No ano passado, as cidades gaúchas Antônio Prado e São Francisco de Paula se transformaram em Brígida, vila fictícia onde se passa Desalma, a nova série do Globoplay. A produção, que estreia nesta quinta-feira (22) no streaming, é um drama pesado em que casos sobrenaturais passam a ocorrer no local durante a realização da Ivana Kupala, uma festa tradicional ucraniana que será recuperada pelo vilarejo depois de 30 anos.
O mais inusitado é que o elenco e os criadores da seriado acreditam ter enfrentado, nas locações, "algo sobrenatural", pois diversos eventos isolados deixaram todos incomodados. O principal deles foi a ocorrência de um incêndio em uma cabana no Tedesco Eco Park, que deixou um funcionário ferido. Até hoje, as causas do incêndio são incertas.
A atriz Claudia Abreu concorda que a situação foi "estranhíssima". Segundo ela, se a história mexe com "certas forças", o universo retribui. Já a autora Ana Paula Maia acredita que o deus Veles - figura mitológica eslava - esteve no local, pois ele tem relação total com a trama de Desalma.
— Para mim, sempre foi a causa disso. Nós tínhamos gravado uma cena de invocação dele anteriormente e, sete dias depois, três da manhã, ocorreu o incêndio. Quando acordei na manhã seguinte, eu cismei por causa disso. Ele foi cobrar da gente (risos). Fiquei com essa sensação, porque a continuidade daquela parte teria sido feita no dia do fogo — lembra Ana Paula.
O diretor Carlos Manga Jr. relata que somente a cabana pegou fogo, mesmo estando em uma área cheia de folhas secas. Ou seja, o incidente poderia ter tido proporções ainda maiores.
— Acho que a gente mexe com forças e coisas muito delicadas. São forças da natureza que a gente invoca sem perceber. É uma série que tem muita fogueira acesa, muitos elementos, terra, floresta. Eu acho que tem a ver, sim, com o incêndio — reforça Ana Paula.
A cena ficou incompleta e, posteriormente, Cássia Kis precisou gravar uma narração no estúdio para fechar a sequência.
Voo
Ainda no primeiro episódio de Desalma, Haia (Cássia) é uma bruxa e leva oferendas para um ritual no meio da floresta. Naquela sequência, outro evento inusitado surpreendeu a equipe. Cassia lembra que carregava flores amarelas e que, em um certo momento, precisava olhar para o céu a fim de invocar as forças. No roteiro, apareceria um pássaro - que seria digital -, mas um verdadeiro surgiu no alto das árvores.
— A cena existiu, literalmente (risos). Eu olhava para o alto e veio aquela coisa gigante, do nada. Quem acompanhou a filmagem, ficou falando por meia hora, porque foi perfeito — lembra Cássia.
Quando percebeu a movimentação da vegetação por conta da ventania, Manga Jr. brinca que "se aproveitou da situação".
— Era o que qualquer diretor queria. Eu vi a movimentação, já pedi para levantar as câmeras e veio aquele pássaro. Quem viu, parecia um pterodáctilo, algo estranhíssimo mesmo — conta o diretor.
Neve e crenças
Além do incêndio, outro sinal de Veles foi o ritual de invocação, segundo Ana Paula Maia. O mito diz que, ao contatá-lo, a temperatura cai bruscamente e foi o que, de fato, ocorreu: esfriou a - 7ºC e nevou na região. A escritora ficou "apavorada":
— Eu senti que ele estava lá e tive uma certeza interna de que teve algo sobrenatural sim — reforça ela, lembrando que Veles também é o deus da abundância, "algo positivo".
Para Maria Ribeiro, Desalma também foi uma chance de rever suas crenças. Ela conta que sempre foi ateia e que sua personagem também é muito cética na trama. Durante as gravações, no entanto, ela teve uma perda "bem difícil" na família e acabou entrando em uma igreja com colegas do elenco para rezar.
— Acho que isso tem tudo a ver, sabe? Não lembrava quanto tempo antes eu não pisava em uma igreja. Quando a gente está jogando algo para o mundo, ela volta, mais cedo ou mais tarde — finaliza a atriz.