Um telejornal de apenas 30 minutos, exibido somente para o Rio de Janeiro naquele 21 de abril de 1971, tornou-se o companheiro de todos os brasileiros na hora do almoço. Esse é o Jornal Hoje, que completa 50 anos nesta quarta-feira (21), com o DNA de ser um programa que traz as últimas informações do dia. Por ser transmitido enquanto as notícias estão em andamento, ficou reconhecido como “o jornal do gerúndio”.
O programa da Globo surgiu como uma revista eletrônica para o público feminino, ancorada inicialmente por Léo Batista e Luís Jatobá. Era comum o público acompanhar as notícias em um bloco e, no seguinte, ver matérias sobre cultura, comportamento e moda. Ainda na primeira década, o JH passou a ser exibido nacionalmente e ganhou até mesmo uma seção de defesa do consumidor, ampliando sua proximidade com o telespectador.
De lá para cá, o JH foi ampliando sua relevância por trazer muita informação ao vivo. Maria Júlia Coutinho, a Maju, atual apresentadora do telejornal, acredita que companheirismo é a melhor definição do programa.
— É um jornal que está de olho no que acontece no momento, mas que está no almoço e no intervalo de trabalho das pessoas. Acho que é um jornal companheiro — define a âncora, que assumiu o posto em 2019.
Para ela, o mais prazeroso de comandar o JH é também o mais desafiador.
— Lidar com as notícias que chegam, muitas vezes ao longo do jornal, e embalá-las de uma maneira que fique tudo muito claro para o telespectador é exatamente isso: prazeroso e desafiador ao mesmo tempo. Há um prazer também em poder usar uma linguagem um pouco mais conversada, quando há essa possibilidade. Isso me move — garante Maju.
Ao longo das décadas, mesmo marcado pelas notícias do dia, o JH também se caracterizou por suas pautas mais soltas. Aos sábados, o público tinha a chance de acompanhar as tradicionais crônicas dos jornalistas e reportagens especiais com celebridades. Leda Nagle, que ancorou o telejornal entre 1977 e 1989, guarda com carinho a lembrança de entrevistas com Carlos Drummond de Andrade e Janete Clair.
— Eu escolhia os entrevistados porque eles estavam em destaque naquele momento ou fazendo uma coisa genial: na televisão, no teatro, na literatura. Sempre tinha um gancho jornalístico. A entrevista é uma conversa, um jogo delicioso, e, se o repórter gostar de ouvir história, é um jogo imbatível — destacou Leda em entrevista ao site Memória Globo.
Cristina Ranzolin, atual apresentadora do Jornal do Almoço na RBS TV, integrou a equipe do JH entre 1993 e 1996. Ao lado de William Bonner, a gaúcha apresentava as notícias e recebeu a missão de colaborar com pautas de cultura e comportamento. Com a força do hard news, Cristina lembra que a sua chegada ajudou a dar um tom mais leve para o noticiário.
— Nós tínhamos matérias com dicas, como ajudar a tirar mancha de roupa, era um conteúdo bem palatável e mais light. Foi muito boa essa transição do hard news para algo mais leve. Foi envolvente participar, porque tive um contato direto com todas as praças do país — recorda Cristina.
Importância
Além do tom mais descontraído, o Jornal Hoje também está na memória do público por grandes coberturas. Para Maju, as lutas para informar a população diante de uma pandemia e a atuação contra as notícias falsas exemplificam a importância do telejornal.
— Acho que só lá na frente, quando formos avaliar esse período, é que teremos a real dimensão da importância do jornalismo profissional que fazemos. Quando lemos relatos da época da gripe espanhola, eram os jornalistas e cronistas que informavam, que mostravam a situação e os números daquela época — compara Maju.
Sandra Annenberg, jornalista que ficou por mais tempo à frente do Jornal Hoje, recorda com carinho as diferentes fases do telejornal. Depois de 16 anos ininterruptos na função, ela destaca que o programa sempre foi uma “pausa que se alimenta de notícia” para os telespectadores, por fazer um resumo da manhã, destacar os fatos que estão acontecendo e projetar o que virá até o final do dia.
Os bastidores da estreia de Sandra, no dia 29 de janeiro de 1999, resumem bem a sensação do que é produzir o material jornalístico. A atual apresentadora do Globo Repórter lembra que seu início no JH ocorreu no mesmo dia em que a Globo inaugurava a nova sede em São Paulo, em abertura que foi marcada por uma visita do então presidente Fernando Henrique Cardoso com o jornalista Roberto Marinho.
— Eu os esperei no estúdio para mostrar as instalações e eles demoraram. Quase entraram no estúdio na hora do jornal (risos). Assim é a vida no JH: a vida ao vivo! — conta Sandra.