Um grupo de jovens, em uma cidade de interior, está incomodado com uma lenda horripilante. Mortes estranhas passam a acontecer. Estamos falando de Stranger Things? Até poderia ser. Mas este é o mote de Rua do Medo, trilogia de terror que estreia nesta sexta-feira (2) na Netflix.
Após o boom da franquia criada pelos irmãos Duffer, a plataforma de streaming parece estar sedenta atrás de um sucessor para o posto de trama teen permeada por boas doses de suspense. Os protagonistas de Rua do Medo são um pouco mais “crescidinhos” do que os de Stranger Things, mas nem por isso o espectador vai deixar de comparar os dois títulos.
Adaptação da série de livros de R.L. Stine, sucesso de vendas na década de 1990, esta nova franquia é ambientada em Shadyside, uma cidade do interior dos Estados Unidos, que é conhecida por ser a “capital das mortes”, como anuncia um apresentador de TV, ainda nos créditos iniciais do primeiro longa. A bruxa Sarah Fier foi enforcada na região no século 17 e se acredita que a alma dela vaga, de tempos em tempos, entre as pessoas da cidade, provocando o surgimento de serial killers.
Logo na abertura de Rua do Medo: 1994 – Parte 1, a jovem Heather (Maya Hawke, a Robin, de Stranger Things) é morta dentro de um shopping center por um homem fantasiado de caveira. O assassino consegue ser aniquilado pelo xerife da cidadezinha ali mesmo, ainda sob o corpo da vítima. Mas, o que ninguém espera, é que o espírito de Sarah seguirá vagando e vai incomodar as vidas dos jovens dali.
A única que não acredita muito na teoria é Deena (Kiana Madeira). Cansada de ouvir o noticiário, ela aposta que os ataques ocorrem por conta da loucura que a própria cidade interiorana causa em seus moradores. O irmão mais novo dela, o nerd Josh (Benjamin Flores Jr), vai na linha contrária: conversa com internautas sobre teorias, coleciona antigos recortes de jornal sobre os crimes e tenta traçar quais são os próximos passos do assassino possuído.
As crenças dos dois entram em choque quando Samantha (Olivia Scott Welch), paixão platônica de Deena, sofre um acidente de carro exatamente na área em que estão os restos mortais da bruxa. O espírito da criatura, então, reaparece para se vingar. Assim, Deena e Josh se unem a Kate (Julia Rehwald), paixão adolescente de Josh, e Simon (Fred Hechinger), um nerd inconsequente amigo de Deena, para resolver o enigma em meio aos ataques e salvar Samantha.
Homenagem
Os primeiros 20 minutos de A Rua do Medo dão a impressão de que estamos diante de uma franquia sangrenta, já que a sequência inicial é toda calcada no serial killer fantasiado correndo pelo shopping de Shadyside. Em seguida, os diálogos soltos apresentados por Leigh Janiak (que assina a direção e o roteiro) evidenciam os dramas adolescentes enfrentados pelos personagens e trazem mais leveza para o longa.
Esta aparente paz, no entanto, acaba minutos depois. Novas cenas de perseguição dão vazão ao filme, mas o espectador consegue relevar tudo ao perceber que se trata de uma elaborada homenagem a diferentes filmes de slasher (gênero em que um assassino psicopata sai matando aleatoriamente), como as franquias Pânico e A Hora do Pesadelo, ambas do mestre Wes Craven.
Ao final do primeiro longa, em que as pontas pareciam resolvidas, um telefonema e um grande letreiro de “continua” explodem na tela. Nas próximas duas sextas-feiras, os dramas de Shadyside continuam em Rua do Medo Parte 2: 1978 e Rua do Medo Parte 3: 1666 – e somente eles dirão se a franquia, de fato, vai preencher o vazio deixado por Stranger Things. A julgar pelo elenco bem afinado e a fotografia densa, que explora muitos tons escuros, o experimento parece ter dado certo.