Por que mesmo Michelle Obama, a ex-primeira-dama dos Estados Unidos, está estrelando um programa infantil na Netflix? Disponível no catálogo da plataforma desde terça-feira (16), Waffles + Mochi traz a advogada contracenando com os simpáticos bonecos Waffles (metade panqueca, metade Iéti) e Mochi (provavelmente 100% bolinho de arroz).
Melhores amigos unidos pela paixão à culinária, os dois escapam por acaso da Terra da Comida Congelada, um rincão glacial praticamente saído de Frozen, em que "o sorvete nunca derrete, e os sonhos... bem, eles também ficam congelados". Dali, sua próxima parada é o mercado mágico em que a série é ambientada, com seus objetos falantes e a horta de Michelle Obama no terraço. É dela, inclusive, todo o empreendimento — e a decisão de contratar os inusitados bonecos como funcionários.
Inexperientes no mundo da comida de verdade, Waffles e Mochi embarcam a cada episódio em "aventuras deliciosas", que variam de uma jornada sobre a identidade do tomate até as particularidades de cogumelos. Ao longo dos 10 episódios que compõem a primeira temporada, cada um com meia hora de duração, eles ainda falam sobre arroz, milho, sal e batata. Tudo isso em um "magicarrinho", capaz de os levar até qualquer especialista ou chef ao redor do mundo.
É claramente uma grande ode à alimentação saudável — o que começa a explicar o envolvimento de Michelle, que tem como uma de suas bandeiras justamente promover comidas naturais e acabar com a epidemia de obesidade infantil nos Estados Unidos. Entre seus empreendimentos passados está até a criação de uma horta na Casa Branca, como ela narra em detalhes no livro American Grown (inédito no Brasil), publicado em 2012.
Fazendo a diferença
Michelle LaVaughn Robinson (seu nome de solteira) nasceu no sul da cidade de Chicago em 1964. Parte de uma família pobre, ela e o irmão, Craig, foram incentivados pelos pais desde cedo a se dedicar aos estudos e ambos acabariam se graduando em Princeton, uma das mais renomadas instituições dos EUA.
Michelle ainda completou sua educação com o diploma de Direito em Harvard. Dali, foi um passo para trabalhar em uma grande firma de advocacia, onde ela foi designada para ser a mentora de um outro estudante em 1989: Barack Obama. Três anos depois eles se casaram e, inspirada pelo senso de propósito do marido, ela deixou seu rentável emprego em busca de oportunidades para fazer a diferença em sua comunidade, que incluíram cargos em ONGs e em um hospital.
Tudo mudou, no entanto, quando Obama foi eleito o 44º presidente dos Estados Unidos em novembro de 2008, o que a tornou primeira-dama do país. "Depois de tudo que tinha feito para deixar o direito corporativo em nome de um trabalho mais significativo, voltado para a comunidade, eu sabia que seria mais feliz se pudesse me engajar ativamente e buscar resultados concretos", narra Michelle no livro de memórias Minha História (Becoming, no título original).
Foi deste sentimento, de querer fazer a diferença na vida das pessoas, que nasceu o ativismo de Michelle por um estilo de vida mais saudável para as crianças. Ela lutaria primeiro pela horta na Casa Branca, depois pela colaboração de grandes corporações, por uma legislação em favor da causa e um projeto paralelo para incentivar exercícios, intitulado Let's Move. Como ela reflete: "Eu sabia o que importava para mim. Não queria ser um enfeite bem vestido só para dar as caras em festas e cortar fitas em cerimônias de inauguração. Queria fazer coisas significativas e duradouras".
Mãe de duas meninas, à época, não é surpreendente que Michelle se preocupasse com as crianças. Mas ela também revela que sua afinidade com os pequenos vai além disso: "Com elas, eu voltava a me sentir eu mesma. Para elas, eu não era um espetáculo, era apenas uma senhora simpática meio grandalhona", escreve.
Portanto, nada mais natural que agora, quatro anos após deixar os eventos oficiais para trás, Michelle se volte para audiências mais jovens. Produzir e estrelar Waffles + Mochi é a continuação do trabalho que ela começou com suas aparições televisivas, que foram de talk-shows noturnos até uma participação em Vila Sésamo, sempre tratando temas sérios de forma divertida. É como se, para Michelle Obama, a pergunta não fosse por que protagonizar um programa infantil, mas sim: se pode ajudar, por que não?