Começar uma novela nova é sempre cercada de expectativa. Se para o público é assim, imagina para o autor, que tem a missão de construir um capítulo inicial que seja capaz de fisgar as pessoas. Glória Perez tem esse dom. Desde Babilônia (2015), não se via uma estreia de novela tão intensa e envolvente como A Força do Querer. Fugindo do tradicional, a experiente novelista contextualizou rapidamente seus personagens principais, sem se preocupar com didatismos e já apresentou os principais pontos de tensão de sua trama.
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A primeira fase da novela durou bem pouco, menos de metade do capítulo. Nela conhecemos o casal Eugênio (Dan Stulbach) e Joyce (Maria Fernanda Cândido). Ele, um empresário do ramo da alimentação, está em Belém (PA) com seu filho Ruy fazendo aquela que seria sua última viagem de trabalho antes de deixar a empresa da família para se dedicar à advocacia e ter mais tempo para a família. Ela, uma mulher requintada e rica, que tenta fazer da filha Ivana sua imagem e semelhança. Enquanto percebemos o desconforto da menina ser uma espécie de boneca nas mãos da mãe, vemos Eugênio e Ruy numa travessia em uma pequena canoa por um rio, já no Acre, durante uma tempestade. O menino cai na água e desaparece para desespero do pai. Outro menino, morador da região, tenta salvar Ruy mas os dois acabam se perdendo nas águas do rio. Enquanto as famílias de Ruy e Zeca estão desesperadas, vemos que os dois foram salvos por um xamã que dispara: "a mesma água que os uniu, vai separá-los no futuro".
Também conhecemos Bibi (Juliana Paes), jovem universitária que namora Caio (Rodrigo Lombardi). Ele está sendo preparado para substituir Eugênio na empresa da família. Para isso, abdica do tempo com a namorada em nome de seu futuro profissional. Porém, ela não está satisfeita e termina a relação com ele para se entregar à paixão explosiva e intensa por Rubinho (Emílio Dantas). Com o fim do namoro, Caio desiste do cargo na empresa e decide mudar-se para os Estados Unidos.
Com uma agilidade pouco vista ultimamente, Glória Perez fez a trama saltou cerca de 20 anos para mostrar todos esses personagens na atualidade. Ruy, agora interpretado por Fiuk, está prestes a assumir o lugar do pai na empresa e que fica noivo de Cibele (Bruna Linzmeyer). Zeca, vivido nesta altura por Marco Pigossi, é um caminhoneiro prestativo em sua comunidade. Ivana, que ganha vida na interpretação da estreante Carol Duarte, demonstra não se reconhecer como a filha perfeita de Joyce. E Bibi vive uma vida humilde ao lado de Rubinho, enquanto Caio está prestes a voltar ao Brasil. E ainda conhecemos Ritinha (Isis Valverde), que nada com botos no rio em Belém.
Apesar do ritmo intenso, o primeiro capítulo não teve atropelos. Glória conseguiu a dose certa de adrenalina para fazer com que o público tenha interesse em acompanhar mais da vida desses personagens e dos conflitos que os cercam. Tudo isso, embalado com uma boa direção de Rogério Gomes, que faz sua primeira parceria com a autora. Das mãos dele vemos surgir lindas paisagens do Norte em uma fotografia sem filtros e cheias de cores e embaladas por uma trilha incidental. Também temos um elenco que conseguiu sintonia já na estreia.
Tomara que essa expectativa inicial de uma grande novela seja mantida ao longo dos demais capítulos. Glória já provou em outros trabalhos que consegue isso.