construir arquibancadas dentro do estúdio. Outro momento que o documentário resgata é o quadro Diário de um Bebê, de 2000, mostrando como está o bebê Bruno hoje em dia.
Longevidade
Uma fórmula do Jornal do Almoço, que atravessa as décadas e pode ser apontada como uma das responsáveis pela longevidade do telejornal, é a naturalidade na comunicação.
— Todas as pessoas dizem que o JA trouxe uma maneira mais natural de se falar. Até então, só havia os locutores lendo a notícia sisudamente — descreve Dalcin.
Silvio Barbizan, editor-chefe do Jornal do Almoço, destaca que o JA é um programa que fala a mesma língua dos gaúchos, mas sempre no tom adequado. Ele ressalta que o telejornal se qualifica também pela capacidade de adaptação.
— JA é muito amplo, já que pode tratar dos mais variados assuntos. Da notícia do dia ao show, ao humor ou ao comportamento. Esses fatores, costurados com os critérios sólidos do jornalismo de credibilidade, instantaneidade e equilíbrio, são alguns dos segredos da longevidade do programa — pontua o editor-chefe.
Barbizan ainda sublinha a intensa participação do público, diariamente com sugestões, críticas e pedidos:
— JA mostra o Rio Grande do Sul, e os gaúchos se veem ali, se abastecendo de informações, conhecimentos e serviços.
Para Ellen Appel, gerente-executiva de Telejornalismo da RBS TV, a relevância do JA se fortalece a cada dia com um jornalismo ético e responsável. Ela frisa que o programa tem espaço para todas as opiniões:
— Os assuntos das rodas de conversa, as notícias que impactam a vida das pessoas, os temas que tratam do desenvolvimento do Estado naturalmente fazem parte do JA, que valoriza também as boas notícias e as histórias inspiradoras. E a conexão do Jornal do Almoço com os gaúchos ganha força pelo Estado. É um telejornal que tem o poder de alcançar todo o Rio Grande do Sul.