O TEXTO A SEGUIR CONTÉM SPOILER
Natural de Bento Gonçalves, Fredy Somavila, 30 anos, morava na Irlanda em 2015 quando foi abordado por um sujeito entregando panfletos no centro de Dublin. Ainda arranhando o inglês, tentou recusar, mas ele insistiu:
— You got style (você tem estilo, em tradução literal).
Ruivo, barbudão e cabeludo, Fredy estava sendo prospectado para ser figurante — ou “extra”, como chamam por lá — de Vikings, seriado que está na quinta temporada e, no Brasil, passa no canal Fox Premium. Durante a filmagem, ficou sabendo que estavam selecionando centenas de figurantes para a última temporada de Game of Thrones.
Inscrito e selecionado, o viking da serra gaúcha foi de mala e cuia para Westeros (para Belfast, na verdade, onde o seriado é filmado) para viver um nortenho de Winterfell e, depois, um selvagem na maior batalha da série, contra o exército do Rei da Noite. Ele conversou com a reportagem de GaúchaZH na manhã desta segunda-feira (20), passado o embargo que o impedia de dar entrevistas.
É comum “importarem” figurantes para as séries?
Tem muitas pessoas do meu perfil por aqui. Mas é mais difícil pessoas locais participarem por causa da disponibilidade. Se você tiver um emprego fixo, não consegue ir quando eles chamam. Não é uma coisa de segunda a sexta. Primeiro, tem uma fase de treinamento. Aprender os gestos, a manejar a espada e tudo mais. Aí, sim: eles chamam hoje, depois chamam daqui a duas semanas, depois rola filmagem e não chamam. Você fica meio de sobreaviso. Como estou inscrito em três agências, agora eles me chamam direto, para séries, comerciais, etc.
No caso de Game of Thrones, vocês entendem o que vai acontecer na cena que estão gravando?
Mais ou menos. Porque os extras não chegam muito perto dos atores quando rolam as cenas principais. Eu tinha alguma noção do que ia acontecer não pelo que eu via, mas pelo que os outros extras comentavam. Porque, se tiver uma pessoa, essa pessoa vai fazer fofoca. Aí, por mais que eles se preservassem, soube que a Missandei seria assassinada, que a Arya iria matar o Rei da Noite, mas isso era sigilo. Se vazasse dali e eles descobrissem quem havia sido, esse cara nunca mais trabalharia em nada. O final era impossível de descobrir pois eles gravaram sete diferentes. Ninguém sabia quem realmente sentaria no trono.
Você deve ter gravado muita coisa que não apareceu, não é frustrante?
Não, é legal. Acho legal assistir para ver se os amigos aparecem, também. Já assisti quatro vezes a essa temporada para achar as pessoas. Eu apareço em dois momentos do primeiro episódio: atrás do Cão de Caça, quando a comitiva chega a Winterfell, e logo depois, olhando pra cima quando passa o dragão. Também estou lá embaixo quando o Tyrion conversa com a Sansa em cima dos muros de Winterfell.
Como foi gravar a Batalha de Winterfell?
Eu era um selvagem. Foi uma loucura, foram 25 dias de gravação de batalha. O problema é que era muita fumaça. No fim das contas, não apareceu quase ninguém por causa disso. Tinha dias em que a gente mal conseguia enxergar, parecia uma neblina. Ainda assim foi fantástico porque fiquei muito próximo do Tormund na luta. Era para eu ter aparecido quando eles queimam os corpos da batalha, mas a cena acabou sendo cortada. Só mostraram o Ser Jorah queimando.
Vi pelo perfil que você é bem gremista. Não gritou um “Dale, Grêmio” em nenhum momento?
Claro. Eu gritava “Grêmio!” o tempo todo (risos). Um grupo de brasileiros tentou combinar uns “Vai, Corinthians!” também, mas óbvio que não deu para ouvir nada no meio da gritaria.
E como fã, o que você achou do final da série?
Cara, que final bom. Se o Jon não matasse a Daenerys, ele ia perder todo mundo, porque as irmãs dele não iriam se ajoelhar para a rainha. Então, acho que ele fez por um bem maior. O mundo perfeito era perfeito apenas na cabeça dela. Muito massa ele chegando em Castle Black para cumprir a penitência dele e abraçando o Fantasma. Achei muito, muito massa. Queria que ele fosse rei, mas achei o final perfeito e o melhor episódio da temporada.