Político calejado em atuar nos bastidores, ele costurou acordos até se tornar vice-presidente da República, articulando depois o impeachment que derrubou o principal mandatário do país e instalou-o no centro do poder, ao lado de sua bela primeira-dama, a despeito das permanentes turbulências institucionais e da desconfiança de boa parte da população. Essa história passou na televisão também na ficção: House of Cards, série produzida pelo serviço de TV por streaming Netflix, chega a seu quinto ano acompanhando a trajetória de ambição desmedida de Frank Underwood (Kevin Spacey), congressista do Partido Democrata dos EUA capaz de qualquer barbaridade para alcançar seus objetivos. Os 13 episódios da nova temporada estão disponíveis para assinantes a partir de terça-feira – mas Zero Hora já assistiu à maratona inteira e assegura que, para deleite dos fãs, nossos malvados favoritos voltaram em boa forma. O trailer oficial adiantou antes um diálogo que Frank tem com a mulher Claire (Robin Wright), em que revela o plano de perpetuar os Underwood dentro da Casa Branca – pelo menos até a eleição de 2036 –, cunhando ainda um slogan ameaçador: "Uma nação Underwood", parafraseando um trecho da promessa de lealdade à bandeira dos Estados Unidos, que proclama "one nation under God" ("uma nação sob Deus").
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No final da temporada anterior, o primeiro-casal deparava com duas grandes ameaças: o terrorismo fundamentalista islâmico, que degolou um cidadão norte-americano em uma execução transmitida ao vivo pela televisão, e o crescimento da candidatura de Will Conway (Joel Kinnaman), adversário de Frank na disputa pela presidência. Sem revelar spoilers, pode-se adiantar que o seriado retorna com os Underwood e seu cão de guarda Doug Stamper (Michael Kelly) usando todo seu célebre talento maquiavélico para manipular e dissimular a fim de enfrentar esses dois inimigos. No jogo baixo característico do trio, algumas peças ganharão destaque especial, como a assessora presidencial LeAnn Harvey (Neve Campbell) e seu amigo especializado em hackear informações digitais Aidan Macallan (Damian Young), além de dois novos personagens acrescentados à trama: Mark Usher (Campbell Scott, da série Damages), estrategista político da campanha do republicano Conway, e Jane Davis (Patricia Clarkson, de A Sete Palmos), uma misteriosa e bem informada lobista.
Já o primeiro-amante Thomas Yates (Paul Sparks), escritor blasé responsável pelos discursos presidenciais, instalou-se de mala e cuia na Casa Branca, estreitando ainda mais seu relacionamento amoroso com Claire. Por fim, o veterano jornalista investigativo Tom Hammerschmidt (Boris McGiver) segue desconfiado de que a morte da colega Zoe Barnes não foi suicídio e pode ter relação com a administração Underwood. É até onde dá para contar sem revelar os rumos e surpresas do enredo dessa nova etapa das artimanhas do casal Macbeth à americana.
Final da quinta temporada aponta novos rumos
Bem de acordo com o espírito dos protagonistas, uma das principais mudanças de House of Cards deu-se nos bastidores: é a primeira temporada sem Beau Willimon, criador do seriado, no cargo de showrunner, sendo substituído pelos produtores executivos Melissa James Gibson e Frank Pugliese. Essa renovação pode ser a responsável pela retomada do vigor dos dois primeiros anos do programa, concentrando a ação mais na dupla central e dispersando-se menos em enredos paralelos. O recurso narrativo de mostrar Frank falando diretamente para o espectador – novidade bem explorada no começo, mas que estava ficando desgastada – é retomado com a verve e a ironia dos primeiros tempos, inclusive por Claire, que já tinha quebrado a chamada "quarta parede" na temporada passada.
Se as interpretações do elenco principal, com destaque para as soberbas caracterizações de Kevin Spacey e Robin Wright, são um dos pontos de sustentação de House of Cards, a comparação com a realidade acrescenta ainda mais relevância à produção: a prepotência do presidente, a relação ambígua e escusa do governo com a Rússia, o tema da guerra ao terror, a disputa eleitoral conturbada e suspeita de fraude e as repentinas trocas de pessoas de confiança que caem em desgraça da noite para o dia aproximam sem muito esforço Frank Underwood de Donald Trump. Já o final do último episódio, dirigido por Robin, abre a porta para a próxima temporada explorar possibilidades inéditas da supremacia Underwood.
House of Cards
Quinta temporada com 13 episódios disponíveis a partir desta terça-feira.
Netflix