Uma história inusitada contada por Eduardo Hanzo em seu perfil no Twitter, em 2017, deu partida ao projeto materializado em Eu, a Vó e a Boi, nova produção original do Globoplay que estreia nesta sexta-feira (29) na plataforma. O relato ácido sobre a inimizade de duas senhoras, uma delas avó do autor, chegou às mãos de Miguel Falabella, responsável pela redação final da atração.
Com algumas adaptações, o texto de Hanzo foi transportado para 12 episódios ambientados na Tudor Afogado, rua do subúrbio carioca dividida por uma vala.
O vão ilustra a rixa que opõe duas vizinhas: Turandot (Arlette Salles) e Yolanda (Vera Holtz), a Boi (apelido dado pela rival) — agora ambas são avós do jovem chamado Roblou (Daniel Rangel).
— Hoje temos um país sentido, dividido. O discurso é sempre da truculência. E isso é o que as duas avós fazem nessa história: não argumentam, agem uma contra a outra. São situações engraçadas, mas por trás desse humor as coisas são ditas — conta Falabella.
Viúvas e aposentadas, as duas viram a inimizade ganhar força após seus respectivos filhos, Norma (Danielle Winits) e Montgomery (Marco Luque), trazerem Roblou ao mundo.
Romance
Uma das principais batalhas delas se dá quando Turandot tenta tomar da Boi a presidência da associação de moradores.
As personagens vivem situações que beiram o absurdo:
— São todos alucinados, com relações alucinadas. São fatias de emoção, e os personagens reagem aos estímulos das situações propostas. É como se fosse a toca do coelho da Alice, em que a gente mergulha e vai viver em um universo paralelo — compara.
A vizinhança em que a série se passa também é palco para as tensões entre Turandot e Yolanda. Na Cabello Lanches, o único funcionário, Dimundo (Alexandre Barbalho), sempre tem um comentário inoportuno sobre a vida dos clientes. O neto das protagonistas, Roblou, é o narrador da história e tenta mostrar que o amor pode sobreviver mesmo em um ambiente de grandes diferenças. Ao longo dos episódios, ele se apaixona por Demimur (Valentina Bulc). A garota, no entanto, é bailarina e sonha com uma carreira internacional, o que dificulta o namoro. Além do romance, o seriado se propõe a mostrar a realidade da juventude brasileira, em diálogo do próprio Roblou diretamente com o público.
— São muitos textos falados para a câmera, muita narração em off. O Roblou tem uma troca com os personagens e com o público ao mesmo tempo – conta Rangel, que se destacou em Malhação: Vidas Brasileiras (2018).
Para Silvestrini, Eu, a Vó e a Boi faz uma reflexão crítica do Brasil:
— Nosso protagonista está tentando entrar na vida adulta, apesar de toda a adversidade. O Miguel (Falabella) olhou uma pesquisa que dizia que 75% dos jovens do Brasil não têm esperança no país.