Entre os 210 milhões de brasileiros, 17,9% vivem à margem de um preconceito velado. E essa realidade das pessoas de 60 anos ou mais, em meio à luta por direitos básicos e de conexão com seus familiares, será retratada em Falas da Vida, especial que a RBS TV exibe nesta noite, logo após Império, para celebrar o Dia Internacional dos Direitos da Pessoa Idosa, comemorado anualmente em 1º de outubro.
Formado por cinco depoimentos de idosos de diferentes regiões do país, o programa conta com a apresentação de Zezé Motta, uma das vozes mais ativas de sua geração. Atual vice-presidente do Retiro dos Artistas, casa no Rio de Janeiro (RJ) fundada em 1918 que acolhe mais de 50 profissionais da área cultural em situação precária, Zezé aponta a resistência como o valor essencial para este momento da geração mais experiente.
— É lastimável a situação do idoso no Brasil. Tem aquela coisa básica, que é comida no prato hoje, vacina no braço, e falta tudo isso. Se não temos o básico, imagina pensar no idoso? Ele acaba ficando sempre em segundo plano. Não existe um pensamento elaborado de forma decente para quem chega à terceira idade. Temos muita luta pela frente — aponta a cantora de 77 anos.
Após a virada dos 50, a apresentadora conta que passou a enxergar a vida de outra maneira, com a maturidade e a experiência lhe ajudando a encarar diferentes projetos profissionais. “Desencanar” de pequenas atitudes das outras pessoas foi um dos processos mais importantes nesta fase de vida, conta Zezé.
Comandar o Falas da Vida — uma “responsabilidade muito grande”, segundo ela — acabou se encaixando na agenda como uma forma de falar diretamente com seus pares.
— Minha rotina é trabalhar todos os dias. Olha, não paro mesmo. Todo dia tem alguma coisa, dizem que sou onipresente (risos). Sonho todos os dias com um mundo melhor, sem fome, sem desigualdade, sem racismo... Esse é o meu sonho de vida, e por isso estou neste especial — reforça a artista.
Histórias
A direção de Falas da Vida é de Patrícia Carvalho, que assinou o especial Falas Femininas com Antonia Prado, exibido no primeiro semestre deste ano na Globo. Ao contrário do programa anterior, que apostou em mostrar a potência das mulheres, as pessoas com mais de 60 anos são retratadas em suas particularidades.
Patrícia aponta que um dos maiores medos foi identificar a solidão entre os entrevistados. De fato, essa situação acontece — mas é enfrentada com resiliência e força de vontade. O cantor Joãozinho Carnavalesco, de 74 anos, e o faxineiro Francisco de Assis Alves, 89, encaram este cenário com animação.
Os outros três depoimentos vão ao encontro de três mulheres ativas e independentes. Gracinda Senna, de 72 anos; Regina Pereira, 62; e Albertina Rocha, 75, são consideradas o ponto central da emoção e das finanças de suas famílias.
— Não existe esse negócio de “apesar da idade”. Apesar de limitações inevitáveis, tudo ainda pode ser sonhado. Acredito que Falas da Vida é um especial inspirador e encorajador, nossa expectativa é gerar esse sentimento em quem nos assistirá — destaca Patrícia.