"Em um buraco no chão vivia um hobbit" — com tal frase, J.R.R. Tolkien deu início ao livro que se tornaria O Hobbit, publicado originalmente em setembro de 1937. O sucesso da obra permitiu ao escritor britânico se aventurar em uma saga muito mais pomposa, no que culminou nos três volumes de O Senhor dos Anéis. Os quatro livros, no entanto, que chegaram aos cinemas em duas trilogias épicas, estão longe de dar conta da toda a história da Terra Média, onde são ambientadas.
A nova série da Amazon Prime Video intitulada O Senhor dos Anéis pretende iluminar mais algumas partes dessa história para o grande público. A produção ainda não tem data de estreia, mas já é ferrenhamente antecipada — são 63 mil seguidores na página oficial do show no Facebook, 88 mil no Instagram e 178 mil no Twitter. Aproveitando este engajamento dos fãs, os produtores decidiram revelar pistas sobre o desenvolvimento da série aos poucos.
Os seguidores mais atentos sabem que os eventos narrados em O Senhor dos Anéis e O Hobbit correspondem apenas ao final da Terceira Era da Terra Média, quando os elfos deixam o mundo dos mortais e tem início um reino de homens, a partir dos descendentes de Aragorn e Arwen. Mas antes disso tudo, antes da descoberta dos hobbits ou mesmo da ascensão de Sauron, a Terra Média já presenciara inúmeras guerras entre o bem e o mal. A nova jornada deve ter início com o surgimento dos famosos anéis.
Os Mapas
A Amazon anunciou ainda em 13 novembro de 2017 que estava adquirindo os direitos globais da televisão para a obra de Tolkien. A ideia sempre foi adaptar às telas novas histórias do professor, ao invés de tentar rivalizar com os filmes — apenas a trilogia original de Peter Jackson arrecadou quase US$ 3 bilhões e conquistou 17 estatuetas do Oscar.
"Sharon e a equipe da Amazon Studios têm ideias excepcionais para trazer para a tela histórias previamente inexploradas com base nos escritos originais de J.R.R. Tolkien", disse Matt Galsor, representante da Tolkien Estate and Trust e HarperCollins, a AFP à época do acordo.
Pouco mais de um ano depois, após muitas especulações — que incluíram um boato sobre a produção explorar o passado de Aragorn —, o perfil oficial da série divulgou um mapa interativo da Terra Média. Com o passar dos dias, vieram outros. E, até março, já haviam pessoas obcecadas em descobrir o que cada novo detalhe nas imagens poderia significar.
Os mapas, unidos aos versos utilizadas para legendar as imagens — direto das primeiras páginas de Senhor dos Anéis, que descrevem a função de cada um dos anéis do poder — demonstraram que a Segunda Era será o foco da nova produção. O período marca a queda de Númenor, uma espécie de Atlantis do universo tolkiano, assim como a forja dos anéis por Sauron, que é parcialmente derrotado após uma aliança entre homens e elfos.
As informações deste período estão espalhadas em diversas obras de Tolkien, que não chegou a publicar o material em vida. As histórias, no entanto, chegaram ao público graças ao trabalho de seu filho, Christopher Tolkien, que organizou os rascunhos do pai e os publicou ao longo dos anos. É possível ler relatos sobre Númenor e a Segunda Era em O Simarillion, Contos Inacabados e nos apêndices de O Retorno de Rei, por exemplo.
Mesmo no passado, a Nova Zelândia foi escolhida mais uma vez para dar vida à Terra Média na adaptação. Baseada em Auckland, a produção utiliza os mesmos cenários famosos nas trilogias anteriores. As filmagens até tiveram início na cidade, em fevereiro deste ano, mas foram interrompidas em março por causa da pandemia de coronavírus.
A Equipe
Alguns meses mais tarde, foi anunciado que J.A. Bayona, conhecido por filmes como O Impossível (2012) e Jurrasic World: Reino Ameaçado (2018), seria o diretor dos dois primeiros episódios de O Senhor dos Anéis. "J.R.R. Tolkien criou uma das histórias mais extraordinárias e inspiradoras de todos os tempos. Mal posso esperar para levar o público ao redor do mundo para a Terra Média e fazer com que eles descubram as maravilhas da Segunda Era, com uma história nunca vista antes", declarou Bayona em suas redes sociais.
Foi uma questão de tempo até toda a equipe técnica ser revelada, em um vídeo divulgado pela Amazon, que fez questão de destacar o trabalho dos profissionais em outras produções de sucesso como Game of Thrones, Westworld e até a trilogia original de O Senhor dos Anéis. Os showrunners são J.D. Fayne e Patrick McKay.
Para dar conta do time premiado, assim como os efeitos especiais, é especulado que a série chegará a custar até um bilhão de dólares para a Amazon — apenas os direitos à obra de Tolkien, por exemplo, foram um quarto deste valor. O valor, no entanto, não parece assustar o estúdio: em novembro de 2019, eles já confirmaram uma segunda temporada para o show.
O ator Elijah Wood, que interpretou Frodo Bolseiro nos cinemas, demonstrou seu espanto com a cifra em entrevista ao Indie Wire. "Isso é loucura para mim. Não teria acontecido naquela época [dos filmes] porque o Tolkien Estate não sabia o que eles tinha, tanto quanto agora. É tudo um produto do mundo em que vivemos. Agora eles sabem o que têm, sabem como é lucrativo."
O Elenco
"Uma grande jornada é definida por seus viajantes. Conheça os primeiros membros da nossa sociedade", destacou o perfil da série em janeiro de 2020, compartilhando a seguir uma lista de atores já confirmados na produção: Robert Aramayo, Owain Arthur, Nazanin Boniadi, Tom Budge, Morfydd Clark, Ismael Cruz Córdova, Ema Horvath, Markella Kavenagh, Joseph Mawle, Tyroe Muhafidin, Sophia Nomvete, Megan Richards, Dylan Smith, Charlie Vickers e Daniel Weyman.
Aramayo, de 27 anos, participou de quatro episódios de Game of Thrones, como Ned Stark. Já Ismael Cruz Córdova, 33, participou de um dos episódios de The Mandalorian, série de Star Wars da Disney +, como Qin. Nazanin Boniadi, por sua vez, participou de Homeland.
Apesar de terem sido divulgados nomes dos personagens que alguns dos atores interpretaram em audições para os papéis, especula-se que tenham sido pseudônimos para evitar que a informação vaze, uma vez que nenhum dos nomes citados é conhecido na obra de Tolkien. Embora exista a possibilidade que alguns novos personagens sejam incluídos na série.
Além do elenco principal, a série certamente precisará de figurantes, o que resultou em uma situação peculiar em junho. De acordo com uma publicação no The Guardian, uma agência de talentos na maior cidade da Nova Zelândia, Auckland, publicou um anúncio no Facebook requisitando atores com aparência desagradável. Eles listavam como desejável queimaduras faciais, membros "muito magros", cicatrizes de acne, maçãs do rosto profundas, linhas faciais, ossos perdidos, olhos grandes e rostos magros. Os responsáveis não confirmaram que se tratava uma chamada para trabalhar na nova série, contudo, seus perfis haviam exibido no passado que eles estão trabalhando na nova adaptação de O Senhor dos Anéis.
Apesar da Nova Zelândia já ter revogado as restrições a atividades por causa da pandemia do coronavírus (que está controlada no país), a produção da série está atualmente suspensa e deve retornar apenas no próximo mês, de acordo com o New Zealand Herald. As previsões inciais são de que a primeira temporada seja lançada em 2021, com oito episódios.