Uma cena divertida e inusitada, que pode até causar estranheza ao espectador, abre a série Meu Amigo Bussunda. Os humoristas do Casseta e Planeta – Urgente! estão reunidos circundando o comediante, que está aparentemente desmaiado diante de uma mesa, e começam a questionar se ele teria morrido.
— Estão espalhando na internet que você, além de morto, é corno, boiola e vascaíno — questiona Reinaldo Figueiredo.
— Qual é? Vascaíno? Nem morto! — levanta Bussunda, flamenguista declarado, empurrando os colegas e reagindo à provocação.
A sequência resgatada de arquivo é um recado do que virá pela frente. Com depoimentos de amigos, familiares e produtores, Meu Amigo Bussunda estreia nesta quinta-feira, exatos 15 anos após a morte do humorista: naquele 17 de junho de 2006, ele sofreu um ataque cardíaco durante a cobertura da Copa do Mundo da Alemanha. Por isso, nos quatro episódios disponibilizados no Globoplay, o espectador se verá em um misto de choro e boas risadas.
Os diretores Claudio Manoel (companheiro de Bussunda no humorístico) e Micael Langer (das cinebiografias de Wilson Simonal e Chacrinha) garantem que o mais impactante será ver os depoimentos – alguns deles foram surpreendentes para a própria trupe.
— Um caso é o da Miriam, que era uma produtora do programa, que ajudou no quebra-cabeça das memórias das pessoas que estavam com o Bussunda lá na Alemanha. Ela entregou, no documentário: "Ele era o único que perguntava como eu estava". Isso desmoronou a gente — recorda Langer.
Além de dirigir o material, Manoel é uma espécie de personagem-entrevistado. Nos três primeiros episódios, que são apresentados de forma cronológica, ele aparece revisitando fotos e relembrando a vida de Cláudio Besserman Vianna, o Bussunda. Tudo intercalado com imagens raras do humorista e a recuperação de personagens marcantes, como as imitações de Ronaldo Fenômeno e Vera Fischer e a atuação como o Marrentinho Carioca, atacante mimado do Tabajara Futebol Clube. A própria Vera dá seu depoimento sobre o humorista, assim como o jogador Zico e a comediante Maria Paula.
O quarto episódio vai além da história pessoal. Com direção de Júlia Besserman, filha do humorista, o material promove uma reflexão sobre a filosofia de vida seguida por ele, analisando o politicamente incorreto, uma de suas marcas registradas.
Estreando como diretora, Júlia garante que a experiência foi reconfortante:
— Eu não tinha visto mais os programas desde a morte dele e essa revisita foi catártica: começou sendo doloroso, mas depois que pude rever os trejeitos, ouvir a voz dele e até piadas que não lembrava que ele fazia comigo, foi uma sensação de paz.
Luto
O processo de produção, assinada pela Emoções Baratas e Kromaki, também funcionou como uma espécie de muleta para Claudio Manoel. As gravações iniciaram em 11 de janeiro deste ano, um dia depois da morte da mãe dele. Mesmo sendo um material muito íntimo e que lhe fez recuperar antigas memórias do amigo, Manoel acredita que o trabalho foi a melhor forma de encarar o luto.
— Tanto do Bussunda como da minha mãe, o trabalho intenso e me debruçar com coisas de carga leve foram o melhor remédio. Quando remexi em algumas coisas, a dor veio de volta, mas com um bom acompanhamento, uma boa equipe técnica e um bom motivo, teve dias que disse: "Hoje foi foda" — conta o humorista.
Além do legado para o humor, sendo um exemplo para as gerações seguintes, Júlia vê que o pai lhe deixou uma mensagem positiva para a vida: é preciso sempre brincar e aprender, em tudo o que se faz.
— Ele dizia que a gente só envelhece quando paramos de brincar e de aprender, de forma equilibrada. No final das contas, o pai sempre dizia que tudo iria dar certo e ele sempre usou o humor para combater o meu medo do escuro, de fantasma (risos). A vida vale a pena quando fazemos isso — finaliza ela.