Em janeiro deste ano, o ator e diretor Jorge Fernando, que morreu por volta das 20h deste domingo (27), aos 64 anos, vítima de uma parada cardíaca, conversou com GaúchaZH. Na entrevista, ele relembrou quando sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC), em 2017 — na ocasião, o medo da morte fez o veterano acreditar que não voltaria para o que se dedicava havia mais de 45 anos. "Com isso você repensa a sua vida, suas ações. O nosso jeito, às vezes egocêntrico. Foi um período muito difícil, mas tive o apoio integral da minha família, de meus amigos", afirmou. Leia abaixo a reportagem:
Aos 17 anos, em meados de 1972, Jorge Fernando dava indícios de que o sangue artístico corria pelas veias. Ele transformou em monólogo a peça Zoo Story, de Edward Albee, e passou a encená-la em escolas, praças públicas, barcas e ônibus do Rio de Janeiro, sua cidade natal. O sucesso foi tanto que, em 1978, o espetáculo A História do Zoológico (assim batizado em português) passou das ruas para o palco do Teatro de Bolso Aurimar Rocha, no Leblon.
A jornada ascendente estava traçada. O jovem foi convidado pelo diretor André Valli para trabalhar na montagem de A Rainha Morta. Pouco tempo depois, em 1978, entrou para a Globo como ator, no seriado Ciranda Cirandinha. Passou para o cargo de diretor na emissora carioca em 1980, na novela Coração Alado, de Janete Clair. O currículo, de lá pra cá, acumula uma extensa lista de trabalhos na televisão, no teatro e no cinema. Em um desses momentos do ofício, o revés aconteceu.
— Uma sensação horrível. Sempre fui daqueles arianos que nunca iam ao médico, achando que era o Super-Homem. No meio do ensaio do Vamp (musical que comandava ao lado de Diego Moraes), fiquei todo torto, com o lado todo paralisado — relembra ao contar sobre o episódio difícil: quando sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC), em 2017. As incertezas em relação ao futuro vieram à tona. O medo da morte fez o veterano acreditar que não voltaria para o que se dedica há mais de 45 anos.
— Com isso você repensa a sua vida, suas ações. O nosso jeito, às vezes egocêntrico. Foi um período muito difícil, mas tive o apoio integral da minha família, de meus amigos —comenta.
Dois anos se passaram desde o fatídico dia, a recuperação continua — com sessões de fisioterapia e fonoaudiologia — e o retorno aos sets de gravação finalmente chegou. Jorge Fernando assumiu a direção artística de Verão 90, novela das sete que estreia nesta terça-feira (29), na Rede Globo. A trama, escrita por Izabel de Oliveira e Paula Amaral, gira em torno da história romântica do trio João (João Bravo/Rafael Vitti), Manuzita (Melissa Nóbrega/Isabelle Drummond) e Jerônimo (Diogo Caruso/Jesuíta Barbosa). Os personagens faziam parte do grupo infantil Patotinha Mágica nos anos 1980 e, após a separação, se reencontram na década de 1990.
— É sobre o que já vivemos. Tem o baixo Leblon, o posto 9, as raves, orelhão, ficha de telefone, tudo muito presente e muita música. O barato da história é que tem a Pop TV, que é meio a MTV da época. A gente vai usar muito clipe de passagens, com cenas de jornalismo, e vai aparecer cantores, como a (Maria) Betânia, o Tim Maia e outros artistas que compõem a trilha — antecipa o diretor. A temática tem um gostinho especial para ele. O motivo são as lembranças de trabalhos marcantes realizados nessa fase — a mesma de pano de fundo para Verão 90 —, como Guerra dos Sexos (1983), Brega & Chique (1987), Que Rei Sou Eu? (1989), Deus Nos Acuda (1992), entre outros. Em comum, a grande maioria foi exibida na faixa das sete.
— Eu era o rei do horário — garante. — Está sendo uma delícia (dirigir a novela Verão 90). Sinto que é uma homenagem à minha carreira, à minha trajetória — completa.
Dentro do estúdio
Quem vê o sorriso no rosto não pensa que, por trás da fama de brincalhão e bem-humorado, reside um profissional exigente. Nem mesmo o período forçado de pausa desde sua última participação, em Êta Mundo Bom!, em 2016, fez com que antigas características fossem amenizadas. Quando entra em cena — de forma escondida para o grande público —, disciplina é a regra.
— Sou uma pessoa comprometida, profissional e exijo o mesmo de todos. Não suporto atrasos. Pontualidade, por exemplo, é algo que deve ser respeitado sempre. Eu cobro isso. É essencial para um trabalho leve e tranquilo. Precisamos pensar no bem comum de todos — pontua.
Os próximos meses terão rotina intensa, mas Jorge Fernando parece preparado para aguentar o tranco. Substituiu a alimentação, parou de fumar e passou a fazer check-ups regulares. Tudo para se adequar à realidade de atenção redobrada com a saúde. A atriz Claudia Raia, amiga pessoal há décadas e colega em Verão 90 — no papel de Lidiane —, é uma das que cobra os exames. Precauções essenciais no intuito de seguir em frente com vigor na temperatura máxima. E o próprio decreta:
— Quero continuar trabalhando e não parar tão cedo.