Ao completar 15 anos de carreira na TV (sua estreia foi em Da Cor do Pecado, em 2004), Romulo Estrela encara o desafio de protagonizar sua segunda novela das sete consecutiva – antes de Marcos, na atual Bom Sucesso, ele foi Afonso, em Deus Salve o Rei (2018). Em entrevista, o maranhense de 35 anos avalia seu sucesso como o bonitão da trama das 19h, sua relação com a leitura e com a finitude da vida, a repercussão de suas polêmicas cenas de nudez e ainda dá pitaco sobre a complexa vida amorosa da mocinha do folhetim, Paloma (Grazi Massafera), por quem seu personagem é perdidamente apaixonado.
Bom Sucesso apresenta uma mensagem reflexiva sobre a morte. Como você lida com esse tema?
Hoje, eu lido de uma maneira mais tranquila com a morte. Eu não tenho medo, até penso nisso, mas não é uma coisa que fica me rondando. Na verdade, eu já venho trabalhando isso há alguns anos, o entendimento de que algumas coisas têm um fim. Isso se deu muito pelas relações que eu tive com meus pais (Sebastião Estrela Filho e Helena Estrela). Eu moro há mais de 15 anos fora de São Luís (no Maranhão) e vejo meus pais sempre no final do ano. A gente sabe, e quem ainda tem pai vivo sabe: que bom seria se a gente aproveitasse ao máximo – independentemente de conflitos, de questões – o tempo perto dessas pessoas. Tive meus pais sempre presentes e sinto falta dessa aproximação, desse café da manhã que a gente poderia tomar junto, da conversa antes de deitar. Essa novela (Bom Sucesso) veio para amadurecer ainda mais (sua noção de finitude). Sabemos que vamos morrer, é a única certeza que a gente tem. Mas, o que a gente faz com esse tempo? Como a gente gasta esse tempo? E é louco falarmos disso. É real, a gente não pode negligenciar. Caso contrário, deixamos algumas arestas por podar, questões para resolver e, às vezes, são coisas que te acompanham para a vida inteira. Eu, hoje, procuro dar uma atenção redobrada para o que eu faço aqui e agora. Quando eu chego em casa, a minha dedicação inteira é para a minha casa, para o meu filho (Theo, três anos), para a minha esposa (Nilma Quariguasi, 32 anos). E, quando estou no meu trabalho, idem. Eu procuro otimizar meu tempo dessa forma. Fora isso, procuro fazer boas escolhas para não perder tempo e me arrepender. A gente aprende com tudo. Mas é muito importante quando entendemos que o nosso tempo tem um valor e passamos a não gastá-lo de qualquer jeito.
A trama aborda também a empatia, o fato de nos colocarmos no lugar do outro. O que você faria se descobrisse que tem seis meses de vida?
Empatia é fundamental, e acho que é uma das coisas que falta pra gente. Acho que, na correria do dia a dia, a gente tem deixado de olhar para o outro e, às vezes, de se reconhecer no outro. Eu aproveitaria bem o meu tempo com as pessoas que me cercam e que são um alicerce para mim: meu filho, minha esposa e meus pais. Hoje, sou eu quem tenho o meu filho sentado, tomando café comigo. Mas é bom também ser filho, não perder isso. É que não se pode ter tudo!
Em algumas cenas, você aparece com pouca – ou nenhuma – roupa, fato que gerou repercussão de cara. Como é lidar com isso?
Na verdade, eu fiquei um pouco surpreso. Eu fiz uma cena em que o Marcos chega na casa em que a Paloma está trabalhando (em Búzios, na primeira semana da novela), e a toalha cai, é engraçado. Eu acho que ele é um cara cheio de liberdade e é um personagem que, se está com a camisa aberta ou fechada, não é uma preocupação. Ele é muito bem resolvido com essas questões, não tem maldade. Até mesmo por ele estar nesse cenário de mar, areia e sol. É um cara livre, se ele está vestido ou de sunga, para ele é igual.
Mas o frenesi foi grande. Isso assustou você?
Talvez, por ter feito trabalhos em que estou sempre muito vestido, a galera nunca viu o Romulo contemporâneo (risos). Mas essa é a ferramenta do meu trabalho: meu corpo. Eu fiz Entre Irmãs (2017), um filme belíssimo, pelo qual eu, particularmente, tenho uma paixão enorme, e há uma cena de nu. Meu corpo é uma extensão do meu ofício, é uma ferramenta de trabalho, e isso, para mim, é uma coisa muito natural. Esse personagem (Marcos), por acaso, está nesse lugar. Foi só uma cena, mas que vai se repetir. Eu estou feliz e estou lidando bem com isso. Tomara que o público também faça isso (risos).
Sobre esse assédio do público, como a sua esposa lida com essas situações? Rola ciúme?
Minha mulher é uma grande companheira de vida e uma grande admiradora do meu trabalho. A gente exercita muito isso em casa, trabalha junto! Ela trabalha com formação e criação de marcas, lida de uma maneira muito tranquila com isso. Inclusive, me ajuda nos momentos de criação dos personagens. Às vezes, eu tiro dúvidas com ela, que é bem participativa no meu trabalho e muito tranquila como companheira também. A gente tem ciúme, porque faz parte da relação, para nutrir uma relação saudável. Mas não é um ciúme doentio, e isso nunca existiu. Acho que é por isso que a gente está junto e se entende tanto. Ela tem o espaço dela, e eu tenho o meu espaço. Nosso casamento tem mais de 10 anos.
Vai haver um triângulo amoroso entre Paloma, Marcos e o pai dele, Alberto (Antonio Fagundes)?
Não apostaria minhas fichas aí (no triângulo amoroso), mas acho que cada um vai ter o seu momento. Paloma vai ter o momento de entender que tipo de relação ela quer para a vida dela. Para falar a verdade, eu adoro essa personagem (Paloma). Ela representa muito a mulher de hoje: tem jornada tripla, não abaixa a cabeça, vai para a luta, reconhece que está sozinha e que está tudo bem assim. Mas não deixa de cobrar o que acha que é direito dela cobrar. Ela entende que vai morrer e fala: “Pera aí, tem um monte de coisa que eu não fiz ainda. Me deixa fazer”. A Grazi (Massafera) está fazendo lindamente essa personagem. E eu fico feliz de participar disso. Sem dúvida nenhuma, a Paloma vai entender, no momento certo da trama, o que é importante e o que ela quer, o que quer dar vazão, qual relação quer para ela. O que eu posso dizer é que o Marcos vai lutar por isso, ele quer isso (a relação com Paloma). Ele respeita o amor, respeita o pai, tem paciência, mas vai lutar por isso, vai atrás dessa relação.
Marcos, a pedido do pai, volta a trabalhar na editora Prado Monteiro e mantém um laço estreito com a literatura. Qual é a sua relação com os livros?
Eu acho que a nossa sociedade é bem carente em relação à literatura. Mas a forma como a literatura chega para a gente, na infância, é muito torta. Quando vou ler para o meu filho de três anos, a história, às vezes, está só resumida. Resumir uma história é difícil, pois pode mudar o contexto. Acho que a literatura começa nesse lugar, na infância. É ali que você cria bons leitores. Hoje, a gente tem uma série de dispositivos diferentes, e isso é ótimo. Como isso vai impactar a gente daqui há 20 anos, ainda não sabemos, mas, até lá, se você tem liberdade para ler, para ter acesso à literatura, leia, pois isso forma a nossa sociedade, nosso caráter, nossa cultura. Eu li muito pouco na minha infância e na minha juventude. Comecei a ler porque senti necessidade disso para a minha profissão. Normalmente, eu leio livros mais técnicos ou de entretenimento. Para mim, é muito fácil me relacionar com a leitura, uma vez que estou fazendo uma novela e tenho de 35 a 40 páginas para ler por dia. Mas é uma leitura diferente. Nós temos que nos preocupar um pouco mais em incentivar a leitura e lembrar que existe um prazer em ler. Claro, às vezes, não se dá no primeiro livro nem no segundo, mas se você insiste nisso e faz disso um hábito, é uma delícia sentar e gastar duas, três horas com um livro.
Marcos é o seu segundo protagonista em uma novela das sete (o anterior foi Afonso, em Deus Salve o Rei, em 2018). Como é viver essa sequência?
Nada é fácil! É consequência de trabalho, de fazer um trabalho bem feito. Eu me dedico muito e procuro fazer da melhor maneira possível. A gente está falando de uma obra aberta (novela), que exige uma atenção, um cuidado, uma vigília até na hora em que acaba, até na hora em que você faz a última cena.
Como tem sido a troca com Antonio Fagundes?
Eu estou amando! A gente troca pouco porque, quando ele está lá (no estúdio de gravação), grava muito ou está lendo. É bom porque ele passa isso para o elenco. Mas já trocamos (experiências) em vários lugares. É sempre bom admirar e ver ele trabalhando. É um ator que eu respeito, por quem tenho muita admiração e estou nutrindo um carinho muito grande. Espero estar aprendendo (com ele) até o fim desse trabalho.
E como é atuar ao lado da Grazi Massafera?
É uma grande companheira de trabalho. Tive o maior prazer em conhecê-la. Determinada, dedicada... A gente está muito empenhado em mostrar uma história linda para o público.
*Viajou a convite da Globo.
Do time dos “descamisados”
Nos anos 1990 e 2000, as tramas das sete foram marcadas, basicamente, por histórias leves e descontraídas, além da presença de galãs musculosos circulando sem camisa na telinha. O autor Carlos Lombardi imortalizou o perfil do “descamisado da novela das sete”, personificado pelos personagens Bruno (Humberto Martins), Raí (Marcelo Novaes) e Ralado (Marcelo Faria), em Quatro por Quatro (1994), Tatuapu (Claudio Heinrich), em Uga Uga (2000), e Esteban (Marcos Pasquim), em Kubanacan (2003): homens cheios de confiança e com pinta de super-heróis.
Em Bom Sucesso, os autores Rosane Svartman e Paulo Halm resgataram esse tipo clássico dos folhetins ao retratarem Marcos, que, com sua alma boêmia e solar, enfrenta a vida sem medo e, literalmente, de peito e de camisa abertos.
O jogo vai virar
Em sequência prevista para ir ao ar a partir do dia 31, em Bom Sucesso, já separada de Ramon (David Junior), Paloma vai viver sua segunda noite de amor com Marcos. Tudo começa quando a costureira aceita viajar com o filho de Alberto para Búzios. Lá, eles passam a noite juntos. No dia seguinte, a moça vê várias ligações perdidas no celular. Ao retornar, descobre que Alice (Bruna Inocencio) foi parar no hospital por conta de uma intoxicação alimentar. Paloma, então, decide voltar para o Rio, e Marcos a leva de carro. O rapaz estaciona na porta da casa dela:
– Chegamos. Saímos da Terra do Nunca e aterrissamos em Bonsucesso.
– Obrigada, preciso ir ver a Alice – responde a costureira.
– Espera. Você não disse que ela já tá bem aí dentro? É que ficou um gostinho de “quero mais” – provoca Marcos.
– Não sei se vai ter mais, Marcos. Não tem como. No trabalho, eu não quero, acho um desrespeito com o seu Alberto.
E também tem as crianças – corta Paloma.
Ele, então, pergunta se pode, pelo menos, abraçá-la. Paloma permite e, neste momento, Ramon observa tudo pela janela. Quando a costureira entra em casa, Glória (Lana Guelero) reclama:
– Se não fosse a gente cuidando dessa menina... Você estava onde que custou esse tempo todo para chegar?
– Estava com o Marcos. Não é isso, Paloma? – questiona Ramon.
– Isso tem importância agora, gente? Eu quero saber da minha filha. Ela está bem? – desconversa Paloma.