Muita gente costuma criticar reality shows como o Big Brother Brasil. As razões variam, mas há sempre um motivo que acaba se sobressaindo: as conversas, muitas vezes consideradas fúteis, dos participantes. No BBB 19, fofocas, conchavos e barracos continuam, mas um novo assunto surgiu entre as conversas dos brothers: temas sociais.
A turma composta por Rodrigo, 41 anos, Gabriela, 32, Danrley, 20, e Rízia, 25, todos eles negros e alguns com origem humilde, costumam protagonizar momentos em que as conversas na casa ficam sérias. É quando versam sobre racismo, violência urbana, desigualdade social e outras questões ligadas aos direitos humanos.
Para a jornalista Cosette Castro, doutora em Comunicação para o Desenvolvimento Regional pela Cátedra de Comunicação da UNESCO/Universidade Metodista de São Paulo, uma casa que abre as portas para pessoas que defendem bandeiras de causas sociais não foi por acaso: reflete o desejo da Globo em posicionar-se a favor de minorias.
— A Globo está fazendo uma campanha de respeito à diferença. Respeito à cor, respeito à diversidade sexual, respeito à escolha de gênero. É uma campanha bem forte que está fazendo, há um ou dois anos. Com a violência que a gente tem visto nas ruas contra negros, contra o público LGBT+, a emissora tem se posicionado com matérias quase diárias contra o feminicídio — observa.
Nas redes sociais, os fãs chegam a dividir os integrantes do BBB 19, levando em consideração contextos econômicos e sociais. O grupo formado por Gabriela, Rodrigo, Rízia e Danrley, além de Hana, levou a pecha de Baile da Gaiola — já os brothers com perfil mais privilegiado economicamente foram enquadrados no grupo Villa Mix, festival de música que, pelo valor dos ingressos, costuma atrair pessoas com maior poder aquisitivo.
Veja alguns debates que chamaram atenção:
Desigualdade social
Nascido em uma das maiores favelas do Brasil, a Rocinha, no Rio, Danrley, se divide entre o estudo de Biologia em uma universidade pública e a venda de picolés nos finais de semana. Em uma conversa com Gabriela e Rodrigo, mostrou compreender a dificuldade em entrar em uma universidade sendo um rapaz de origem pobre.
— Minha professora de matemática pagou para eu fazer uma prova e eu passei (...). E essa professora, agora na faculdade, me deu o computador dela e um livro melhor. No terceiro ano do Ensino Médio, eu estudava de manhã e, à tarde, fazia estágio na Justiça Federal. Boa parte da galera fazia pré-vestibular, era mais suave, tinha mais condições de comprar um material. Eu trabalhava a tarde inteira e chegava em casa à noite. Foi assim durante quase todo o Ensino Médio. Meu professor de Física, vendo o meu esforço, falou com ex-alunos dele de um colégio particular, pediu material e deu para mim, para estudar para o Enem. Cada livro "sinistro" e caro para "cacete".
Racismo
Negra e adotada, Gabriela tem um discurso afiado com os movimentos sociais. É a primeira a se posicionar quando alguém dentro da casa comete uma gafe sobre questões raciais e de gênero.
Quando Tereza e Isabella passaram a defender que havia racismo reverso - que é quando o branco alega sofrer preconceito racial por parte do negro -, não demorou muito para que Gabriela intervisse com suas lições.
— Você não sabe como mulher branca, de olho claro, também passa racismo — disse Tereza, apontando para Isabella.
— Racismo vem de um sistema de opressão. Para nós, negros, sermos opressores, a gente tinha que estar no poder. E não estamos no poder. Entendeu? Para existir o racismo, vocês teriam que, os antepassados de vocês, [passar por] 300 anos de escravização de brancos. Deveriam ter vindo navios negreiros com brancos.
Rízia ajudou a colega:
— Racismo é quando sofre por causa da cor.
Gabriela também já explicou a Paula o teor racista em expressões muito utilizadas, como "cabelo ruim" e "humor negro". E Rodrigo já deu um discurso sobre o processo de embranquecimento adotado no Brasil em séculos passados - período em que surgiu o termo "pardo". Confira:
Porte de armas
Sintonizado com os fatos do país que rolam fora da casa, Danrley discorreu sobre um tema polêmico: porte de armas. Posicionou-se contra a possibilidade de a população tentar conter a violência por conta própria.
— Se matar bandido fosse acabar com alguma coisa, cara, hoje já não teria mais bandido, porque o tanto de gente que já morreu... Tem outro jeito: é a educação — defendeu o brother.
Confira: