Uma boneca machucada. Assim estava descrita a sua personagem quando Danielle Winits recebeu o roteiro de Eu, a Vó e a Boi, série do Globoplay inspirada na briga entre duas vizinhas que viralizou na internet, se transformou em um roteiro de televisão nas mãos de Miguel Falabella e ilustra um Brasil dividido e truculento.
A atriz interpreta Norma, personagem com uma extensa descrição: abandonada pelo marido, cria os filhos sozinha, trabalha de madrugada como recepcionista de uma boate LGBT e vive sendo presa por arrumar confusão na noite, para alegria de um policial trans que possui uma "apaixonite" por ela. Tudo isso em meio às brigas e artimanhas de sua mãe Turandot (Arlete Salles) e a vizinha e ex-sogra Yolanda (Vera Holtz), protagonistas da série.
Prestes a pisar em Porto Alegre para duas apresentações da peça Parabéns Senhor Presidente, em cartaz no sábado (7) e no domingo (8), no Theatro São Pedro, Danielle Winits falou, em entrevista ao GaúchaZH, sobre sua participação no seriado.
— Foi uma experiência fantástica, avassaladora e incrível. Parece que ela (Norma) vai quebrar a qualquer momento, apesar de toda fortaleza. A Norma realmente teve que ser muito forte para criar esses meninos no meio daquela loucura que é a vida daqueles personagens. Ela é uma mulher de vanguarda — disse, animada.
Cinza, mas brilhante
A semelhança de sua personagem com uma boneca não é só visual, mas também interpretativa. Além dos vestidos cheios de pompa e brilho e seus cabelos loiros armados, Norma parece ser frágil até ao falar e se locomover, batendo nas quinas das mesas, dormindo o tempo todo no sofá de sua casa e torcendo o pé diversas vezes por conta do salto alto.
Seu figurino chamativo contrasta com a fotografia pálida de Eu, a Vó e a Boi, que possui em diversas cenas um pano de fundo cinza e gelado para ilustrar o ódio entre as protagonistas.
— O pano de fundo é cinza, o local é cinza, mas as cores explodem, é uma estética especialíssima. Eu sou suspeita para falar — disse a atriz, em meio a risadas.
Danielle Winits considera Eu, a Vó e a Boi uma série diferenciada e contemporânea, por relatar a polarização da sociedade atual por meio das figuras de duas vizinhas que se odeiam, possuem um discurso truculento, não argumentam entre si e agem uma contra a outra.
— O texto é questionador. Acho que Eu, a Vó e a Boi é necessária. Falar da fragilidade dos caráteres, da importância disso hoje em dia... Porque você é capaz de destruir uma vida com a falta de caráter se você não entende que ele é básico para o ser humano, é o mínimo que você pode ter, até para você mesmo ser feliz — concluiu a artista.
A primeira temporada de Eu, a Vó e a Boi possui 12 episódios. Na semana passada, a Globoplay liberou apenas seis. Não há previsão para a estreia da outra metade. E, segundo Danielle Winits, os artistas ainda não receberam a confirmação de que o seriado terá uma segunda temporada. Motivo de apelo da atriz aos telespectadores:
— Eu fiquei com vontade de mais. Fica a dica para que as pessoas assistam para que a gente possa dar continuidade a essa história. As pessoas podem achar que, pelo nome, é uma comédia. Mas, na verdade, é uma história de vida, um exemplo para muitas pessoas.
Sobre Eu, a Vó e a Boi
Em 2017, Eduardo Hanzo compartilhou no Twitter a história de uma relação de 60 anos de inimizade, ódio e rancor entre sua avó e a vizinha dela. Depois de se espalhar pela internet, a história chegou até Miguel Falabella, que misturou realidade e ficção para dar origem à série de humor.
As atrizes Arlete Salles e Vera Holtz são as protagonistas e vivem a "avó" e a "boi", respectivamente. O "eu" do nome do seriado é o jovem Roblou, neto das duas senhoras, que já perdeu as esperanças de ver a família em paz. Ele é o narrador que apresenta a história e os personagens, cada um com suas arrobas (perfis das redes sociais) e hashtags que caracterizam cada um deles.