Lembrada até hoje por ser “a novela da Sandy”, Estrela-Guia chega ao catálogo do Globoplay nesta segunda-feira (6) como parte do projeto de relançamentos de antigos títulos no serviço de streaming. A associação não é por menos: Cristal, personagem vivida pela cantora na trama das seis da Globo, foi escrita sob medida para ela. Na época com 18 anos, Sandy já tinha domínio dos palcos, mas pouca experiência na TV, restrita apenas ao seriado teen Sandy & Junior (1999).
— Foi uma realização enorme, eu tinha um sonho de fazer uma novela. Foi muito bom, divertido, um grande aprendizado e me realizou muito como pessoa e artista — diz Sandy em material enviado pela Globo.
Além de ampliar o currículo da cantora, a autora Ana Maria Moretzsohn retratou um tema pouco explorado em novelas: misticismo, astrologia e a vida branda de comunidades hippies, contrapondo à rotina corrida e consumista da cidade grande. Coincidência ou não, o assunto acabou casando com as outras duas novelas que estavam no ar naquela época: às 19h, a ajuda celestial de Um Anjo Caiu do Céu e, às 21h, a influência de Iemanjá em Porto dos Milagres.
Estava escrito
O romance entre Cristal e seu padrinho, Tony (Guilherme Fontes), é o centro do choque cultural de Estrela-Guia: enquanto ele é um homem urbano, que só pensa em trabalho, ela foi criada com outros valores na calmaria de Arco da Aliança, uma fictícia comunidade alternativa do interior.
Kalinda (Maitê Proença), mãe de Cristal, descobre que os dois estão conectados pelo destino ao fazer o mapa astral da filha quando criança. A previsão acaba se concretizando 15 anos depois: a jovem reencontra Tony, a quem não via desde a infância, após ficar órfã. Na nova vida no Rio de Janeiro, os dois acabam se apaixonando.
— Ela é uma menina que tem uma sabedoria interna muito grande e transmite isso nas atitudes. Mesmo sendo ingênua, inocente por nunca ter lidado com o lado mais difícil da vida, as maldades das pessoas, a parte mais cruel, os interesses e tudo mais, ela ainda assim tem uma força muito grande e um caráter muito grande – destaca Sandy.
Seu lado artista também foi explorado na novela com suaves mantras cantados pela personagem. Ao se mudar para a cidade grande com Tony, Cristal desperta a atenção do produtor musical Guilherme (Gabriel Braga Nunes), que quer apostar na jovem como cantora. Ela também balança o coração de Bernardo (Thiago Fragoso) e é seduzida por Carlos (Rodrigo Santoro).
Nas ruas do Rio, também aparece o parceiro de palco e irmão de Sandy. Na novela, Júnior Lima deu vida a Zeca, um jovem de origem pobre que deixa o Nordeste em busca do sustento da família. Para conseguir dinheiro, faz malabarismo na sinaleira até ser descoberto pela produtora de Guilherme.
A vida em comunidade
Estrela-Guia foi gravada em Pirenópolis, cidade no interior de Goiás que foi referência para o movimento hippie no Brasil a partir dos anos 1970. Os atores também fizeram aulas de astrologia, antropologia e sociedades alternativas – Fernanda Rodrigues, que viveu a jovem Sukhi, aprendeu a fabricar joias e a jogar tarô.
A fictícia Arco da Aliança foi inspirada na comunidade alternativa Frater Unidade, em atuação na cidade. A novela reproduziu seus hábitos e costumes, como artesanato, culinária, ritmo de trabalho, divisão de tarefas e prática da meditação.
Através do médico e mestre espirital Purunam, personagem vivido por Nelson Xavier, Estrela-Guia falou sobre o uso de plantas para cura de doenças, contrapondo as medicinas tradicional e alternativa.
Já Hanuman (Marcos Winter) e Kalinda, pais de Cristal, mostram na trama a realização de um sonho que já deve ter passado na cabeça de muita gente: largar a rotina corrida para viver de uma forma mais calma, leve e livre. É o ser mais e ter menos, ideal que vem sendo colocado em xeque no mundo pandêmico de 2020.
— Tem tudo a ver com o momento que estamos vivendo, em que a gente questiona o que é mais importante nessa vida. A novela fala muito disso, de como é importante perceber que os valores humanos são o que realmente importam. Não é dinheiro, só a carreira, não são os interesses comerciais. É o que é mais essencial mesmo, que é a questão humana e por que estamos aqui — concluiu Sandy.