A aguardada estreia do Conversa com Bial ocorreu em alto nível. Cármen Lúcia, presidente do Supremo Tribunal Federal, monopolizou o bate-papo com Pedro Bial e a atriz Fernanda Torres. Mais do que uma conversa propriamente dita – proposta inicial do talk show exposta já em seu título, é bom lembrar –, a atração começou como um convite ao ouvir. A ministra falou, contou piada, fez referências intelectuais e revelou casos do dia a dia. Bial interveio com poucos questionamentos, parecendo ainda tímido na nova função.
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No fim das contas, Cármen brilhou, e Bial se mostrou um bom ouvinte. Essa equação pode ter tirado um pouco da pompa da estreia do talk show substituto de Jô Soares na Globo. Nesse formato, novo na carreira do jornalista, espera-se que o apresentador dê o tom de fato, imprima seu ritmo, tenha uma marca. Bial optou pela posição de bom amigo, não se viu "o show". Mas o talk apareceu. Cármen falou sobre a Lava-Jato, a aposentadoria do ministro Celso de Melo, a possível candidatura de Lula e a corrupção. Se mostrou apaixonada pelo Brasil e por sua profissão de funcionária pública.
– Meus ombros comportam o mundo. Aguentam a esperança do mundo inteiro – afirmou a mineira quando questionada sobre a esperança da sociedade em seu cargo.
A convidada afirmou que a Lava-Jato segue firme, e poucos povos têm a coragem de encarar o problema da corrupção de frente:
– Não admitiremos mais isso porque o direito brasileiro não admite, porque o direito é fruto do que o povo quer, e o povo não quer mais isso. Ponto.
As questões sérias foram permeadas pelo surpreendente bom humor de Cármen. No alto de seus 63 anos, fez o público cair na risada – principalmente ao revelar seus diálogos com os taxistas. Rápida, respondia de forma espirituosa até as questões mais complicadas.
– Vocês homens, em geral, mentem para nós mulheres. Mas a gente faz de conta que não presta atenção – opinou sobre a possível aposentaria de Celso de Melo.
Bial exibiu alguns discursos de Cármen no Supremo, assim como um trecho da entrevista feita por ele com José Mujica, ex-presidente do Uruguai. Trouxe para a roda a discussão das biografias não autorizadas e da liberdade de fala. A mineira relembrou a época em que foi interna em um colégio de freiras, das privações envolvidas, do pouco diálogo. Também comentou do período na faculdade de Direito durante a ditadura militar.
– Não tenho vocação para ser infeliz – disse, taxativa.
Na metade do programa, Fernanda Torres sentou no sofá para participar da conversa. Com ironia, falou da situação de Sérgio Cabral, das políticas públicas e do mau gerenciamento dos recursos. Mas, na prática, foi ofuscada pela performance de Cármen com as palavras, assim como Bial.
– Não estou te deixando falar – afirmou a ministra, constrangida, encarando o apresentador.