Por trás do misterioso Eric de Pega Pega há o talento de Mateus Solano. Na novela das sete, exibida pela RBS TV, o ator ganhou um jeito sério e uma maneira fria de agir, bem diferente da personalidade de seu simpático intérprete. Versátil, dessa vez ele dá vida ao viúvo que tem problemas com a filha adolescente, foca apenas no trabalho e redescobre o que é viver ao se apaixonar por Luiza (Camila Queiroz). No entanto, o caminho da felicidade do empresário não será fácil por causa do furto dos 40 milhões de dólares, do qual é um dos suspeitos.
Na entrevista a seguir, o ator de 36 anos fala sobre a relação do personagem com os negócios, do trauma de Bebeth (Valentina Herszage) por causa da morte da mãe e da preparação para o papel. Além disso, Mateus acredita que abordar a ética na novela é uma ótima oportunidade para discutir o assunto com leveza e comenta a torcida do público por vilões como o popular Félix, que interpretou em Amor à Vida (2013/2014).
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Em Pega Pega, Eric é um homem ambicioso, que vive para o trabalho. Isso pode mudar por causa do relacionamento com Luiza?
Eric vê uma oportunidade boa no mercado de ações, compra, quando está em baixa, e vende, quando fica em alta. É assim que ele lida com a vida e não só com os negócios. Tudo é meio tratado como um objeto descartável. Mas isso realmente dura pouco na trama, porque o amor que ele sente pela Luiza vai fazer desabrochar outro lado dele, que estava escondido desde a morte da ex-mulher.
Aliás, a morte da esposa é um dos mistérios da trama. Qual a principal consequência dessa perda para o personagem?
Essa morte causou um profundo trauma na filha dele, com a qual ele não consegue lidar. O Eric não tem estofo emocional para isso. Esse é o principal motivo para ele focar tanto no trabalho. Mas o amor pela Luiza e toda a questão do hotel mexem com ele.
Como você vê o comportamento da Bebeth?
A principal questão da Bebeth é psíquica. Ela é uma vítima disso tudo e até quando tem uma situação em que é mais pedante com o pai é tudo defesa. Na verdade, ela é uma pessoa frágil que precisa de ajuda e se defende dessa forma.
Como foi a sua preparação para a novela?
A gente (o elenco) fez uma preparação muito bacana com o Eduardo Milewicz. Criamos uma intimidade funcional que conseguimos acessar antes da cena. Isso é algo que a Globo, cada vez mais, vem dando valor. Antes era "Oi! Tudo bem? Como vai?" e, de repente, era um par romântico. A gente não se olhava no olho, só cumpria o papel.
Pega Pega é uma novela que além do romance e da comédia também fala de ética. O que acha disso?
Vivemos em um momento tão complicado que esse assunto dá pano pra manga para muita trama, né? O jeitinho brasileiro é um desses temas. Todo esse cenário é uma ótima oportunidade, porque a gente aponta muito para o outro e nunca pra si. Somos os cidadãos corruptos, que votaram em políticos corruptos, que continuam poluindo o dia a dia. Se a novela conseguir abordar isso, mesmo que de uma forma leve, vai cumprir algo a mais do que entreter.
O público, cada vez mais, torce pelos vilões nas novelas. O Félix mesmo, apesar das atrocidades que fazia, conquistou o carinho das pessoas em Amor à Vida. O que pensa sobre isso?
A gente não pode ser vilão no dia a dia. Eu falava muito isso quando interpretei o Félix, que fazia tanto sucesso. É um cara que dizia tudo o que não podemos dizer. É o que temos vontade de falar quando estamos cansados e olhamos alguém enviesado, querendo jogar aquela raiva que não tem nada a ver com a pessoa. O vilão tem essa liberdade que a gente não possui.
Você acha mais difícil interpretar o mocinho ou o vilão?
Nunca tratei nenhum personagem meu como mocinho, vilão, gay, gêmeo... A condição sexual não define um ser humano. Cada pessoa é um indivíduo mágico e a minha paixão é buscar isso e não se ele é bom ou mau. Isso é apenas uma das características. Eu procuro a humanidade.