Depois de ter sido cenário de um episódio da segunda temporada da série Sense8, da Netflix, a cidade de São Paulo voltará a aparecer em outro sucesso de audiência do mesmo serviço de streaming americano.
A capital paulista será o pano de fundo de uma das três histórias da quinta safra de episódios de Black Mirror, com estreia marcada para a próxima quarta-feira, dia 5 de junho. Quem quiser ver a paisagem da metrópole como cenário da produção, conhecida por seus diversos retratos distópicos do século 21 e pelo uso de tecnologia, deve ficar atendo ao último episódio.
Mas não espere uma cidade futurista com carros voando ou nada parecido. Dirigido por Owen Harris, Striking Vipers, como é chamado o capítulo, fala sobre o reencontro de dois amigos de faculdade e parece ser uma das tramas menos calcadas em questões tecnológicas. No elenco estão os atores Anthony Mackie, Yahya Abdul-Mateen II, Nicole Beharie, Ludi Lin e Pom Klementieff.
O trailer praticamente não permite ver a cidade, mas é possível extrair de uma rápida passagem pelas imagens do personagem central e sua família ao menos um cenário eles habitam uma casa de subúrbio rico, em um ponto aparentemente mais elevado, e no horizonte surge o skyline.
As equipes de filmagem da série — que tem histórias autônomas que podem ser vistas em qualquer ordem — esteve na capital paulista em março e abril do ano passado. Eles gravaram numa série de locações, entre eles a sede deste jornal, com um time que somou cerca de 150 profissionais, tanto brasileiros quanto estrangeiros.
Estão na lista dos lugares que receberam as filmagens o viaduto Santa Ifigênia, as avenidas das Nações Unidas e Chucri Zaidan, o heliponto do edifício Copan, o edifício Louvre — ambos marcos arquitetônicos do centro —, um hotel e o restaurante D.O.M. Os porta-vozes da casa do chef Alex Atala, porém, não confirmaram que o lugar foi mesmo usado como um dos cenários.
Há cláusulas nos contratos firmados com a Netflix que determinam sigilo sobre todo o conteúdo do seriado. Outro cenário — importante dizer que São Paulo não será necessariamente mencionada e nem são garantidos enquadramentos com paisagens reconhecíveis — é um apartamento no edifício Três Marias, na avenida Paulista.
Por que São Paulo? A Netflix ainda faz mistério sobre essa escolha. No último Rio2C, série de debates sobre o audiovisual realizado no fim do abril, o criador de Black Mirror, Charlie Brooker, esquivou-se de perguntas sobre as gravações na cidade. No entendimento dele, seria spoiler revelar qualquer informação a respeito.
O que deve marcar os novos episódios é uma atmosfera mais otimista em relação ao futuro, segundo ele. Até aqui, Black Mirror mostrou soldados que, com implantes na córnea, confundiam seres humanos com insetos gigantes e os metralhavam, ou pessoas presas em criações de natureza bastante opressora, como um aparato tecnológico para o qual seria possível transferir os nossos pensamentos.
Houve ainda um casal de mulheres que se tornam amantes em um jogo virtual que reproduz a atmosfera dos anos 1980, e só ali elas encontram a sua felicidade.
Para além das especulações sobre como São Paulo deve aparecer em um desses novos capítulos, há uma outra questão: estaria a cidade se abrindo cada vez mais a novas produções internacionais?
Segundo a Spcine, que é quem constrói essa ponte desde 2016, quando começou a atuar, a cidade recebeu 40 produções internacionais — entre filmes publicitários, documentais e ficcionais — que foram gravados em espaços públicos da capital. Não há contagem de períodos anteriores.
Entre 2016 e o ano passado, o número de produções estrangeiras em São Paulo mais que dobrou. Foram 6 há três anos, que subiram para 10, em 2017, e depois para 18, no ano passado. Em 2019, sete produções estrangeiras já pisaram em solo paulistano.
Hoje, segundo a cineasta Laís Bodanzky, diretora da Spcine, a empresa disputa com outras cidades ser locação para uma série do ator Keanu Reeves.
— A gente negocia com eles quase diariamente — diz Bodanzki, sem revelar o conteúdo da série nem o perfil de paisagem que interessaria a Reeves.
Entre as produções internacionais cadastradas pela Spcine, está a série francesa Crime Time - Hora de Perigo sobre um ex-policial militar, que gravou em 2016 no parque Ibirapuera, no Theatro Municipal e no viaduto do Chá, entre outras locações.
Também veio para cá HaMerotz LaMillion. A versão de Israel do reality show americano The Amazing Race gravou, por exemplo, no estádio do Pacaembu e no Mercado Municipal, entre outros, em dezembro do ano passado.
Segundo Bodanzky, atrair produções internacionais é interessante para a cidade por razões econômicas ela cita impostos, geração de emprego e utilização de serviços da cidade e também para tornar São Paulo mais conhecida.
— Você exporta um imaginário sobre a cidade. Um bom exemplo é Nova York. Muita gente nunca pisou lá, mas conhece a cidade — afirma.