Um dos maiores sucessos da década de 1990 acaba de chegar ao streaming brasileiro: Família Dinossauros entrou no catálogo do Disney+ na quarta-feira (18). Exibida originalmente de 1991 a 1994, nos Estados Unidos, a série tornou-se um fenômeno mundial ao apresentar com naturalidade e bom humor o dia a dia de Dino, Fran, Bob, Charlene, Baby e Zilda, os seis integrantes da família Silva Sauro.
Com uma série de inovações para a época, desde a tecnologia aos temas abordados, a atração chegou ao Brasil pela primeira vez em 1992 e logo conquistou o público. Abaixo, confira curiosidades que explicam por que amamos tanto a Família Dinossauros.
Tecnologia revolucionária
O programa foi idealizado por Jim Henson, famoso também pela criação de Os Muppets. Família Dinossauros foi a primeira parceria dele com a Disney e contava ainda com Michael Jacobs e Bob Young na equipe criativa. Experiente no trabalho com bonecos, Henson exportou a tecnologia animatrônica (animatronics) desenvolvida por sua empresa para a atração, considerada revolucionária para a época.
Os dinossauros eram, na verdade, atores que vestiam fantasias robotizadas. Os "bonecões" eram feitos de espuma de látex e fibra de vidro e continham dezenas de micromotores responsáveis por mover olhos, boca, sobrancelhas e testa. A movimentação desses motores era controlada externamente pela direção do programa, de modo que a expressão facial dos personagens não dependia dos atores que estavam por baixo da roupa. A eles cabia apenas vestir as fantasias e dizer as falas, captadas por meio de um microfone interno (veja detalhes do funcionamento no vídeo abaixo).
Quem são os dinos?
À época, o público não conseguia entender direito como os personagens eram feitos. "São bonecos ou são pessoas?": era o que todos queriam descobrir.
A produção se aproveitou dessa curiosidade para manter o interesse dos espectadores. Na primeira temporada, a equipe era proibida de filmar ou fazer fotos dentro do set do programa. A intenção era evitar que alguma imagem dos atores vestidos com os trajes animatrônicos vazasse e, assim, acabasse estragando o mistério sobre a identidade dos dinossauros.
Além disso, havia receio de que a revelação das pessoas por trás dos personagens pudesse acabar afastando o público infantil do programa — já que a imagem de um ser "metade humano, metade dinossauro" circulando por aí poderia ser um pouco assustadora para as crianças.
Identificação
Mas, além da tecnologia inovadora e da capacidade de despertar a curiosidade dos espectadores, a identificação foi outro ponto alto de Família Dinossauros. Afinal, quantas pessoas não se enxergavam na realidade jurássica dos Silva Sauro?
Um pai preocupado em conseguir pagar as contas de casa, frequentemente se metendo em encrencas e outras vezes dando conselhos para os filhos mais velhos ou sendo alvo da revolta do filho mais novo (não é a mamãe!). Uma mãe multitarefas que tenta entender seu papel na sociedade enquanto precisa cuidar da casa e da família. Entre os filhos: um adolescente questionador, uma pré-adolescente materialista e um bebê para lá de sapeca e apegado à mamãe. Parece familiar?
Pois bem, esse é o principal segredo da série: traduzir dilemas comuns a muitas famílias, mas tudo no universo dos dinossauros. A fórmula deu certo e a produção acabou conquistando adultos e crianças.
Temas sensíveis
Aliás, apesar do apelo com o público infantil, o programa abordou diversos temas importantes. Em forma de paródias e metáforas, Família Dinossauros trouxe para o debate questões como assédio sexual, machismo, maus-tratos a idosos, alienação e mudanças climáticas.
Um dos episódios mais impactantes é o que marca o encerramento do programa e trata, justamente, da extinção da vida por conta de ações de agressão ao meio ambiente. Batizado de Mudando a Natureza, o capítulo mostra uma infestação por agrotóxicos que acaba gerando uma série de reações em cadeia para o meio ambiente, culminando no início de uma era glacial que devastaria a Terra.
"Neve contínua, escuridão e frio extremo. Aqui é Howard Handupme. Boa noite. E adeus!", é o que diz o apresentador do programa de televisão simulado dentro do episódio, deixando subentendido que todos acabariam por morrer. A mensagem final do programa foi tão emblemática que, em alguns países, o episódio acabou por não ser exibido; em outros, veio acompanhado de um aviso de conteúdo sensível.
TV na TV
Além de abordar pautas sociais importantes, o seriado fazia uma série de referências ao mundo real. Entre elas, os programas de TV assistidos pela família Silva Sauro, como a DTV (Dino Television), uma paródia da MTV, DSPN (Dinosaurs and Sports Programming Network), em alusão ao canal ESPN, e o programa infantil Blarney, lembrando o dinossauro roxo Barney, fenômeno entre as crianças da época.
Já no episódio Conduzindo Miss Zilda, por exemplo, há referências a trechos de Jurassic Park e Conduzindo Miss Daisy. Em A Terrível Criança de Dois Anos, que mostra o segundo aniversário de Baby, o filme O Exorcista é homenageado com a cena em que o pequeno dinossauro vira a cabeça em 360º.
Mas Família Dinossauros também não perdia a chance de criticar a relação excessiva das pessoas com a TV. Como esquecer, por exemplo, do episódio em que Bob fica tão hipnotizado com a programação que simplesmente esquece de respirar? Ou aquele em que todos os dinossauros começam a apresentar dificuldade em realizar as tarefas mais simples do cotidiano porque foram "imbecilizados" pelas atrações de baixa qualidade da televisão local?
Nomes adaptados
Com a entrada de Família Dinossauros na TV brasileira, em 1992, os nomes de alguns personagens foram adaptados à cultura do país: no original, Dino se chamava Earl, Zilda era Ethyl e Bob era chamado de Robbie. A maior mudança foi no sobrenome da família, que de Sinclair passou para Silva Sauro.
Em mais uma referência à vida real, os nomes originais dos personagens faziam alusão a empresas de petróleo norte-americanas. Sinclair, o sobrenome da família, Hess, sobrenome de Roy, e Phillps, último nome de Zilda, eram alguns deles.
Entre as espécies dos dinossauros, Dino era um megalossauro; Fran, um alossauro, e Richfield, o chefe de Dino, um tricerátopo.
Fenômeno no Brasil
A família Silva Sauro fez tanto sucesso desde sua estreia no país que um ano depois já ocupava um horário nobre: em 1993, a atração passou a ser exibida dentro da TV Colosso, uma das maiores audiências da emissora.
O programa também tornou-se um verdadeiro fenômeno de marketing. Bonecos, chaveiros, roupas, acessórios e álbuns de figurinhas foram alguns dos itens produzidos a partir dos personagens, que viraram febre entre crianças e adultos da década de 1990. Contribuíram para o fenômeno os bordões "Querida, cheguei", de Dino, e "Não é a mamãe", de Baby.
Até mesmo um LP de músicas gravadas pelos dubladores da versão brasileira foi lançado, o Babymania.
Apesar disso, Família Dinossauros começou a perder audiência nos Estados Unidos e a produção foi cancelada em 1994. No Brasil, o programa ainda foi exibido anos depois pelo SBT e pela Band.