A falta de infraestrutura para atender ocorrências de incêndio motivou os gaúchos Adilson da Silva Lopes e Delaide Machado, bombeiros voluntários em Butiá, a se inscreverem no quadro The Wall, do Caldeirão do Huck. Eles foram selecionados e conseguiram angariar R$ 232, 554 mil com um único objetivo: investir na corporação.
O programa foi ao ar neste sábado (18), mas foi gravado entre setembro e outubro do ano passado. O prêmio, depositado em dezembro, permitiu que os bombeiros comprassem uma caminhonete de resgate, um carro para funções administrativas e o bem mais precioso: o caminhão de combate a incêndios. Eles também adquiriram uma estrutura metálica para construir uma nova sede em nome da corporação — hoje, estão baseados em uma casa de madeira que lhes foi cedida.
Fundada em 2010 e formada por cerca de 30 integrantes, todos eles voluntários, a corporação de bombeiros em Butiá atende também a Minas do Leão, a 10 quilômetros da cidade — juntos, os dois municípios somam cerca de R$ 30 mil habitantes.
Os voluntários atuavam com apenas uma ambulância e um caminhão velho. Toda vez que ocorria um incêndio, precisavam acionar uma empresa que emprestava um caminhão-pipa, o que dificultava a agilidade no atendimento.
— A gente não tem incentivo do poder público. Nossa verba é só do pedágio — reforça Adilson.
Aos 41 anos, ele trabalha como higienizador do Hospital Fêmina, em Porto Alegre. Viajou em outubro ao Rio de Janeiro ao lado dos também bombeiros voluntários Delaide, 45 anos, e Henrique Rupp, 31 anos, para gravar o The Wall. O quadro funciona da seguinte forma: os jogadores precisam responder a perguntas para poder manipular bolas em um grande painel dividido por valores. Quanto mais perguntas corretas, mais chances têm de ganhar uma quantia alta.
— Eles não querem dinheiro para eles. Eles vieram aqui para conseguir recursos para o trabalho voluntário que fazem em Butiá — admirou-se Luciano Huck.
Adilson foi responsável pelas respostas, enquanto Delaide organizou as bolas para jogar no painel. Henrique ficou na plateia torcendo pelos colegas. O apoio emocional foi necessário: quando Adilson errava as perguntas, um valor era subtraído da quantia conquistada.
Delaide sofria diante da plateia, chegando a se ajoelhar no chão e a espremer uma mão na outra. Quando o parceiro acertava, vibrava:
— A gente veio para incendiar o programa, não para apagar incêndio — comemorava a voluntária.
Cidade guardou segredo por sete meses
Havia uma condição no contrato do programa: que os vencedores mantivessem o prêmio em segredo até o programa ir ao ar, o que ocorreu somente sete meses após a gravação. Em dezembro, com o dinheiro na conta e a necessidade de comprar os veículos, Adilson entrou em contato com a direção do Caldeirão: teria de ser honesto com os moradores da cidade, informando de que jeito uma corporação tão precária havia conseguido dinheiro para um caminhão de combate, por exemplo.
O esclarecimento foi autorizado e Butiá tomou conhecimento da vitória dos bombeiros voluntários. Para o presidente da corporação, Joel Maraschin, os novos equipamentos fazem com que os integrantes fiquem com o "coração a mil".
— Mudou nossa história. Vivíamos apenas de doações, pedágios solidários, sem apoio do poder público. Demos um salto — reconheceu Maraschin.
Embora tenham comprado uma estrutura metálica que funcionará para abrigar a nova sede, os bombeiros aguardam que a prefeitura de Butiá ceda um terreno onde possam erguer a base. Adquirido em um leilão, o caminhão de combate ainda não está a postos: passa por reparos para que seja utilizado.
De acordo com Adilson, os R$ 232,544 mil que conquistou para a corporação foram o segundo maior prêmio na trajetória do The Wall. Duas dentistas são as responsáveis pelo maior prêmio: elas ganharam R$ 426.646 que serão revertidos em um projeto social. A façanha do bombeiro voluntário demandou mais intuição do que conhecimento.
— Chutei tudo — reconheceu o gaúcho no programa.