De "Emmy Of Thrones" para "Emmy of Phoebe Waller-Bridge". Indicada em sete das principais categorias, Game Of Thrones tinha tudo para ser a grande vencedora da noite do Emmy 2019 em número de prêmios. Porém, só levou dois canecos para a casa. Quem ganhou a cena e dominou a premiação mais importante da televisão norte-americana foi Fleabag, que conquistou quatro canecos e consagrou Phoebe Waller-Bridge como um dos grandes nomes da comédia televisiva.
Tragicômica, Fleabag acompanha a história de uma mulher solteira, dona de um café e viciada em sexo que, externamente, está sempre flertando com o público. Porém, usa isso como máscara para esconder a dor, a vergonha e a culpa diante da morte da melhor amiga e dos problemas familiares.
Em cinco pontos, saiba por que vale a pena assistir a Fleabag, série da BBC e disponível pela Amazon Prime Video no Brasil.
1. Phoebe Waller-Bridge
Fleabag é sinônimo de Phoebe Waller-Bridge (PWB, para os íntimos). A série é baseada em um monólogo interpretado e escrito pela própria para o teatro. Tanto sucesso fez na Inglaterra que rapidamente foi adaptado para a televisão.
A atriz e dramaturga ganhou, na noite deste domingo (22), como Melhor Atriz, Melhor Direção, Melhor Roteiro e Melhor Série — todos na categoria das comédias, uma das mais disputadas do ano. Desde 2008, com Tina Fey e a série 30 Rock, uma artista não ganhava, no mesmo Emmy, as categorias de Atriz e Roteiro em comédia. Nem a própria Phoebe acreditava que não teria mãos suficientes para levar tantos troféus para casa. Assista ao vídeo abaixo:
Dona de um humor ácido e desconstrutivo, PWB também levou seu brilho para o roteiro de Killing Eve, que foi lembrada no Emmy 2019 na categoria de Melhor Atriz em Série Dramática com Jodie Comer. Ela também será responsável por levar um toque de humor ao cinema no 25º filme da franquia de ação 007, além de já ter participado de Han Solo: Uma História Star Wars e a A Dama de Ferro.
2. Chorar de rir ou rir para não chorar?
Um dos dons de Fleabag é nos fazer chorar de tanto rir. No entanto, em alguns episódios, temos que rir para não chorar. Em outro momento, também choramos de tristeza mesmo. A mistura de drama e comédia, de uma forma trágica e irônica, nos leva a situações completamente imprevisíveis. A protagonista, interpretada por Phoebe, não tem um nome fixo: por vezes é chamada de "ela", por vezes de Fleabag mesmo, expressão britânica usada para identificar uma pessoa desagradável.
Logo nos primeiros episódios, notamos mesmo que ela não é fácil de se relacionar: vive indo e voltando com o namorado, uma pessoa dramática e sensível, e tem problemas em lidar com o pai, a irmã, o cunhado e a madrasta (interpretada divinamente por Olivia Colman, vencedora do Oscar e futura Rainha da Inglaterra em The Crown). As duas, aliás, vivem se alfinetando e protagonizam uma das histórias mais hilárias do seriado com o furto de uma estátua de uma mulher nua e sem cabeça.
Além disso, a protagonista precisa conviver com a perda da mãe e da melhor amiga e ex-sócia, que aparece na série em flashbacks do passado e na figura de um porquinho-da-índia, animal de estimação que ficou sob seus cuidados.
3. O padre
A relação de Fleabag com o Padre (interpretado por Andrew Scott e chamado de Padre mesmo) é um dos pontos altos do seriado. Nossa protagonista desenvolve um crush pelo religioso que vai casar seu pai e sua odiada madrasta e começa a frequentar a igreja só para ficar mais perto do moço. Junto, acaba por aflorar também seu lado espiritual.
Aqui, mais uma vez Phoebe desconstrói o personagem nos mostrando um padre bem diferente do que estamos acostumados: ele bebe, fuma, fala palavrão e é charmoso. O desejo pelo proibido dá o tom de toda a segunda temporada da série.
4. Quebra da quarta parede
Phoebe Waller-Bridge conversa com o telespectador durante Fleabag. Inspirada no monólogo do teatro, a protagonista quebra o famoso conceito da "quarta parede" para falar com o público durante os diálogos com os outros personagens.
Basicamente, ela olha para a câmera e faz comentários, em sua maioria irônicos e engraçados, mas que dão dinamismo aos diálogos, por vezes rápidos, cheios de sentimentos e de duplo sentido. Para citar um exemplo, durante uma conversa com sua irmã, Fleabag olha para a câmera e diz: "Ela vai dizer isso". Aí a irmã diz exatamente o que ela falou. Ela olha para a câmera novamente e fala: "Eu avisei".
Porém, na segunda temporada, há uma certa confusão com a técnica, porque, diferentemente dos outros personagens, o Padre começa a perceber que ela conversa com a câmera, de um jeito que nem a própria protagonista entende.
No final da série, o conceito é muito bem explorado para dizer aos telespectadores algo como: "Não me siga, também estou perdido". Apesar da Amazon querer uma continuação, o seriado não deve ter uma terceira temporada, segundo a própria Phoebe.
5. Curta e rápida
Duas temporadas, seis episódios cada com, no máximo, 25 minutos de duração. Fleabag é curta e ótima para maratonar. Eu mesma terminei a série em menos de 48 horas.
Mesmo sendo rápida e classificada como comédia, Fleabag não é uma série para distrair a cabeça. Por trás do riso, há choro, angústia e sofrimento. Em vários momentos, a protagonista aparece rindo e chorando ao mesmo tempo. Ou chorando e rindo. Uma trama intensa e altamente identificável com nossos próprios dramas e anseios.
Apenas: assistam a Fleabag.