Regiane Alves tem aprontado poucas e boas na telinha ultimamente. Na pele de Dóris, em Mulheres Apaixonadas (2003), reprisada pelo canal Viva, voltou a chocar o público com a forma como tratava os avós, Flora (Carmem Silva, 1916 – 2008) e Leopoldo (Oswaldo Louzada, 1912 – 2008). Na reexibição de Laços de Família (2000), sucesso que chega ao fim amanhã no Vale a Pena Ver de Novo, a atriz interpretou Clara, uma jovem mimada e egoísta, que infernizava a vida da rival, Capitu (Giovanna Antonelli). Desde o início de março, Regiane marca presença como Cris, a ambiciosa personal trainer de A Vida da Gente (2011), em edição especial no horário das seis. Três tipos tão diferentes mas, em comum, o fato de serem odiadas pelo público. Usando o termo que está em alta, as três são "canceladas" por diversos motivos.
Aos 42 anos, a paulista, natural de Santo André, se diverte com as reprises e interage com o público nas redes sociais:
— Essa troca tem sido muito legal. Para mim, tem um lado gostoso de ver que fiz bastante coisa nesses mais de 20 anos de carreira.
Em bate-papo por e-mail com o DG, Regiane fala sobre suas personagens mais marcantes — e odiadas —, reflete sobre a importância de cada trabalho e conta como enfrenta o isolamento social imposto pela pandemia de coronavírus. Confira!
Como tem sido a experiência de rever três trabalhos tão diferentes nas reprises de Laços de Família, Mulheres Apaixonadas e A Vida da Gente?
Tem sido uma delícia. E eu estou, pela primeira vez, acompanhando esses trabalhos e vendo a repercussão junto nas redes sociais, comentando com os fãs. Esse lado, essa troca tem sido muito legal. Para mim, tem um lado gostoso de ver que fiz bastante coisa nesses mais de 20 anos de carreira e papéis diferentes entre si. Isso é bastante gratificante.
Essas três personagens têm em comum não serem muito queridas pelo público, né? Você acha que é um desafio maior interpretar esse tipo de papel? Já vi atrizes dizerem que é mais difícil viver mocinhas. O que você acha?
Mais ou menos, sabia?! A Dóris, por exemplo, as pessoas adoravam odiá-la (risos). Juro, fãs tinham uma loucura por ela. Agora, na reprise de Laços de Família, vi uma turma torcendo pela Clara, que achava que ela só estava lutando pela família. É engraçada essa percepção do tempo e do nosso momento atual. A Cris, de A Vida da Gente, tem um humor. É um dos poucos lugares onde o humor transita na trama. Eu gosto muito de fazer personagens diferentes de mim, que exercitem a minha reflexão, que me façam sair da zona de conforto. Não penso se é mocinha ou vilã... Apesar de as vilãs terem um charme e permissão de fazerem tudo numa obra.
Na reta final de Laços de Família, veremos que, apesar de tudo, Clara se dá bem. Você acha que, hoje em dia, Manoel Carlos teria escrito um final diferente para ela?
Acho que só o Manoel Carlos poderia responder essa pergunta, mas eu vou dar a minha opinião, tá?! (risos). Ele é um autor que não cria vilões. Ele cria seres humanos, que, muitas vezes, podem ser tortos, ter desvios de caráter. No caso da Clara, ela tinha aquele apego de não desfazer o casamento e uma preocupação com o que os outros iriam falar, sabe? E isso a fazia agir de maneira errada, claro. Acho que, apesar do final, Clara só aprenderia mesmo com a maturidade e, com certeza, repetiria muitos erros.
O fato de maltratar os avós faz de Dóris a sua personagem mais odiada? Como tem sido a repercussão do público atual com a reprise de Mulheres Apaixonadas no canal Viva?
Como eu disse, ela era odiada. E tinha a turma que amava odiar a Dóris, porque, apesar da maldade, existia uma franqueza nela que as pessoas curtiam. É muito legal rever um trabalho tão marcante para nós, que trouxe tantas coisas boas. Por causa da Dóris, vimos uma mudança no trato com os idosos, e isso reverberando na lei (a novela impulsionou a criação do Estatuto do Idoso em 2003). Muito legal quando um trabalho tem essa proporção, essa força. Tenho o maior orgulho de ter feito essa personagem.
O que você tem feito para manter a serenidade (na medida do possível, é claro), neste um ano de pandemia?
Ioga e pilates são coisas que eu tenho feito na pandemia. Meditar. Não é fácil manter a serenidade. Estamos passando por um momento triste e delicado, com muitas incertezas sobre o futuro. Eu procuro ficar firme, porque tenho duas crianças (João Gabriel, seis anos, e Antonio, cinco, frutos do casamento com o diretor João Gomez, de quem se separou em 2017) em casa e preciso ser essa força para eles. Busco orientar, conversar, ser esse porto... Mas, no meu íntimo, tem dias difíceis mesmo, apesar de todo o privilégio que me cerca. Fico pensando sobre todas as pessoas que precisam trabalhar e ir para a rua, as que estão no hospital, as que não têm leito... É uma realidade dura.
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