Trinta e oito anos se passaram desde a primeira vez que Roberto Berliner, empunhando sua câmera no meio do Circo Voador, no Rio de Janeiro, estabeleceu uma relação para a vida toda. No palco, os Paralamas do Sucesso faziam mais um show que estaria na memória do produtor audiovisual, que se tornou amigo dos artistas acompanhando as mais diferentes fases e turnês. Essa proximidade, alimentada por dezenas de materiais de arquivo e registros históricos, está detalhada em Os Quatro Paralamas, novo documentário sobre a trajetória do trio que estreia nesta segunda-feira (19), às 22h15min, no canal Curta!.
Berliner aproveita todos os materiais que filmou, ao longo de todos esses anos, para mostrar conteúdos inéditos. Uma conversa informal de Herbert Vianna, Bi Ribeiro e João Barone com o empresário José Fortes - o quarto elemento, conforme o título do filme - guia a produção, mostrando desde a formação do trio até a histórica apresentação no Rock in Rio de 1985, que impulsionou ainda mais a carreira nacional e internacional.
Entre os materiais que estão no especial, o público poderá conhecer músicas antigas inéditas e o quarteto lembrando de faixas e momentos que ficaram no passado. O momento tenso com o acidente sofrido por Herbert Vianna em 2001 - e a morte de sua esposa Lucy - também é destacado e serve para alimentar a história de união dos músicos.
— O público vai ver como foi a volta depois do acidente e como a banda se transformou junto. Acho que nenhum dos amigos próximos saiu ileso do trauma, mas o Zé, o Bi, o João e todos os amigos se juntaram pra trazer o Herbert de volta. Era muito amor, solidariedade, cumplicidade, ninguém soltou a mão de ninguém. Uma turma rara, e o filme fala sobre isso — explica Berliner, em entrevista por e-mail a GZH.
O projeto surgiu a convite do canal Curta!, e Berliner buscou a parceira de Paschoal Samora, que assina a codireção do documentário. Um primeiro corte, a partir da conversa do quarteto, foi feito e gerou quatro horas de conteúdo - o que renderia uma série com vários episódios, segundo o produtor audiovisual.
— Mesmo assim, o resultado final me deixou muito feliz, porque traz belas músicas e muita vida — garante ele.
A evolução musical é outro aspecto retratado pelo longa-metragem. Assim, o público passa a ver que o Paralamas deixa de ser uma banda de rock "comum" e aposta em instrumentos característicos de outros gêneros musicais, como o reggae, o ska e os tambores africanos da Bahia.
Essa ousadia é vista nos trabalhos recentes do trio. Na ativa divulgando o disco Sinais do Sim, lançado em 2017, os Paralamas divulgaram o clipe de Não Posso Mais, em março deste ano, trazendo um olhar sobre o distanciamento social imposto pela pandemia de coronavírus. Segundo Berliner, a banda segue com o mesmo pilar: abrir espaços para outras bandas, influenciar músicos e abraçar o seu público.
—Eles vão seguir fazendo isso, surpreendendo com novas composições nos encontros. Eles vão seguir tocando em muitos lugares Brasil adentro e Brasil afora, porque eles amam a estrada e muito do que fizeram vem dessa experiência num Brasil profundo — acredita o produtor audiovisual.
Amizade
A história de Berliner acaba se confundindo com a própria trajetória da banda. Ele conta que conheceu a esposa no show de lançamento do disco Big Bang, de 1989, e que sempre tirou o chapéu para todos os integrantes.
— A trilha sonora da minha vida passa por eles. Fora do palco, a leveza, o equilíbrio e o caráter do Zé são fundamentais nessa história única na música brasileira: quatro amigos inseparáveis que fazem uma banda de muito sucesso e, embora muita coisa mude, a amizade segue sendo a chave de tudo — detalha.
Essa relação é marcada, inclusive, por trilhas produzidas pelos Paralamas para filmes assinados por Berliner. Enquanto eles tocarem, o cineasta promete continuar filmando e fazendo filmes sobre o trio.
— No final das contas, falar deles é falar de mim e das coisas que amo. Ficamos amigos, casamos e nossas esposas se tornaram amigas, vivemos muitas emoções de perto. Essa amizade foi se estreitando com todos e com cada um é uma coisa única e com a banda ainda outra coisa — finaliza o diretor.