Pode esquecer Manoel Carlos, João Emanuel Carneiro e até mesmo Glória Perez. O dramaturgo mais comentado e em exibição na TV brasileira, atingindo elevados índices de audiência, é o "roteirista" do Big Brother Brasil 21. Com menos de um mês de confinamento, as redes sociais borbulham com discussões a respeito dos mocinhos e vilões desta edição, alimentadas pela expertise da edição do programa, que diverte com os balanços sobre o andamento do jogo.
A cada semana, o público consegue perceber nuances folhetinescas em cada jogador. Mauro Alencar, doutor em Teledramaturgia Brasileira e Latino-Americana pela Universidade de São Paulo (USP), acredita que a mescla de realidade e ficção é o que justifica o sucesso do BBB, permeado por suas "acaloradas discussões e torcidas".
— Não tenho dúvida de que o BBB é o melhor exemplo de como a vida tornou-se um espetáculo e de como o entretenimento absorveu a vida numa constante recriação da realidade — reforça Alencar.
Valmir Moratelli, pesquisador e doutor em teledramaturgia pela PUC-Rio, aponta que a jornada do herói, aquele personagem que luta contra tudo para sair vitorioso no final, é uma constante na história do BBB. Segundo ele, Grazi Massafera e Jean Wyllis, na quinta edição do programa, são bons exemplos disso.
— Eles trilharam jornadas em que deslizes não foram aceitos ou, se eles ocorreram, eram menores do que os cometidos por outros participantes. Foram até a final e temos a Grazi atriz, reconhecida até hoje, enquanto Jean foi o grande campeão (e elegeu-se deputado) — destaca Moratelli.
Vilania
Alencar lembra que a figura do vilão surgiu ainda na Idade Média e, normalmente, ele "se sente dono do mundo". Assim, qualquer espectador assíduo do reality consegue reconhecer esta persona em Karol Conká, já que liderou a revolta da casa contra Lucas Penteado — que não aguentou a pressão e se despediu do reality. A rapper também promoveu combinações de voto em seu núcleo, formado por Nego Di, Lumena e Projota.
— Sem vilão, nenhuma história de ficção tem graça. Precisamos dele para segmentar a dramaturgia, alimentados pelo imaginário popular. A Karol não esconde isso: ela manipula, é a cabeça da ala do mal — pontua Moratelli.
Em alguns momentos, a curitibana foi vista atuando com muito deboche, e algumas de suas frases foram comparadas às ironias de Nazaré Tedesco, de Senhora do Destino, e Carminha, de Avenida Brasil.
— Nazaré e Carminha eram assassinas, não podemos esquecer disso (risos). Karol, na verdade, parece muito com Flora, de A Favorita, que acabou se revelando depois de alguns capítulos e surpreendeu o Brasil inteiro — compara Moratelli, lembrando que a personagem de Patrícia Pillar iniciou a novela como mocinha e, depois de um pouco mais de 50 capítulos, revelou sua faceta.
O lado do bem
Reconhecidos como sofredores no início de qualquer trama, e precisando passar por provações até atingir o final feliz, os mocinhos são os clássicos personagens do bem. Alencar destaca:
— É no mocinho que recai a mensagem de um mundo mais justo, de respeito ao próximo e de valor social. É natural que falhas existam em sua composição, particularmente quando se aprofunda na construção de sua personagem, abrindo brecha para o surgimento do "anti-herói". De qualquer maneira, seu eixo, sua espinha dorsal é o bem.
Conforme o andamento do programa, Juliette, Gilberto e Sarah se encaixam no conceito. Peitando Karol Conká e os vilões no jogo da discórdia, o trio tem conquistado as redes sociais. No entanto, Moratelli alerta que o doutorando em economia corre riscos:
— O Gilberto teve a fraqueza de se aproximar de Lumena e isso pode ser entendido como um deslize imperdoável para o público.
Mas o pesquisador acredita que ainda seja cedo para determinar os mocinhos, que mudam constantemente de persona:
— O Big Brother Brasil é uma obra aberta, porque está sendo construído semana a semana, então tudo pode acontecer.
Núcleo cômico
Como em qualquer folhetim, há aqueles personagens destinados a causar boas risadas. Neste cenário, encaixam-se Caio e Rodolffo, que não têm embates diretos no jogo. Segundo Moratelli, a edição do reality constantemente busca essa diversão dentro da casa, até para se reforçar como um produto de entretenimento, e os dois amigos são os grandes representantes dessa ala.
Ao se unirem em uma amizade aparentemente verdadeira, Caio e Rodolffo riem de si mesmos e contam com a surpresa de serem figuras que dificilmente cairiam no gosto popular.
— Eles são brancos, héteros, caipiras e grosseirões, então seriam facilmente odiados. A verdade é que eles são muito sentimentais. Essa amizade forte deles superou a expectativa anterior de que o BBB 21 seria diverso e preocupado apenas com a representatividade — analisa Moratelli.
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